Em um dia, as aulas presenciais foram suspensas, devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus. No outro dia, a professora Beatriz Blanco, do Senac São Paulo, já ministrava o conteúdo de suas disciplinas de maneira remota. Essa agilidade no processo tem uma razão principal: “O Senac sempre buscou a aproximação com a tecnologia, tanto no ensino presencial quanto no EAD”.
Naquele momento, os alunos da instituição já contavam com ferramentas como o Blackboard, que permite ter a visão completa do curso e das disciplinas, enviar e receber material e participar de fóruns de discussão. Pela plataforma, é possível ainda solicitar documentos, fazer avaliações e acompanhar a postagem de comunicados, calendários e informativos.
“Nosso AVA [ambiente virtual de aprendizagem] estava estabelecido antes da pandemia. Sinto que, por isso, minha transição para o ensino remoto foi mais tranquila em certo sentido.”
Segundo ela, sempre houve grande investimento em tecnologia. “É uma característica da instituição”, destaca Beatriz, que coordena os cursos de Tecnologia em Produção Multimídia e em Jogos Digitais e que atua no grupo de trabalho Educação e Tecnologia, uma frente formada por professores para a discussão dessa relação no dia a dia.
Com uma espinha dorsal consolidada e diante das restrições provocadas pela pandemia, professores e alunos passaram, então, a buscar novas formas de comunicação para suprir algumas lacunas. No ensino presencial, por exemplo, Beatriz costumava olhar os computadores enquanto os alunos trabalhavam. Como transportar isso para as aulas síncronas a distância?
Ela conta que o Instagram foi uma das redes sociais usadas para exposições virtuais que, anteriormente, eram realizadas no campus. Os projetos integradores – um diálogo entre o que é aprendido em sala de aula e o que é exigido do profissional no mercado de trabalho – migraram do presencial para eventos realizados pelo YouTube.
“A ocupação do espaço físico virou a ocupação do espaço digital. Nesse sentido, as apropriações [das ferramentas por parte dos alunos] foram grandes inovações”, considera a docente, destacando ter havido incorporação de tecnologias de áudio, texto e vídeo, entre outras.
Alguns formatos, inclusive, se mostraram melhores no sistema virtual do que no presencial. Um dos exemplos citados por Beatriz é o ensino de uso de software. Na sala de aula, ela fazia uma projeção no telão e dava o passo a passo. No ensino remoto, passou a gravar explicações, que poderiam ser assistidas e testadas em qualquer horário, e a fazer mentoria no horário de aula.
Os vídeos, a pedido dos alunos, foram condensados para ter, no máximo, 10 minutos. Assim, ficavam mais leves para download. “A pessoa consegue pausar, ver várias vezes, repetir o processo. Trocando com os alunos, percebemos que algumas coisas se resolvem muito bem a distância.”
Esses aprendizados sobre o que funciona e o que não dá certo aconteciam em diversas direções. Inclusive entre professores, em encontros periódicos, em mensagens por grupos, em reuniões específicas de cada curso e por meio da frente de apoio pedagógico. “A gente sempre teve muito incentivo para conversar.”
Tudo está sendo considerado para um retorno às aulas presenciais, em grupos de trabalho. O formato híbrido, que já vinha sendo discutido antes da pandemia, ganha novos contornos, agora com experiências práticas de quem vivenciou o ensino remoto na pandemia.
MEDIAÇÃO
A coordenadora explica que o aluno ganha autonomia com a apropriação da tecnologia, desde que esse processo seja mediado pelo professor. Em uma época em que a atenção é disputada o tempo todo, “colocar mais um componente traz poucas chances de sucesso”. A possibilidade de o recurso ser colocado de lado é grande.
Uma das maneiras de conduzir esse processo, segundo ela, é por meio de projetos, que são feitos fora do horário de aula, com metas claras e encontros programados para debater o progresso. “Essa transparência é bem importante: falar para o aluno por que ele está fazendo cada coisa e o que é esperado como resultado. Quando há esse trabalho de mediação, eles ganham mais autonomia. Porque aí existe um uso crítico da tecnologia.”
Beatriz é taxativa em relação ao papel da universidade como articuladora, “um espaço importante para entender os porquês”. Não se trata apenas de colocar a aula dentro de uma plataforma, mas mostrar os impactos da tecnologia, suas vivências, como ela se integra com o indivíduo e com a sociedade.
“A universidade fica entre o mercado, a sociedade, a vida cotidiana. A gente tem que ter esse entendimento de posicionar criticamente a tecnologia como transformadora e entender o entrelaçamento. Não ser só pessoas que usam a tecnologia, mas que são propositoras e críticas.”