De difícil diagnóstico, lúpus pode levar à complicação renal grave

Nefrite Lúpica pode atingir metade dos pacientes com LES; uso de terapia adequada se mostra eficaz contra a doença

Cristiane Souto descobriu que tinha Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) ainda na adolescência. Foram seis meses entre o primeiro sintoma, fortes dores nas articulações, e o diagnóstico, que veio só quando o seu quadro se agravou e ela foi internada em um hospital em Fortaleza, no Ceará.

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, que não tem cura, causada pelo não reconhecimento das células do sistema imunológico a células sadias, cujos sintomas podem surgir de forma lenta e progressiva (em meses) ou mais rapidamente (em semanas). A doença costuma ser mais frequente entre as mulheres - 9 em 10 adultos com a doença são mulheres 1,2.

Depois desse susto inicial, a nutricionista e professora universitária, que hoje tem 29 anos, conseguiu manter a doença sob controle por quase uma década. Porém, uma das características do LES é que há uma grande variação entre fases de atividade da doença e de remissão1.

Foi o que aconteceu com Cristiane. “Fiquei em remissão por oito anos, só precisava tomar medicamento de controle. Até que, em 2018, tive uma crise e fui internada novamente. Estava com muito inchaço e hipertensão.” O quadro era de inflamação nos rins, conhecida como Nefrite Lúpica.

Caracterizada por uma ampla e complexa gama de lesões renais inflamatórias, a Nefrite Lúpica pode progredir para uma doença renal crônica, que exige diálise e até transplante renal em 5% a 20% dos pacientes7.

“A Nefrite Lúpica é bastante frequente. Cerca de metade dos pacientes com LES podem ter envolvimento renal ao longo da evolução da doença”, afirma o médico reumatologista Dr. Odirlei Monticielo, professor de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

A manifestação, de acordo com Dr. Monticielo, pode envolver aumento da pressão arterial, inchaço não só nos pés e nas mãos, mas generalizado, chamado anasarca, e alteração no aspecto da urina. O professor ressalta que a doença impacta muito a vida dos pacientes por ser grave e pelo tratamento imunossupressor. Ele explica que são usados corticoides em doses altas, o que pode trazer consequências para os pacientes, visto que não são medicações inócuas.

Os efeitos colaterais graves dos corticoides já haviam sido um problema para Cristiane. “Eles causam muito inchaço e também engordo bastante, além de me causarem perda de massa óssea. No começo da doença, quando tinha 16 anos, cheguei a fraturar o fêmur por conta disso”, conta.

Também podem ser usados imunossupressores, o que, segundo o reumatologista, podem aumentar o risco de infecções oportunistas.

Importante ressaltar que o tratamento para o LES e todas as suas complicações avançou bastante nos últimos anos. Os pacientes podem ter qualidade de vida desde que façam acompanhamento médico regular, seguindo a prescrição de exames de controle e uso de medicação. Isso ajuda não só no controle do LES como também da Nefrite Lúpica.

Dr. Monticielo explica que atualmente existe um maior arsenal terapêutico para controle do LES e da Nefrite Lúpica. “Pacientes com doença grave e refratária podem se beneficiar do uso das medicações imunobiológicas. Os tratamentos mais recentes têm se mostrado eficazes e seguros. Inclusive, temos opções que beneficiam os pacientes com nefrite lúpica”, diz.

O reumatologista lembra que é importante os pacientes conversarem com o médico para entender quais medicamentos são indicados para cada caso.

No caso de Cristiane, as novas terapias não só trouxeram benefícios à saúde, mas impactaram positivamente a sua vida. “Pouco tempo depois, melhorei bastante. Ganhei qualidade de vida, a pressão foi controlada e não tenho mal-estar. Antes, tinha dores de cabeça frequentes, além dos sintomas gástricos que os corticoides também me causavam, eu ficava mal com qualquer coisa que comia.”

“Em dois meses, os parâmetros dos meus exames já haviam mudado e me consideram em remissão novamente. O tratamento me trouxe esperança de passar mais tempo assim e de preservar meus rins”, comemora.

REFERÊNCIAS

1. Sociedade Brasileira de Reumatologia. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). Disponível em https://www.reumatologia. org.br/doencas-reumaticas/lupus-eritematoso-sistemico-les/ Acesso em 17/08/2021.
2. National Resource Center on Lupus. Lupus facts and statistics. Disponível em https://www.lupus.org/resources/lupus-facts-and-statistics. Acesso em 17/08/2021.
3. Ministério da Saúde. Lúpus: causas, sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção. Disponível em https:// antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/ lupus Acesso em 17/08/2021
4. National Resource Center on Lupus. Common Symptoms of Lupus. Disponível em https://www.lupus.org/resources/common-symptoms-of-lupus Acesso em 17/08/2021.
5. National Resource Center on Lupus. Diagnosing Lupus. Disponível em https://www.lupus.org/resources/diagnosing-lupus-guide Acesso em 17/08/2021.
6. Pezzole,Eliana & Oselame, Gleidson. (2014). Fatores de Risco para o Lupus Eritematoso Sistêmico: Revisão da Literatura. Revista UNIANDRADE. 15. 65-77. 10.18024/1519-5694/revuniandrade.v15n1p65-77.
7. Klumb, Evandro Mendes, et al. “The Landscape of Systemic Lupus Erythematosus in Brazil: An Expert Panel Review and Recommendations.” Lupus, July 2021, doi:10.11 77/09612033211030008.

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