Os desafios enfrentados pelo setor de saneamento básico estão em constante transformação, especialmente em tempos de mudanças climáticas. Isso faz com que, ao lado de recursos financeiros e vontade política, um terceiro elemento seja essencial para o Brasil atingir em 2033 a universalização dos serviços de água e esgotamento sanitário, exigida pelo novo Marco Legal do Saneamento: inovação.
A criatividade de engenheiros e cientistas é ainda mais importante considerando que o Brasil conta com realidades muito diversas nas zonas urbanas e rurais. "As soluções são diferentes em cada uma dessas localidades", afirma a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto.
Segundo a dirigente do instituto, o saneamento urbano apresenta dificuldades específicas e exige soluções de grande porte devido à grande concentração de moradores. Já a zona rural pede alternativas mais localizadas. "Quando olhamos para a área rural, pensamos em soluções como poços para a obtenção de água."
É necessário um cuidado específico com a zona rural, diz ela, devido à presença de muitas nascentes de rios. "Precisamos pensar no estabelecimento de coleta e tratamento de esgoto também nesses locais para que não haja nenhum tipo de contaminação nessas nascentes."
Com essas localidades desconectadas da rede de esgoto em mente, a Tigre, por meio de sua divisão TAE (Tigre Águas e Efluentes), criou o projeto Unifam, um sistema unifamiliar que trata o esgoto no próprio local. "Pensamos em criar um produto com o menor custo e a maior simplicidade e robustez operacional possíveis", diz Ewerton Garcia, diretor comercial da TAE.
"A tecnologia de uma estação de tratamento de esgoto, de ponta, é a mesma presente no Unifam", afirma. "Removemos acima de 95% dos principais contaminantes orgânicos e inorgânicos e também coisas que os sistemas antigos não removem, como nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato, fósforo."
A Tigre usou um sistema que imobiliza e concentra uma quantidade muito maior de bactérias para degradar totalmente a matéria orgânica. A tecnologia, chamada de Biobob, também ataca o lodo gerado no processo, fazendo com que todo resíduo seja digerido dentro do próprio tanque, até o estágio final da matéria.
"É como se tudo que houvesse de carga orgânica ali virasse um grão de areia no final", explica Garcia. "Parece mágica, mas tem muita ciência por trás disso." Ele explica que o sistema libera apenas o esgoto tratado e dióxido de carbono e nitrogênio gasoso para a atmosfera, sem emissão de gás metano e gás sulfídrico.
A Tigre começou a fabricar o Unifam em larga escala em 2018. Já há centenas de unidades instaladas no Brasil, em mais de 15 municípios. Uma unidade custa em torno de US$ 1.200 (R$ 6.500), enquanto equivalentes europeus custam cerca de US$ 5.000 (R$ 27 mil). Uma Unifam pode ser utilizada por até quatro famílias, leva 30 dias para ser instalada e tem vida útil de ao menos dez anos.
SEM DESPERDÍCIO
O Brasil ainda sofre com uma média de taxa de perda de água, devido a vazamentos ou uso irregular, excessivamente alta: 37,8%. Enquanto o país se esforça para chegar à meta de 25% até 2033, novas tecnologias ajudam a combater o desperdício. "Estamos falando de um recurso importante, em áreas com escassez ou estresse hídrico, que temos que preservar", diz Fabiana Castro, head de Infraestrutura e Novos Negócios da Amanco Wavin, cujos principais clientes são companhias de água e saneamento.
Para auxiliar essas empresas e suas cidades a reduzir tamanha perda, a Amanco Wavin oferece Serviço de Gestão das Redes de Água e Esgoto (WNM), que utiliza um software onde diversos dados são processados apontando eventos atípicos na rede.
Munido de inteligência artificial, o sistema produz informações sobre a localização específica de um vazamento, falhas em seus sensores ou problemas com o funcionamento dos equipamentos. "Nós somos a gestão estratégica da companhia, auxiliando-os na priorização de investimentos, reduzindo perdas e aumentando a eficiência operacional", afirma Castro.
Essa mesma tecnologia é usada na manutenção da rede de esgoto. Nesse caso, o mais importante é impedir a contaminação do ambiente.
Segundo Fabiana Castro, o Serviço de Gestão de Redes de Água e Esgoto já deixou de ser apenas um projeto. "Estamos operando com mais de dez companhias públicas e privadas no Brasil." Com uma central de operações na cidade de São Paulo, o monitoramento de redes já é feito em cidades como a paranaense São José dos Pinhais, Sorocaba (SP) e Joinville (SC), além de localidades na Colômbia, no Peru e no México.
SOBRE AS ÁGUAS
Muitas inovações são impostas pela realidade, tanto geográfica como social. É o que acontece em Manaus, onde soluções têm sido adotadas para servir a população de baixa renda vivendo em palafitas.
"A população de Manaus cresceu 25% em dez anos, e foi aumentando o desafio do saneamento", diz Edison Carlos, presidente do Instituto Aegea. As palafitas e as constantes cheias na área impedem a implantação de estruturas tradicionais, com tubulações subterrâneas. "As redes passam muito perto, então a gente leva água até as casas por meio de mangueiras aéreas", explica.
"No caso do esgoto, fazemos sistemas de travamento de concreto, muito fortes, para essa tubulação resistir em situações de cheias e não haver infiltração." A coleta de esgoto em áreas de palafitas já começou, com o serviço realizado na comunidade de Beco Nonato. Moradores descrevem como suas vidas foram transformadas, afirma Edison Carlos. "Alguns disseram que não recebiam visitas em casa havia 20 anos, por causa do mau cheiro."
A concessionária Águas de Manaus, do grupo Aegea, assumiu os serviços na cidade e já realizou mais de R$ 1,2 bilhão de investimentos. No ranking de 2024 do Instituto Trata Brasil, Manaus aparece com 99,49% de atendimento em água. Com relação ao esgotamento sanitário, a capital amazonense chegará a 60% de cobertura em 2027 e 90% em 2033.
Comunidades de baixa renda pelo Brasil afora exigem soluções inovadoras para que o Brasil universalize os serviços de saneamento, diz Siewert Pretto, do Instituto Trata Brasil. "É preciso adaptar a maneira de levar água e coletar e tratar o esgoto nessas áreas." A partir de 2025, tais decisões estarão nas mãos de novos prefeitos, a serem eleitos no pleito municipal de outubro, o que torna ainda mais importante a escolha do eleitor.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha