Empresários propõem as bases para crescimento inclusivo e futuro sustentável

Conhecido como B20 Brasil, grupo com mais de 1.200 representantes empresariais e capitaneado pela CNI formulou propostas entregues à Presidência da República para reunião do G20 no Brasil, em novembro

Promover um crescimento sustentável e acelerar a transição energética para uma economia de baixo carbono, de forma justa e inclusiva, combater a fome, a pobreza e as desigualdades. Esses princípios orientaram as discussões de representantes empresariais de diferentes países, reunidos pelo Business 20 (B20) Brasil, o fórum coordenado neste ano pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), que conecta o setor privado aos governos do G20.

No momento em que o Brasil lidera o grupo das 20 maiores nações, a comunidade de negócios brasileira também se engajou para compartilhar experiências e fazer proposições de políticas para desafios da humanidade, como as mudanças climáticas e a emergência sanitária no pós-pandemia.

As discussões envolveram mais de 1.200 representantes de diferentes setores ao longo de 2024 e chegam agora à reta final com o B20 Summit Brasil, nos dias 24 e 25 de outubro, em São Paulo. O evento antecede e prepara o caminho para a formulação de políticas públicas nas reuniões de cúpula dos chefes de Estado nos dias 18 e 19 de novembro no Rio.

As propostas dos empresários foram entregues no último dia 28 de agosto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ouviu cada um dos oito líderes das forças-tarefas e do conselho de ação -a maioria CEO’s de companhias como Embraer, JBS, e Raízen-, além dos coordenadores dos trabalhos do B20 Brasil (veja quadro).

"O documento é o resultado dos nossos esforços para abordar alguns dos desafios mais urgentes que a economia global enfrenta hoje. Desde a pandemia, o mundo passou por situações sem precedentes. Propomos recomendações na segurança alimentar, na utilização de fontes de energia renováveis, nas práticas sustentáveis, na digitalização e na governança ética para construir uma economia global resiliente", diz Dan Ioschpe, chair do B20 Brasil, responsável por congregar os empresários nos debates.

Para Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza e membro do conselho do B20 Brasil, os empresários brasileiros têm um papel vital nas discussões, contribuindo com ideias e soluções inovadoras já testadas em suas próprias companhias na agenda da transição energética e da promoção de uma economia mais inclusiva, que valoriza o capital humano.

"Essa é uma preocupação com o futuro sustentável e justo. O B20 tem sido um fórum crucial para compartilhar experiências e novos conceitos que incentivam melhorias nos setores produtivos. É muito importante a troca de experiências", afirma, citando iniciativas de eficiência energética nas operações da varejista, além de programas de inclusão e treinamentos, como o primeiro trainee executivo exclusivo para negros.

"Este é um momento em que a voz do Brasil é fundamental, seja por suas características geográficas e ambientais seja por sua visão e capacidades socioculturais", declara Tania Cosentino, presidente da Microsoft no Brasil, elencando aprendizados em projetos de energia limpa no Nordeste e formação em tecnologia voltada a mulheres negras, entre outros.

Para elaborar as propostas, o B20 Brasil criou grupos temáticos para discutir transição energética e clima, transformação digital, agricultura sustentável, integridade e conformidade, mulheres, diversidade e inclusão nos negócios, entre outros. Os trabalhos tiveram subsídios de estudos de consultorias globais.

"O B20 é um fórum do setor privado no qual os líderes empresariais colocam o chapéu de `policy-maker´ e elaboram recomendações de ações para os governos e para as próprias empresas colocarem em prática", diz Constanza Negri, responsável por guiar os trabalhos dos grupos empresariais do B20 Brasil.

"Os empresários têm a responsabilidade de influenciar políticas setoriais e globais que incentivem o crescimento sustentável, a inovação e a competitividade, considerando as particularidades econômicas e sociais do Brasil e dos demais países", afirma Deborah Stern, presidente do conselho do Santander Brasil.

Para Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, as propostas do B20 Brasil reforçam a visão do governo brasileiro, compartilhada pela indústria, de impulsionar o crescimento econômico por meio de apoio à economia verde, aproveitando as vantagens competitivas únicas da geografia, biodiversidade e experiência com biocombustíveis e energia limpa do país.

"Durante 200 anos a revolução industrial trouxe para a sociedade um enorme progresso humano, mas com o custo de ter sido impulsionada por uma matriz energética baseada em energia fóssil. Essa é uma agenda que precisamos mudar, e o Brasil tem condições de ser uma potência verde. Se a Arabia Saudita é a grande potência de energia fóssil, na agenda de energia verde e economia circular e sustentável, o Brasil se coloca quase no mesmo patamar", declara Lucchesi.

Empresários pelo desenvolvimento

Conheça as principais propostas do B20 Brasil

Finanças e Infraestrutura

Acelerar a implantação de capital privado para facilitar a transição para economia sustentável de baixo carbono

Medidas prioritárias:

  • Revisar o papel do financiamento do setor público para melhorar a eficiência de alocação de capital em prol do financiamento climático com objetivo principal de mobilizar e destravar investimentos em escala
  • Debater políticas de capital regulatório e das agências classificadoras de risco para o financiamento climático para ampliar fluxos de capital do setor privado para investimentos.

Motivação:

  • Viabilizar investimento anual de US$ 5 bilhões a US$ 8,5 bilhões até 2030 para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, segundo o Climate Policy Initiative

Transição Energética e Clima

Acelerar o desenvolvimento e uso de soluções de energia renovável e sustentável para impulsionar a descarbonização no curto e no longo prazo

Medidas prioritárias:

  • Elaborar políticas, regulações e incentivos para triplicar a capacidade energética renovável até 2030, expandir a infraestrutura das redes e acelerar a eletrificação
  • Estabelecer mecanismos e iniciativas para explorar o potencial sustentável e a prontidão de bioenergia e biocombustíveis para atingir o net zero e garantir a segurança alimentar
  • Expandir outras soluções de transição para o net zero, como captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio limpo e energia nuclear

Motivação:

  • Alterações climáticas podem causar a morte de 14,5 milhões de pessoas no mundo e perdas econômicas de US$ 12,5 trilhões até 2050, segundo o Fórum Econômico Mundial

Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura:

Apoiar a transição dos agricultores para esses sistemas com modelos inovadores de financiamento

Medidas prioritárias:

  • Estabelecer mecanismos de financiamento combinados com objetivo de melhorar as capacidades e ofertas financeiras, reduzindo riscos e incentivando investimentos, e redirecionar o apoio agrícola para acelerar a transição para sistemas alimentares mais resilientes, sustentáveis e equitativos
  • Desenvolver estrutura regulatória que acelere o desenvolvimento de créditos interoperáveis e de alta integridade para serviços como captura de carbono e redução do uso de água doce

Motivação:

  • Transição para segurança alimentar com agricultura sustentável exige de US$ 300 bilhões a US$ 350 bilhões por ano de investimento até 2030, segundo o relatório Growing Better, da The Food and Land Use Coalition

Comércio e Investimento:

Promover comércio e investimentos sustentáveis e resilientes

Medidas prioritárias:

  • Criar metodologias aceitas internacionalmente para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono de produtos, além de viabilizar boas práticas regulatórias e taxonomias para sustentabilidade ambiental
  • Iniciar a revisão de políticas comerciais restritivas unilaterais dos países do G20 nos últimos três anos

Motivação:

  • Regulações governamentais têm feito as organizações acelerarem as mudanças nas cadeias de suprimentos
  • Restrições comerciais criam distorções no comércio, limitam as cadeias de valor globais das empresas e comprometem sua resiliência

Mulheres, Diversidade e Inclusão:

Promover um ambiente inclusivo para o mercado de trabalho

Medidas prioritárias:

  • Garantir orçamento público para suporte e acesso equitativo à educação para estudantes de baixa renda, com deficiência e demais grupos sociais relacionados, desde a primeira infância até a capacitação e requalificação
  • Assegurar a implementação responsável de inteligência artificial (IA) sem vieses, por meio de comitês e alianças entre empresas dos setores público e privado, com incentivo quando houver promoção de diversidade e inclusão

Motivação:

  • Relatório da McKinsey estima que a IA generativa crie cerca de US$ 7 trilhões anuais de riqueza global.
  • Em 2022, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, as mulheres representavam, em média, apenas 30% dos talentos na área de IAmulheres representavam, em média, apenas 30% dos talentos na área de IA

Emprego e Educação:

Preparar força de trabalho resiliente e produtiva

Medidas prioritárias:

