As transformações nos últimos meses por conta da Covid-19 foram imensas – e envolveram, em boa medida, o mercado de trabalho. O novo coronavírus, no entanto, apenas reforçou tendências que já eram observadas antes dele.
“O mercado já vinha passando por mudanças muito grandes, as quais foram potencializadas pela pandemia”, afirma Rogério Bragherolli, especialista em capital humano e empregabilidade da consultoria Energy People.
Uma das vertentes que ganharam mais velocidade foi a da transformação digital. Procedimentos que antes eram alternativas em termos de comunicação entre profissionais se tornaram obrigatórios, como reuniões por videoconferência e utilização de plataformas para a realização de cursos.
INOVAÇÃO E RESILIÊNCIA
A adaptação exigida do profissional não foi somente em relação ao universo digital. A inovação também se configurou como fundamental. E, aqui, não se trata de invenções de alta complexidade e que exigem investimentos estratosféricos – a verve inovadora se manifesta mesmo em atividades simples do dia a dia. Requer um olhar constante sobre como melhorar processos e rotinas para, muitas vezes, “fazer mais com menos”, reforça Bragherolli.
Afinal, vivemos tempos de escassez de recursos. E tal realidade nos leva a outra característica mais que desejável para o profissional do futuro: a resiliência. “É a capacidade de segurar as pontas, de trabalhar de maneira otimista”, especifica o consultor. O que em geral está associado também a motivação e entusiasmo com a própria ocupação.
EDUCAÇÃO CONTINUADA
Nesse aspecto, estão em jogo as competências comportamentais, imprescindíveis para que o profissional se mantenha em alta no mercado. Isso porque elas favorecem inclusive, e muito, uma qualificação mais técnica, uma vez que estar aberto para o contínuo aprendizado é um dos pilares do perfil buscado pelas empresas. Dessa maneira, a educação continuada deve estar no radar de quem quer elevar a sua empregabilidade.
“E esse processo não é realizado apenas por cursos formais”, ressalta a coach e mentora de carreira Lucedile Antunes, coordenadora e coautora do livro “Soft Skills: competências essenciais para os novos tempos” (Literare Books International, 2020, 288 págs.). “É preciso ser um autodidata voraz, buscar conhecimento em livros, em uma tese de Harvard disponível na internet”, exemplifica.
A coach destaca ainda que a análise do currículo, hoje e daqui para a frente, se detém sobre as suas realizações profissionais, mais do que sobre a formação do candidato. “Os projetos que coordenou, as transformações que empreendeu nas organizações em que atuou”, cita.
Comunicar-se bem também é vital. Embora a pandemia tenha sido um agente contra o convívio presencial, paradoxalmente reforçou os laços entre os indivíduos por ter reforçado a necessidade do “espírito colaborativo” para a superação de obstáculos.
Essa lógica vale também para os processos organizacionais no ambiente de trabalho. “O foco está em metodologias ágeis para produzir melhor em menos tempo, com um custo menor e uma qualidade maior”, ressalta Bragherolli.
DIVERSIDADE E NETWORKING
Dentro das organizações, assim, é cada vez mais comum a realização de projetos em grupos que reúnem profissionais de diferentes áreas da empresa. O objetivo é que as pessoas não fiquem fechadas em seu setor de atuação e sejam mais flexíveis, abrindo-se para a interdisciplinaridade. “A carreira tem mudado muito, não é mais linear, tem um caráter integral, é uma multicarreira”, afirma Lucedile.
Outro valor é evocado por essa dinâmica: o da diversidade. O profissional do futuro – na verdade, o do presente – precisa interagir bem com diferentes pontos de vista e saber como chegar a bons resultados a partir de posições contraditórias. “Não adianta reunir muitas pessoas que pensam igual”, frisa Bragherolli.
O consultor destaca que, mais do que nunca, é preciso cultivar o networking: “Não é necessário ter todas as respostas para todo tipo de problema, mas é preciso conhecer pessoas que apresentem soluções para eles”.
EMPREGABILIDADE SUSTENTÁVEL
Quando a arquiteta e urbanista Marilia Campos se matriculou no curso de especialização em gestão ambiental do Senac em 2015, seu maior objetivo era o de ampliar o conhecimento sobre sustentabilidade em outras áreas além das suas de formação.
Com esse posicionamento, ela já estava totalmente alinhada com algumas das demandas do mercado em relação ao profissional do futuro – estar focada na educação continuada e pensar em uma atuação mais interdisciplinar no trabalho, por exemplo.
O que ela não imaginava era que o curso seria muito benéfico também para o desenvolvimento de competências comportamentais. “O fato de ele exigir apresentações e proporcionar discussões me levou a melhorar a comunicação em reuniões e me atentar para o comportamento profissional”, diz. “Além disso, a especialização ampliou meu networking, até hoje os colegas divulgam cursos e vagas de emprego.”
Marilia chama ainda a atenção para a relação direta do tema da sustentabilidade com as relações interpessoais no trabalho. “Práticas sustentáveis vêm sendo implementadas nas empresas pelos líderes, o que requer inteligência emocional e boa comunicação para treinar e capacitar funcionários com o intuito de alterar e adaptar os modelos tradicionais de organização para atender à demanda ambiental atual”, afirma.
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