Saiba como a tecnologia vai transformar a educação

John Baker, CEO da empresa de tecnologia educacional D2L, acredita em um paradoxo: que as inovações que vemos na era digital abrirão caminho para uma abordagem educacional mais humana, inclusiva e personalizada

Tecnologia está no centro das mudanças na educação

Tecnologia está no centro das mudanças na educação Divulgação

A educação passa por grandes transformações, e a tecnologia está impulsionando essas mudanças. Durante a pandemia de Covid-19, barreiras e resistências à inovação foram quebradas, e novos modelos de aprendizagem surgiram, assim como novos desafios. Mas como será a educação do futuro? Para o canadense John Baker, CEO da empresa de tecnologia educacional D2L, com o uso em escala de tecnologia, o caminho está aberto para formas de ensino mais humanas, inclusivas e personalizadas.

"A tecnologia pode – e deve – ser usada para potencializar o elemento humano na educação", afirma Baker. "Isso pode parecer estranho vindo de um cara que é dono de uma empresa de tecnologia da educação, mas temos que preservar e ampliar o modelo tradicional de ensino, que sempre girou em torno das pessoas." Segundo Baker, o uso massivo de tecnologia irá otimizar o trabalho de professores e alunos.

Fundada há mais de 20 anos no Canadá, a D2L atua na transformação digital da educação, com uma tecnologia que torna o aprendizado mais acessível e dinâmico. Por meio de uma plataforma de inovação de aprendizagem, a D2L Brightspace, a empresa atua para aprimorar a experiência de aprendizagem para alunos, professores e instituições de ensino. "Desde a fundação, estabelecemos como meta tornar a educação acessível para todos", afirma Baker.

No Brasil desde 2012, a D2L viu os negócios darem um salto no ano passado, em comparação com 2019. O faturamento cresceu 100%, e a empresa dobrou o número de clientes.

A tecnologia da D2L está presente no país em todos os segmentos, da educação básica ao ensino superior e educação corporativa. Entre os principais clientes da empresa estão Fundação Getulio Vargas, SPC, Instituto Ayrton Senna, Pearson, Grupo Positivo, Explicaê e Eleva Educação.

Na entrevista a seguir, John Baker fala sobre a atuação da D2L no Brasil, os desafios da educação no pós-pandemia e sobre as novas formas de aprendizagem baseadas em tecnologia.

John Baker, CEO da empresa de tecnologia educacional D2L
John Baker, CEO da empresa de tecnologia educacional D2L - Divulgação

"A tecnologia pode – e deve – ser usada para potencializar o elemento humano na educação"

John Baker, CEO da empresa de tecnologia educacional D2L

A educação passou por grandes mudanças nos últimos anos. Na sua opinião, como será o futuro da educação?

A velocidade das mudanças pelas quais a educação tem passado nos últimos dois anos é impressionante. Algumas das mudanças que eu, sendo otimista, imaginei que poderiam levar uma década para acontecer, já se concretizaram. Não é que a pandemia tenha acelerado a mudança tecnológica. O que ela fez foi eliminar as barreiras que existiam e ajudar as pessoas a superarem sua resistência à mudança. Como resultado, hoje vemos novas formas de aprendizagem — como a aprendizagem assíncrona, multimodal e orientada para o domínio de conteúdos, entre outras — sendo usadas em lugares que nunca tinham tido experiência com a tecnologia da educação ou com as metodologias pedagógicas que ela implica. Então, agora que a tecnologia da educação realmente está sendo usada no mundo inteiro e em uma escala massiva, suspeito que os avanços tecnológicos abrirão caminho para formas de ensino inéditas e revolucionárias. É uma perspectiva muito empolgante.

Qual será exatamente o papel da tecnologia para a educação no futuro?

A tecnologia pode — e deve — ser usada para potencializar o elemento humano na educação. Isso pode parecer paradoxal, mas vou explicar o que estou falando. Tanto meu pai como minha mãe foram professores que marcaram muito seus alunos, então cresci sabendo que nada era mais importante do que o contato humano com o professor que ministrava uma aula. Isso pode parecer estranho vindo de um cara que é dono de uma empresa de tecnologia da educação, mas temos que preservar e ampliar o modelo de ensino que sempre girou em torno das pessoas.

"Podemos usar a tecnologia para humanizar a educação otimizando tempos de trabalho tanto para os alunos quanto para os professores. Por exemplo: podemos usar a inteligência artificial como uma ferramenta preditiva para ampliar a capacidade de julgamento humano, o que deixaria mais tempo livre para estudo e lazer dos alunos e permitiria que os professores se concentrassem no ensino de habilidades duráveis."

O que é preciso, em termos de tecnologia, para que as instituições consigam se preparar para esse futuro?

Na verdade, é preciso bem pouca tecnologia para estar preparado: pode ser até mesmo um smartphone. Nós projetamos a nossa plataforma de aprendizagem, a D2L Brightspace, para que fosse acessível, a partir de qualquer dispositivo, em qualquer lugar, porque sabemos que muitas pessoas em diferentes partes do mundo não têm a opção de estudar usando um computador.

Desde o momento da nossa fundação até hoje, estamos trabalhando para tornar a educação acessível para todos, o que inclui as pessoas com deficiência. Então, para se prepararem para o futuro de que estamos falando, acho que as instituições também vão ter que pensar no tipo de acessibilidade que elas querem oferecer. Levou um tempo para entendermos como garantir que os nossos produtos atendessem às necessidades de pessoas com deficiência de um jeito que fosse além do padrão de "acessibilidade web". E, com o tempo, fomos aprendendo que esse esforço precisa partir de uma dimensão cultural, não é uma funcionalidade ou ferramenta da nossa plataforma, mas faz parte de tudo o que construímos e programamos.

A pandemia de Covid‑19 impactou cerca de 1,5 bilhão de estudantes no mundo todo, ou 90% da população estudantil, segundo a Unesco. Qual será o maior desafio da educação pós‑pandemia?

Acho que o maior desafio imediato da educação pós-pandemia é o déficit de aprendizagem que surgiu em decorrência da Covid. Precisamos encontrar um jeito de ajudar os alunos a recuperar o tempo e conteúdo perdidos ao longo desses últimos dois anos. Mas, pensando no longo prazo, o desafio mais importante será lidar com o pressuposto de que tudo vai simplesmente "voltar ao normal". Por exemplo, muitas instituições de ensino superior ainda estão apegadas às regras do passado, que ditavam que era necessária uma graduação de quatro anos que preparasse os alunos para trabalhar pelo resto da vida. Na verdade, temos que aceitar o fato de que as habilidades ficam desatualizadas muito rapidamente na nossa cultura digital acelerada e que a solução para isso é desenvolver uma cultura de formação contínua e aprendizagem pela vida toda.

Durante a pandemia de Covid-19, barreiras e resistências à inovação foram quebradas, e novos modelos de aprendizagem surgiram
Durante a pandemia de Covid-19, barreiras e resistências à inovação foram quebradas, e novos modelos de aprendizagem surgiram - Divulgação

A chamada aprendizagem híbrida, que combina o ensino presencial com uma ou mais formas de educação a distância, é uma tendência atualmente?

Ela é parte de uma tendência mais ampla de promoção da flexibilidade e da personalização. As tecnologias de aprendizagem possibilitam um acesso muito maior à educação para todas as pessoas, independentemente de sua idade, de suas habilidades ou do lugar onde moram. Estamos falando de um potencial incrível. Para otimizar a tecnologia, precisamos estar abertos a reimaginar a sala de aula, aliada a um compromisso contínuo de colocar os professores em primeiro lugar para que eles, por sua vez, possam colocar os alunos em primeiro lugar. Também é preciso que haja flexibilidade e desenvolvimento profissional para que os professores e alunos recebam o apoio necessário.

Como a aprendizagem híbrida pode ser usada para possibilitar a volta às aulas presenciais? E que impacto esse modelo pode ter nas universidades no futuro?

O melhor da aprendizagem híbrida ou virtual é que ela coloca o aluno no centro da experiência educacional, já que ele pode escolher como, quando e onde aprender. Um cenário que temos em mente é um mundo em que temos uma via dupla para o aprendizado – onde os professores ensinam em uma sala de aula habilitada por tecnologia com os alunos, enquanto outros alunos podem desfrutar de uma experiência de aprendizado virtual assíncrona – rica em feedback dos professores.