  • Requalificar e melhorar competências para diminuir a escassez de talentos, especialmente em proficiência digital e sustentabilidade, por meio de incentivos para soluções de aprendizagem integradas no trabalho e reconhecimento e competências
  • Aumentar a relevância e a qualidade da educação básica e profissionalizante e tecnológica


Motivação:

  • Regulações governamentais têm feito as organizações acelerarem as mudanças nas cadeias de suprimentos
  • Restrições comerciais criam distorções no comércio, limitam as cadeias de valor globais das empresas e comprometem sua resiliência

Transformação Digital:

Atingir conectividade universal de indivíduos e empresas, com confiança digital e segurança cibernética, com abordagem responsável para tecnologias como a IA

Medidas prioritárias:

  • Acelerar expansão e uso das infraestruturas de tecnologias por meio de modernização regulatória e parcerias público-privadas (PPPs)
  • Fomentar cooperação multilateral para melhoria da ação cibernética internacional
  • Fortalecer a colaboração internacional e escalar frameworks pró-inovação baseados em gestão de risco para desenvolvimento, implementação e governança responsáveis da IA

Motivação:

  • Segundo a ONU, pelo menos 67% da população mundial (5,4 bilhões de pessoas) estão online em comparação com os 35% de 2013

Integridade e Conformidade

Promover a liderança ética para fomentar crescimento inclusivo

Medidas prioritárias:

  • Aprimorar transparência e a comunicação em sistemas de IA com criação de códigos de conduta de forma consciente e ética
  • Estimular os setores público e privado a promoverem um local de trabalho justo e seguro, com medidas para prevenir e combater assédio

Motivação:

  • Relatório da McKinsey estima que a IA generativa crie cerca de US$ 7 trilhões anuais de riqueza global.
  • Em 2022, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, as mulheres representavam, em média, apenas 30% dos talentos na área de IA

B20 Brasil deixa legado para o país

Mais do que propor alternativas para um futuro sustentável e inclusivo, o B20 Brasil busca deixar um legado de ganhos nessas áreas para a sociedade brasileira e para o mundo.

Após o encerramento dos trabalhos em novembro, o grupo realizará um evento voltado para empresas e entidades brasileiras, incluindo o setor público, para discutir a implementação no país das propostas discutidas nos fóruns internacionais.

"Queremos deixar alguns instrumentos e ações em curso, independentemente da visão dos governantes do G20, de como caminhar nessas questões", diz Dan Ioschpe, chair do B20.

"Toda essa inteligência de mais de mil líderes empresariais tem um legado", avalia Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI.

Segundo Constanza Negri, "sherpa" do B20 Brasil, iniciativas de produção de biocombustíveis, digitalização de pequenas e médias empresas e programas de diversidade e inclusão feminina poderão encontrar apoio no grupo para implementação, formalização de compromissos, monitoramento de desempenho e ganho de escala.

"A ideia é escolher temáticas prioritárias para construir um legado em áreas nas quais o Brasil tenha liderança e contribuições do setor privado", afirma. "Todo esse processo deixa uma estrutura de transformação de longo prazo. Nossa intenção é que os empresários continuem engajados, contribuindo para os próximos B20s", declara Negri.

O B20 Brasil também preparou terreno para África do Sul e EUA (os próximos países a liderarem o G20, em 2025 e 2026) darem continuidade aos debates e implementação das propostas discutidas. "Eles não vão começar do zero", diz Negri.

Para implementar essa agenda de forma bem-sucedida, a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, defende que as empresas invistam mais em inovação e fomentem uma cultura corporativa inclusiva, que priorize a sustentabilidade e mantenha uma visão que "equilibre performance econômica com responsabilidade social e ambiental".

"Adaptabilidade e liderança consciente serão fundamentais para enfrentar esses desafios. E os governos podem ajudar, investindo em infraestrutura de energia limpa e tecnologias verdes para facilitar a transição energética. Outra contribuição seria criar políticas públicas para capacitar e requalificar a força de trabalho para novas competências necessárias para a economia do futuro."

"Tomemos o exemplo da valorização do capital humano. Há a necessidade de atuação conjunta entre os setores e o governo para capacitar e recapacitar a população brasileira", diz Tania Cosentino, presidente da Microsoft.

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha