“A pandemia ofereceu um desafio para todos nós, e a saúde mental entrou pela porta da frente”, disse o psiquiatra Rodrigo Bressan no XV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros. Nos últimos meses, especialistas de diferentes áreas enfatizaram a importância de cuidar da saúde de forma integral, buscando o equilíbrio físico e mental.
As pessoas estão vivendo uma situação de incerteza jamais vista: sentem-se ameaçadas por um vírus, estão em isolamento social, com incertezas em relação à própria saúde e à de pessoas queridas, preocupadas com a economia, com o trabalho, com os rumos do país. “A todo momento, surge uma notícia nova que exige que a gente se adapte, de novo e de novo. Essa incerteza gera ansiedade. E sair da rotina aumenta essa ansiedade”, afirmou o especialista, que é professor de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e presidente do Instituto Ame Sua Mente.
Segundo Bressan, uma das maneiras mais eficientes para se manter estável e com menos estresse e ansiedade é estabelecer rotinas. Quando temos rotina, o nível de previsibilidade aumenta muito. E, se a pandemia modificou esse cenário, precisamos reconstruí-lo de uma nova forma, adaptada à realidade do momento
“Precisamos entender que o espaço da casa não é mais restrito a descanso e lazer: ele passou a ser também o espaço de trabalho. Quando a gente se reorganiza e cuida de fomentar as nossas relações pessoais, desenvolvemos mecanismos de superação”
Rodrigo Bressan, psiquiatra
“Nós, seres humanos, somos preparados para lidar com a ansiedade. Diante de uma situação de enfrentamento, nosso organismo ativa um mecanismo que gera taquicardia, aumento do fluxo sanguíneo para o cérebro, coração e músculos, respiração mais ofegante.”
O psiquiatra explicou que o organismo está pronto para fazer isso por um curto espaço de tempo. Mas, se essa situação persiste, as pessoas tendem a funcionar pelo pico de ansiedade. “E essa é a nossa forma mais primitiva. É quando apenas reagimos, sem pensar. Isso explica o comportamento de manada, que gera uma corrida para acabar com o papel higiênico do supermercado, por exemplo. Nos contaminamos emocionalmente pela pessoa que está ao lado. E é o que precisamos evitar.”
Mas como não entrar nesse ciclo? Autoconhecimento é o primeiro passo, afirmou Bressan. “Ao entender como reagimos a cada situação, desenvolvemos tolerância. Se reconheço minha irritação como uma limitação, fica mais fácil pensar e retomar o controle.”
Para ajudar a manter a ansiedade nos trilhos, Bressan afirmou que é fundamental estabelecer novas rotinas, controlando os horários de dormir e acordar, de fazer as refeições, organizando as reuniões de trabalho e delimitando horários para cada atividade.
“Precisamos entender que o espaço da casa não é mais restrito a descanso e lazer: ele passou a ser também o espaço de trabalho. Quando a gente se reorganiza e cuida de fomentar as nossas relações pessoais, desenvolvemos mecanismos de superação”, concluiu.