"Essa é a mudança que podemos ver nas universidades do futuro: os alunos teriam a flexibilidade de escolher ir à aula e aprender presencialmente com o professor e seus colegas ou ficar em casa e estudar por conta própria, de forma assíncrona, de acordo com o que acharem melhor."

Há mais de duas décadas, a D2L se mantém na vanguarda da transformação digital na educação. Como a empresa pode ajudar instituições brasileiras a fazerem a transição para um modelo de ensino online ou híbrido?

Estamos no Brasil ajudando a fazer exatamente isso. O mundo passa pelo enorme desafio da transformação digital, acelerada pela pandemia. Até 2020, o setor digital representava cerca de 12% da economia mundial, mas isso não é nada comparado com o que virá nos próximos três a quatro anos. Sabemos que 30% da economia global será mudada digitalmente e não haverá uma parte de nossa economia que não seja digital daqui para a frente.

Na educação, os modelos de aprendizado deverão preparar os alunos para o sucesso em um mundo em rápida transição, com ciclos cada vez mais curtos de mudança. Acreditamos que a nossa responsabilidade compartilhada é ajudar a construir um novo mundo digital que seja mais igual, mais justo, mais democrático e com mais oportunidades para as pessoas. Para fazer isso, precisamos tomar decisões, grandes e pequenas, que levem aos resultados que desejamos, em vez de deixar as coisas simplesmente acontecerem. Pretendemos fazer parte dessas conversas, conduzindo-as e moldando-as para que mais alunos possam realizar suas ambições.

Nosso protagonismo na transformação digital está em oferecer uma tecnologia certa que torna o aprendizado mais acessível e personalizado, abrindo novas possibilidades de sucesso a estudantes, instituições de ensino e empresas.

Em quantos países a D2L está presente e qual é a importância do mercado brasileiro para a empresa em termos comerciais e de crescimento?

Estamos em todo o mundo. Nós vemos nossos negócios no Brasil crescendo rapidamente, com um salto de mais de 100% no faturamento e dobrando a quantidade de clientes no país, comparando o final de 2019 com o mesmo período de 2021. Esse crescimento reforçou a importância do mercado brasileiro para a empresa, um dos mais relevantes para a marca no mundo. Desde que desembarcou no Brasil, em 2012, a D2L vem registrando um crescimento saudável do ponto de vista de manutenção dos negócios, especialmente nos últimos dois anos.

A D2L entende que o Brasil é um grande mercado a ser desenvolvido e as medidas governamentais e demandas de instituições privadas têm demonstrado uma clara tendência à adoção de tecnologias educacionais no país.

Atualmente, a nossa tecnologia está implantada em escolas e empresas dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia, Espírito Santo, Sergipe, Mato Grosso e Paraná, com clientes em todos os segmentos de atuação: educação básica, ensino superior e educação corporativa. Entre os principais clientes no Brasil estão: FGV, SPC, Instituto Ayrton Senna, Pearson, Universidade Tiradentes, Explicaê, Grupo Positivo e Eleva Educação.

Qual é a expectativa para 2022 em relação ao mercado brasileiro?

Vemos uma tendência clara de adoção de tecnologias educacionais em todo o país. A expectativa é de que o crescimento seja ainda maior nos próximos anos por causa da transformação digital, inclusive no setor público, que pode ser perfeitamente atendido pela nossa solução.

A plataforma de aprendizagem Brightspace, desenvolvida pela D2L, pode ser usada em todos os níveis educacionais, desde a educação básica até o ensino superior. Qual você acha que tem sido — ou que será — seu impacto no ensino superior?

Acredito no poder da educação universitária. Eu mesmo sou produto de uma educação universitária. E, quando chegar a idade para isso, espero que as minhas filhas também escolham ter uma educação universitária. Mas a educação universitária que tive foi muito diferente da que as minhas filhas vão conhecer. Estamos a ponto de ver uma mudança radical no jeito que as universidades cumprem sua missão de educar, de gerar oportunidades, de fazer pesquisa e de criar cidadãos informados.

