Arritmia cardíaca mais comum, fibrilação atrial aumenta em cinco vezes o risco de AVC incapacitante

A doença atinge até 2 milhões de brasileiros; parte dos pacientes necessita de tratamento anticoagulante adequado para prevenir o acidente vascular cerebral

"As doenças cardíacas em geral -e as arritmias em particular- configuram desafios significativos para a saúde pública." A afirmação é do médico cardiologista e professor titular de Cardiologia da PUC Campinas Dr. José Francisco Kerr Saraiva, ao comentar sobre a Fibrilação Atrial (FA), um tipo de arritmia cardíaca que acomete até 2 milhões de brasileiros (principalmente pessoas com mais de 60 anos) e que aumenta em cinco vezes1 o risco de acidente vascular cerebral (AVC), conhecido como derrame.

O especialista ressalta que o AVC causado pela fibrilação atrial é um dos mais graves e pode provocar mais incapacitação e morte do que outros tipos de AVC. "Se não for fatal, pode colocar o paciente em uma cadeira de rodas", alerta. Segundo o médico, para se prevenir da fibrilação atrial é preciso manter a pressão arterial controlada, peso adequado, alimentação saudável, fazer exercícios físicos com regularidade e não fumar. O envelhecimento é também um fator de risco importante -a cada década de idade, as chances de sofrer fibrilação atrial duplicam2.

Parte dos pacientes com fibrilação atrial recebe indicação médica para tomar medicamento anticoagulante de forma contínua. O objetivo é -como se diz popularmente- "afinar" o sangue para que não se formem trombos no coração, evitando seu deslocamento até o cérebro pela corrente sanguínea, o que pode provocar um AVC. Ou seja, o diagnóstico e tratamento adequado são muito importantes.

O problema é que o único medicamento anticoagulante oral oferecido pelo Sistema Único de Saúde, utilizado há 50 anos, exige a realização de exames feitos em laboratório, em intervalos de tempo variáveis, para monitoramento e ajuste da dose. Além disso, o efeito do medicamento, a varfarina, pode ser modificado na interação com outros medicamentos e alguns alimentos. Assim, algo como de metade2 dos pacientes com fibrilação atrial não consegue o controle ideal da anticoagulação com essa terapia.

"É importante que o paciente que não tem boa resposta ao medicamento fornecido hoje pelo SUS não fique vulnerável ao alto risco de um AVC", diz o Dr. Saraiva. Segundo o cardiologista, os sistemas públicos de saúde de países que fornecem ampla cobertura estatal como Canadá, Espanha e Inglaterra já fornecem há anos medicamentos anticoagulantes que podem ser ministrados ao paciente em dose fixa.

São os chamados novos anticoagulantes, entre os quais dabigatrana, apixabana, rivaroxabana e edoxabana. "É fundamental haver uma opção terapêutica para os pacientes com fibrilação atrial que, mesmo usando o medicamento disponível atualmente na saúde pública, não conseguem ter seus parâmetros de coagulação mantidos na faixa adequada para prevenir o AVC e outras complicações graves", afirma.

Além disso, o especialista acrescenta que, entre os novos anticoagulantes, a dabigatrana é o único medicamento oral que possui um agente reversor específico no Brasil, o idarucizumabe, que age revertendo o efeito anticoagulante do medicamento em poucos minutos. O seu efeito é momentâneo, e é indicado para pacientes que apresentam sangramentos incontroláveis ou passarão por cirurgias de emergência, situações em que há necessidade do restabelecimento do processo normal de coagulação do sangue.

"Essa é uma questão fundamental para a adesão à terapia, pois aproximadamente 50% dos pacientes ainda não recebem o tratamento anticoagulante adequado por receio de acidentes ou sangramento", pontua o Dr. Saraiva.

Consulta pública sobre incorporação no SUS

Está aberta até o dia 21 de janeiro a Consulta Pública nº 82 feita pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), em que especialistas e demais cidadãos podem opinar sobre a recomendação inicial do órgão - que é não favorável à oferta de dabigatrana aos pacientes com fibrilação atrial que não conseguem o controle ideal da anticoagulação com o tratamento disponível atualmente na saúde pública.

A consulta pública é um processo democrático para a construção conjunta de políticas públicas entre governo e sociedade, com participação aberta aos cidadãos. Pacientes, cuidadores, familiares, amigos, profissionais de saúde e interessados no tema podem se manifestar pela internet.

No site conitec.gov.br/consultas-publicas, é possível localizar a Consulta Pública nº 82, onde estão os relatórios da Conitec sobre o tema. O formulário de experiência ou opinião está na mesma tela; o preenchimento é simples e rápido.

Após discutir as contribuições recebidas, a Conitec encaminha sua recomendação final ao Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, que decide se o medicamento será incorporado ao SUS.

Fibrilação atrial: fique de olho

A doença se caracteriza por batimentos anormais do coração. Trata-se de uma arritmia que ocorre quando os sinais elétricos do coração falham ("curto circuito") e levam os átrios (câmaras cardíacas superiores) a se contraírem de maneira irregular, deixando o fluxo sanguíneo mais lento.

Devido ao fluxo anormal, essa arritmia -a mais comum em todo o mundo- propicia a formação de coágulos (ou trombos). Estes podem se desprender e se deslocar para o cérebro, provocando um AVC (acidente vascular cerebral) de alta gravidade, que pode ser fatal ou incapacitar o paciente.

Uma pesquisa a respeito da percepção dos brasileiros sobre doenças cardiovasculares realizada pelo Ibope Conecta3 revela que 50% dos pacientes não sabem que têm fibrilação atrial. Os sinais mais comuns incluem palpitações, tontura, dores no peito e falta de ar. O cardiologista José Francisco Kerr Saraiva explica que muitas pessoas não apresentam sintomas, especialmente quando o batimento cardíaco está descompassado sem se tornar muito rápido.

Ainda de acordo com o Ibope Conecta, 63% dos brasileiros nunca ouviram falar em fibrilação atrial, enquanto 99% já ouviram falar em trombose, por exemplo. Como prevenção, além de um estilo de vida saudável, são recomendadas visitas periódicas ao médico, especialmente para quem tem mais de 60 anos. Hipertensão arterial, diabetes, insuficiência cardíaca, tabagismo e consumo excessivo de álcool são fatores de risco que devem acender o sinal de alerta. "O diagnóstico precoce e o tratamento anticoagulante adequado são fundamentais para o bem-estar do paciente e para evitar complicações", enfatiza o Dr. Saraiva.

Para esclarecer as dúvidas da população sobre fibrilação atrial e aumentar a conscientização da importância da prevenção, a Boehringer Ingelheim criou a campanha "O Som do Coração", com apoio da Rede Brasil AVC e da AMAVC (Associação Mineira do AVC). O site da campanha traz informações sobre a doença, assim como um passo a passo para os interessados em participar da consulta pública. Acesso pelo endereço www.somdocoracao.com.br/consultapublica.

Referências:

1. Zimerman LI, Fenelon G, Martinelli Filho M, Grupi C, Atié J, Lorga Filho A, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes brasileiras de fibrilação atrial. Arq Bras Cardiol. 2009;92:1-39 http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2009/diretriz_fa_92supl01.pdf

2. Furberg CD, Psaty BM, Manolio TA, et al Prevalence of atrial fibrillation in the elderly subjects (the Cardiovascular Health Study). Am J Cardiol 1994;74:236-41.

3. Pesquisa "A percepção dos brasileiros sobre doenças cardiovasculares", Ibope Conecta em parceria com a Boehringer Ingelheim.

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