A atuação do médico como um organizador, para centralizar e coordenar o atendimento a cada paciente, evitando assim condutas desnecessárias e duplicidade de exames, é um dos caminhos para reduzir os desperdícios na área de saúde.
Um estudo encomendado pela Anahp, a Associação Nacional de Hospitais Privados, mostra que a saúde suplementar teve, entre 2012 e 2017, um aumento de gastos de R$ 49 bilhões (já descontada a inflação do período), impulsionado principalmente pela frequência de uso dos serviços -responsável por 70% desse crescimento.
Apesar do baixo crescimento do número de usuários (0,7%), o total de eventos por beneficiário, como consultas e procedimentos, passou de 21 para 28 por ano no período.
"Hoje o paciente tem à disposição uma gama enorme de especialidades e isso acaba gerando repetição de exames. O ideal seria revisar o sistema, com a presença de um médico organizador, como um médico de família, responsável por centralizar e coordenar o atendimento ao paciente, para evitar duplicidade de exames e ajudar efetivamente a resolver o problema do paciente", afirma Martha Oliveira, diretora executiva da Anahp.
São vários os motivos que levam ao aumento dos gastos na saúde. Segundo Martha, há uma desorganização no sistema, com um modelo assistencial que não prioriza a atenção primária, com a ocorrência de duplicidade de exames e com a falta de um registro único, que contemple todas as informações do usuário. "O cuidado do paciente precisa ser mais coordenado e orientado. "
Segundo Claudia Cohn, presidente do conselho da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), entre as razões para o aumento da frequência de utilização do sistema da saúde, principal causa do aumento dos custos, estão a facilidade de acesso e o envelhecimento da população, que, consequentemente, acarreta o aumento de patologias inerentes à idade, como as doenças crônicas. "Precisamos agora buscar eficiência e isso tem de ser feito com integração, escalabilidade e conversas de todo o setor", diz Claudia.
Para Maurício Lopes, vice-presidente de Saúde e Odonto da Sul América, o grande desafio para resolver o aumento da frequência do paciente a consultas e exames será buscar soluções coesas e de forma coletiva e equilibrada pelo setor. "A discussão precisa ser mais produtiva e menos emocional", afirma.
A falta de um prontuário único que reúna os dados dos pacientes é outro entrave a ser superado para evitar desperdícios na saúde. "Existe hoje uma carência imensa de dados", diz Leandro Reis, vice-presidente da Rede D'OR. "Para discutir frequência, precisamos ter dados do paciente, onde quer que ele seja atendido, e isso se faz com ferramentas eletrônicas de gestão. Elas podem trazer luz para esse desafio", afirma Reis.
Segundo Martha Oliveira, o que precisa ficar claro para todos os envolvidos é que o paciente não é o culpado pelos desperdícios no setor. "Ele sofre com esse efeito. Precisamos de educação em saúde, para mostrar que o paciente é parte do sistema, e temos de aumentar a cultura da prevenção e do diagnóstico precoce", diz Martha.
Médico e Paciente
O papel do médico como o organizador do atendimento ao paciente também foi tema do painel "Educação: O que precisamos para hoje e o que queremos para o futuro dos profissionais de saúde?". Para os especialistas, é preciso rever a formação atual dos médicos, além de tentar garantir um entrosamento entre os cursos de medicina e de enfermagem.
"Os cursos são separados. A escola não ensina, na prática, a trabalhar em conjunto", afirma Irene Abramovich, conselheira e vice-presidente do Cremesp. Gonzalo Vecina, professor assistente da Faculdade de Saúde Pública da USP, concorda. "Não existe mais assistência à saúde sem uma equipe multidisciplinar. Eo SUS e o setor privado não estão preparados para dar prosseguimento à formação desse médico. "