Alegria de viver é segredo de longevidade dos superidosos

Autonomia, amor e aprendizado são fundamentais para envelhecer bem, com saúde física e mental

A convivência é um dos pilares da construção da longevidade. E a ideia de que a felicidade só é real quando compartilhada faz pensar na rede de apoio que se constrói ao longo da vida. A importância das relações pessoais e da reciprocidade permeou a palestra da antropóloga e escritora Mirian Goldenberg no XV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros.

Autora do livro "A Bela Velhice", há mais de 20 anos Mirian pesquisa os impactos da solidão e os benefícios da convivência no dia a dia dos idosos. Desde 2015, concentra a pesquisa em homens e mulheres com mais de 90 anos, os chamados superidosos. “São pessoas ativas, produtivas, saudáveis, alegres e cheias de projetos de vida”, contou.

Depois de tantos anos de estudo, Mirian consolidou os pontos fundamentais para os idosos, e para todas as pessoas, independentemente da idade, envelhecerem com alegria, saúde, motivação e propósito. “Resumo aqui em três ‘As’: Autonomia, Amor e Aprendizado.”

Ela afirmou que, para os idosos, é fundamental ter autonomia, independência e liberdade de escolher o que querem fazer com o próprio tempo. “O tempo é a principal riqueza para os mais velhos. Eles querem usufruir dele, querem saboreá-lo. Não querem ninguém dizendo o que eles devem fazer, como devem agir ou como gastar o dinheiro.

“O que alimenta a nossa alma, a saúde física e mental, e o que de melhor temos para fazer pelo outro é a reciprocidade. O alimento é o cuidado. É essa troca, esse compartilhar, que alimenta a vida dos idosos de alegria de viver”

Mirian Goldenberg, antropóloga e escritora

Mirian abordou também amor, amizade e afeto: “Essa pandemia deixou ainda mais evidente a importância desses pilares para a saúde física e mental dos idosos e de todos nós.” Ressaltou que se trata de uma relação de troca, de reciprocidade: a família que cuida e é cuidada.

“Tenho escutado dos meus amigos velhos: nunca senti nem recebi tanto amor na minha vida. E nunca dei tanto amor também. Pode ser por telefone, por vídeo. O fundamental é essa conexão profunda e amorosa, que escuta e respeita os desejos e escolhas de cada um.”

Sobre a relevância do aprendizado, a pesquisadora reforçou o interesse dos superidosos em aprender coisas novas todos os dias.

“Desde março, estabeleci a rotina de ligar todos os dias para os meus amigos nonagenários. Com o Guedes, de 97 anos, meu melhor amigo, estudamos "Os Lusíadas", de Camões. Fazemos jogos de memória, ele canta músicas da juventude dele e eu canto as músicas de que mais gosto. Eu cuido dele, ele cuida de mim.”

Mirian lembrou que, como a rotina dos idosos foi interrompida em março, é necessário estabelecer novas rotinas, inclusive de aprendizado. Conversar sobre as séries que estão assistindo, fazer jogos de palavras, ler em voz alta. “O meu maior aprendizado da quarentena é como é importante aprender”, afirmou. E concluiu: “O que alimenta a nossa alma, a saúde física e mental, e o que de melhor temos para fazer pelo outro é a reciprocidade. O alimento é o cuidado. É essa troca, esse compartilhar, que alimenta a vida dos idosos de alegria de viver”.

E encerrou a palestra com o que considera o seu mantra: o jovem de hoje é o velho de amanhã.