Aprendizagem contínua vai além da sala de aula

Novo projeto pedagógico do Senac desenvolve competências técnicas e socioemocionais para aproximar a vida acadêmica da profissional

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Antes dos anos 2000, era comum que uma formação de graduação e, preferencialmente, uma pós-graduação fossem suficientes para uma vida profissional inteira. Mas isso é coisa do passado. Hoje, a aprendizagem ativa é a competência mais cobiçada pelo mercado de trabalho, de acordo com pesquisa do Fórum Econômico Mundial com 300 diretores de recursos humanos e de estratégias de empresas globais.

“Não dá para negar que as pessoas precisam aprender o tempo todo”, pontua Vívian Cristina Rio Stella, doutora em linguística e idealizadora da VRS Academy. “Já existiam concepções de educação continuada, mas, se a pessoa não continuar aprendendo, seja na vida ou nos desafios do trabalho, da vida familiar e da pandemia, seja fazendo cursos e certificações, ela não será empregável em pouco tempo.”

Apesar de ser um conceito dos anos 70, o lifelong learning (aprendizado ao longo da vida, em tradução livre) ganhou força na última década e ficou mais evidente durante a crise provocada pelo novo coronavírus, diz a especialista: “A transformação digital e no modelo de gestão das organizações impõe novas habilidades da altíssima liderança e dos funcionários da produção. É neste cenário que se percebe a aprendizagem como uma solução para transformações do mundo contemporâneo e para essa noção de que somos indivíduos que cada vez mais fazemos vários projetos e não apenas uma atividade específica”.

Adotar uma postura de lifelong learner (adepto do lifelong learning) é uma tendência. Segundo o Pew Research Center, 74% dos adultos se reconhecem como aprendizes pessoais, isto é, participaram de pelo menos uma atividade nos últimos 12 meses para avançar seus conhecimentos sobre algo de seu interesse; e 63% dos que estão trabalhando são os chamados aprendizes profissionais, ou seja, fizeram um curso ou um treinamento nos últimos 12 meses para melhorar seus conhecimentos ou suas habilidades no trabalho para alavancar a carreira.

“No passado, a jornada de aprendizagem tinha no diploma a materialização do objetivo principal a ser conquistado. Hoje, a expectativa é que o conhecimento adquirido seja constantemente atualizado, questionado – mas, principalmente, aplicado”, observa Gustavo Tavares, gerente regional para as Américas do Top Employer Institute.

“Muito se fala da capacidade das pessoas em ‘desaprender", que é uma competência conectada com o lifelong learning. O erro de algumas pessoas é se preocupar somente em reter conhecimento, quando a expectativa das empresas passa pela capacidade da pessoa em adaptar o conhecimento a situações novas e conseguir multiplicá-lo com seus pares. A conquista do diploma passou a ser apenas mais uma etapa e não mais o destino da jornada de aprendizagem”, complementa.

Nesse sentido, o lifelong learning levanta um ponto importante a ser discutido: o papel das instituições de ensino. O aprendizado contínuo “é essencial para formar alunos preparados para os desafios futuros”, afirma Enrico Trevisan, coordenador do Bacharelado em Administração de Empresas do Senac, onde, assim como nos cursos de pós-graduação, foram implementadas abordagens metodológicas e pedagógicas para aproximar as atividades de sala de aula ao contexto de atuação profissional.

“Múltiplos projetos – tanto de forma eletiva quanto regular – garantirão não somente uma formação acadêmica dos egressos mais adequada às demandas do mercado de trabalho, mas também a realização de uma trajetória universitária mais flexível, integrando atividades presenciais e não presenciais, de forma a proporcionar maior autonomia do aluno dentro de sua jornada educacional”, explica Trevisan, que também coordena a pós-graduação em Gestão Estratégica de Marketing e Gestão do Consumo e Estratégias Aplicadas.

“Aos poucos, o modelo de ‘um ensina e vários aprendem’ vem sendo substituído por modelos cada vez mais participativos, em que todos os envolvidos ora ensinam, ora aprendem”, diz Tavares. De acordo com ele, 81% das empresas certificadas como melhores empregadoras no Brasil complementam suas estratégias de desenvolvimento com iniciativas de aprendizagem social e/ou voluntária, onde as pessoas são incentivadas a se envolver diretamente no compartilhamento contínuo de conhecimento.

DESAFIOS E OPORTUNIDADES

O lifelong learning é baseado em quatro pilares, segundo a Lifelong Learning Council Queensland (LLCQ), representante global da metodologia:

Aprender a conhecer - desenvolvimento do prazer de aprender

Aprender a fazer - aplicação da experiência pessoal com o conhecimento

Aprender a conviver - interação com outras pessoas

Aprender a ser - autonomia para aprender coisas novas

E suas principais características passam pelo fato de que essa jornada tem que ser espontânea e automotivada. “Achar assuntos de interesse e buscar conectá-los com outros aspectos práticos da vida podem ser uma porta de entrada para esse conceito. Tentar relacionar temas em princípio não conectados, como música e matemática, ou artes e ciências. Quanto mais heterogêneos forem os seus interesses, mais amplas e recompensadoras se tornam as possibilidades de aprendizagem e realização”, exemplifica o executivo do Top Employer Institute.

Uma ação interessante, sugere Vívian, é encontrar no lazer, em momentos de entretenimento, conteúdos que aumentem o repertório e a bagagem. Pode ser assistindo a séries, programas ou filmes, lendo livros e jogando ou brincando com os filhos, entre outras atividades da rotina. “Uma dica: não encare esse processo como um sacrifício ou uma dificuldade – quanto mais leve, mais natural as coisas vão fluir. É preciso estar disposto a aprender algo novo e fazer disso a sua mentalidade.”

Mas, afinal, por que é tão importante manter-se aprendendo? Este é o futuro, o mercado de trabalho está cada vez mais interessado em profissionais que cultivam as competências comportamentais e técnicas, reforçando a importância de compartilhar ideias, ouvir pessoas e criar conexões que expandem os horizontes do conhecimento.

“Sem contar que as transformações em geral têm sido cada vez mais rápidas: o famoso Mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), exigindo de nós essa necessidade pulsante de aprender e reaprender sempre que possível”, finaliza a especialista em lifelong learning.