"A tecnologia vai abrir novas oportunidades para mais pessoas em mais lugares, e essas oportunidades vão durar muito mais que os quatro anos de uma graduação tradicional. O que temos diante de nós é um futuro em que a aprendizagem aconteça sem limites durante a vida toda, em que a educação evolua e se adapte para tratar dos desafios mais sérios do nosso tempo; não só a pandemia que estamos vivendo, mas também a mudança climática e vários outros desafios."

O que é a educação orientada por dados e quais são os benefícios que esse conceito oferece?

Os dados são uma das ferramentas mais poderosas que temos para administrar a forma como os alunos aprendem. Os dados de alunos são um ótimo recurso para os professores que querem maximizar os resultados de aprendizagem. Eles proporcionam informações valiosas sobre o que está acontecendo com os alunos, e os professores podem levar essas informações em conta ao elaborar planos de aulas e outras atividades de reforço. Quando usadas do jeito certo, as salas de aula orientadas por dados podem gerar as melhores experiências de aprendizagem.

Os dados de alunos são obtidos de vários lugares, desde resultados de provas até registros de presença. Na sala de aula, os professores conseguem ver como os alunos estão reagindo e respondendo e, assim, saber quais adaptações são necessárias. As ferramentas de ensino online dão acesso a enormes quantidades de dados que permitem formar uma imagem de como os alunos, principalmente aqueles que estão em risco acadêmico, estão aprendendo e progredindo.

Porém, o mais importante a se levar em consideração é a proteção dos dados dos alunos. Eles só devem ser usados em sala de aula, para fins da educação que acontece na sala de aula e pelo professor que está na sala de aula. Os dados estudantis têm um valor incalculável e devem ser tratados como algo sagrado.

Como implementar a educação orientada por dados?

O primeiro passo é definir quais informações você quer obter a partir dos dados. Você pode começar pelo básico, pegando só um punhado das métricas mais importantes que vão fazer a diferença para o ensino na sua instituição (por exemplo, dar um empurrãozinho para um aluno no momento certo ou observar as métricas de qualidade em torno das avaliações que você criou). O segundo passo é definir as ações a serem tomadas e monitorar o impacto que elas têm. Algumas mudanças vão trazer resultados rápidos que vão se refletir nos dados, enquanto outras terão um impacto no longo prazo.

Em terceiro lugar, é preciso reservar um tempo para trocar ideias com colegas e entender como eles usam os dados. Fazer um intercâmbio de melhores práticas e uma comparação do que funciona. Isso nos leva ao quarto passo, que é enriquecer o conhecimento já adquirido. Uma opção é organizar uma capacitação adicional para outros professores ou administradores sobre o uso da plataforma de aprendizagem. E, por último, é preciso continuar aprendendo.

A tecnologia não é estática, então as funcionalidades da plataforma de aprendizagem online que você usa também vão evoluir. O principal é se manter aberto às possibilidades, sondar as oportunidades e tirar o máximo proveito das funcionalidades que estiverem disponíveis.

Um desafio para as instituições hoje é deixar o ensino mais envolvente e atrativo para os alunos. Como a tecnologia pode ajudar nisso?

Existem metodologias pedagógicas inovadoras que estão transformando a educação: a aprendizagem orientada para o domínio de conteúdos, as salas de aula invertidas, a gamificação, a aprendizagem híbrida, e por aí vai. Todas elas são viabilizadas pela tecnologia e trazem implicações fascinantes para a nossa forma de ensinar — e, como eu mencionei, a minha previsão é que haja uma aceleração nessa área agora que a aprendizagem digital está amplamente difundida pelo mundo.

Para os especialistas, a aprendizagem personalizada é uma forma de motivar os alunos. É possível usar a tecnologia para levar a personalização a todos os níveis educacionais?

Sem sombra de dúvida. Quando fundamos a D2L, há pouco mais de 20 anos, o nosso sonho era possibilitar uma aprendizagem altamente personalizada para cada aluno, mas não dispúnhamos da tecnologia necessária para fazer isso acontecer. Os computadores desktop não eram tão potentes quanto o smartphone que você tem no seu bolso, e é por isso que hoje, dada a velocidade e a complexidade da potência computacional que está disponível para os professores, eles conseguem ajudar a criar planos de aprendizagem individualizados que atendam às necessidades de todos os alunos.

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