Longevidade é maratona que exige treino, preparo e resiliência

Com o aumento da expectativa de vida, cuidar da saúde física e mental é fundamental para ganhar autonomia e qualidade de vida

Em apenas 15 anos, desde a realização do primeiro Fórum da Longevidade, a expectativa de vida do brasileiro aumentou mais de seis anos, chegando a 76,7 anos. Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR) e consultor de longevidade da Bradesco Seguros, iniciou o XV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, realizado no dia 3 de dezembro, chamando a atenção para a mudança do perfil da população.

O crescimento da expectativa de vida vem redesenhando rapidamente a pirâmide etária e a sociedade. O Brasil, que sempre foi visto como um país jovem, registra um número de idosos cada vez maior. “Em apenas 30 anos, até 2050, um terço da população brasileira terá mais de 60 anos, segundo projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É preciso que a gente se prepare para esse amanhã”, disse Kalache.

Segundo ele, o aumento da longevidade é uma conquista a ser celebrada. “A longevidade deixou de ser uma corrida de cem metros, em que se via aonde se chegaria, e passou a ser uma maratona que exige treino, preparo e resiliência”, disse.

De que adianta viver muito, mas sem saúde, autonomia e qualidade de vida? Para poder usufruir desse bônus de vida longa é importante que as pessoas comecem a se preparar hoje, independentemente da idade. “Quanto mais cedo você começar a se cuidar, maiores ganhos terá na qualidade de vida”, afirmou.

“Em apenas 30 anos, até 2050, um terço da população brasileira terá mais de 60 anos, segundo projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É preciso que a gente se prepare para esse amanhã”

Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e consultor de longevidade da Bradesco Seguros

O médico lembra que esse novo futuro da longevidade que estamos construindo recebeu neste ano uma ameaça inesperada. A pandemia, que atinge a todos, tem um impacto ainda maior entre os mais velhos. Mas fazer parte do grupo de risco não deveria afetar a percepção positiva sobre a longevidade. “É preciso enxergar à frente, sem deixar que as conquistas pelas quais lutamos possam se perder”, afirmou Kalache.

IMPORTÂNCIA DAS CONEXÕES

O Fórum contou com um debate sobre saúde física e mental na pandemia, mediado por Kalache, com a participação do psiquiatra Rodrigo Bressan e do infectologista Edimilson Migowski. Um dos temas de destaque foi a importância do estreitamento da conexão entre gerações — e como essa troca geracional traz avanços para a saúde mental.

"Para o jovem, relacionar-se com os idosos ajuda a lidar melhor com situações imponderáveis, como o envelhecimento e a morte”, disse Bressan. “A máquina começa a dar defeito e o rapaz vê o pai e o avô desenvolvendo estratégias para lidar com aquilo. E aí vem a sabedoria de aprender a conviver com os desafios emocionais. Esse é um dos maiores aprendizados para os jovens”, completou.

Para os idosos, o contato com os mais novos permite a conexão com o mundo. “Os mais velhos que têm abertura para o aprendizado estão usando aplicativos para fazer chamada de vídeo e participar de reuniões virtuais em família. Eles se adaptam e se sentem parte do mundo. Essa troca é fundamental e favorece a saúde mental”, explicou o psiquiatra.

Kalache lembra que a necessidade de isolamento tem sido um desafio para o equilíbrio emocional e para a sanidade mental de todos neste momento. “A ansiedade tem um peso muito grande na saúde. Você tem que mobilizar suas reservas internas para criar resiliência.”

Embora a ansiedade em diferentes graus tenha atingido pessoas de todas as idades na pandemia, Kalache contou que existem estudos mundiais mostrando que os mais velhos costumam lidar melhor com ela do que os jovens. “Os idosos, talvez porque já tenham passado por poucas e boas, conseguem ver uma luz no fim do túnel. E essa luz diminui a ansiedade."

O médico afirma que podemos transformar a ansiedade em algo positivo, dependendo da forma como encaramos os desafios e as adversidades. “Quando você vive em uma sociedade mais resiliente, você também se torna mais resiliente. E isso vira um ciclo virtuoso”, disse.

“Os mais velhos que têm abertura para o aprendizado estão usando aplicativos, fazendo chamadas de vídeo e participando de reuniões virtuais em família. Eles se adaptam e se sentem parte do mundo. Essa troca é fundamental e favorece a saúde mental”

Rodrigo Bressan, psiquiatra

Bressan considera que o grande avanço da saúde mental na pandemia é que as pessoas tiveram o desafio de se responsabilizar pela própria saúde mental. “O ser humano sempre teve uma tendência de culpar o outro pelo seu estresse. Quando nos responsabilizamos por ele, aprendemos a desenvolver estratégias para enfrentá-lo.”

O debate também teve foco na questão da imunidade, outro assunto de destaque em tempos de pandemia. “Nosso sistema imunológico é o resultado do nosso estilo de vida e da exposição a fatores que muitas vezes estão fora do nosso controle”, observou Kalache.

Para ajudar a manter a imunidade alta e a saúde em dia, o infectologista Edimilson Migowski destacou a importância da adoção de hábitos saudáveis. "Manter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física regular, gerenciar o estresse, dormir bem, manter as conexões pessoais e o contato com a natureza são atitudes primordiais para a elevação da resposta imune.”

Ele lembra da importância de controlar os níveis de vitamina D, que tem como fonte principal a exposição solar. “Por conta do confinamento, muitas pessoas não vêm se expondo ao sol como deveriam e podem estar com deficiência nessa vitamina, o que compromete a imunidade."

"Manter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física regular, gerenciar o estresse, dormir bem, manter as conexões pessoais e o contato com a natureza são atitudes primordiais para a elevação da resposta imune.”

Edimilson Migowski, infectologista