Estudos apontam para um futuro sem fumaça de cigarro

Royal College of Physicians, do Reino Unido, que emitiu parecer comparando o cigarro e alternativas que não queimam o tabaco

Um mundo sem a fumaça produzida pelos fumantes no ato da combustão do cigarro deixou de ser uma ideia utópica. E é exatamente na queima do tabaco do cigarro a temperaturas acima dos 600ºC –o que define, grosso modo, a combustão– que é produzida e liberada a maior parte dos compostos tóxicos ligados ao ato de fumar.

Compostos que não apenas apresentam um risco à saúde do fumante como a das pessoas em seu entorno –o famoso fumante passivo.

É sabido que o melhor para a saúde do fumante sempre é parar de fumar. O consumo de cigarro é uma das principais causas evitáveis de morte no mundo, mas, ainda assim, há pessoas que continuam fumando.

Para essa parte considerável da população, após parar de fumar, a segunda melhor estratégia é reduzir os danos associados à queima do tabaco, optando por novos produtos que chegaram ao mercado mundial nos últimos anos, como aqueles que aquecem o tabaco em vez de queimá-lo e que não produzem fumaça.

Esse tipo de produto, que já está disponível em cerca de 50 países, teve sua comercialização autorizada nos Estados Unidos em abril pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão do governo norte-americano que regulamenta o comércio de alimentos, cosméticos, medicamentos e produtos de tabaco.

No Brasil, a comercialização do tabaco aquecido e de outros dispositivos eletrônicos para fumar, que poderiam ser alternativas ao adulto fumante, está proibida desde 2009. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) realizou audiências públicas no Rio de Janeiro e em Brasília para a discussão do tema, mas ainda não há previsão para conclusão dos debates que possam embasar eventual regulação para tais produtos.

PARECERES

Diversos estudos científicos publicados nos últimos anos têm embasado pareceres de algumas entidades médicas internacionais no sentido de que, para os adultos que de outra forma continuariam a consumir cigarros, a recomendação é substituir tais produtos pelos novos dispositivos eletrônicos para fumar. No entanto, entidades insistem na recomendação: parar é sempre melhor opção, porque tais alternativas não são livre de risco. Da mesma forma, quem não fuma não deve começar a fazê-lo por meio desses novos produtos. Eles são alternativas apenas ao adulto que deseja continuar a fumar.

Nesses estudos constata-se que a substituição do cigarro convencional para essas alternativas libera até 95% menos constituintes nocivos.

A Public Health England (PHE), entidade governamental de saúde da Inglaterra, e o Royal College of Physicians, que representa 36 mil profissionais de medicina do Reino Unido, endossaram esses estudos –fato que levou o governo inglês a lançar uma campanha para que os fumantes que continuariam a fumar cigarros migrassem para os produtos sem fumaça.

Em boletim de 2016 intitulado "Nicotina sem fumaça: a redução dos riscos do tabaco", o Royal College of Physicians (RCP) foi categórico: "No interesse da saúde pública, é importante a promoção do uso de outros produtos com nicotina da maneira mais ampla possível para substituir o cigarro no Reino Unido."

Nas pesquisas que sustentam essas recomendações, a entidade não viu nos cigarros sem fumaça uma porta de entrada para novos fumantes, sejam eles adultos ou jovens - a principal preocupação de entidades médicas e regulatórias em todo o mundo em relação a esses novos produtos. "Nenhum deles atraiu adultos que nunca fumaram, nem representaram uma porta de entrada relevante para a progressão do fumo entre pessoas jovens", conclui o documento.

É importante ressaltar que os especialistas que subscrevem o trabalho enxergam danos no uso continuado do cigarro sem fumaça, mas os avaliam como "substancialmente menores daqueles provocados pelo ato de fumar".

John Britton, consultor do Royal College para tabaco e diretor do UK Centre for Tobacco and Alcohol Studies da Universidade de Nottingham, afirma no documento que "com regulação competente, elas [alternativas que não queimam o tabaco] podem dar grande contribuição na prevenção de mortes prematuras, doenças e desigualdade social em saúde que o cigarro causa no Reino Unido".

Para a reumatologista Jane Dacre, que à época da redação do documento presidia o Royal College, "a redução de danos [advinda do uso desses produtos] tem grande potencial de prevenir mortes e incapacidades proporcionadas pelo uso do cigarro". "Com gerenciamento e regulação cuidadosos", segue ela, "a redução de danos provê uma oportunidade para melhorar a vida de milhões de pessoas. Uma oportunidade que devemos aproveitar."

Espaço Pago
Espaço pago