Priscila Belfort era servidora na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro. Seu escritório ficava em um prédio na região central da cidade. Por volta das 13h do dia 9 de janeiro de 2004, uma sexta-feira, ela saiu para almoçar. Desceu os elevadores, virou uma esquina e, enquanto caminhava, foi vista por um funcionário do prédio em que trabalhava. Ela vestia calça cinza, blusa quadriculada, casaco azul e tinha uma bolsa a tiracolo. Foi a última vez que Priscila foi vista.

O que aconteceu com Priscila? Como uma pessoa pode sumir assim, do nada? Foi sequestrada? Fugiu?

São perguntas que motivaram a realização de "Volta, Priscila", uma série documental em quatro episódios produzida pela Pródigo Filmes que estreia na plataforma Disney+ em 25 de setembro.

Com direção de Eduardo Rajabally e um grande trabalho de pesquisa coordenado por Bruna Rodrigues, "Volta, Priscila" recorre a entrevistas com familiares e personalidades da imprensa que cobriram o caso à época. E ainda conta com um vasto material visual, de fotos e vídeos, que enriquecem a narrativa e nos ajudam a entender quem foi Priscila Belfort.

"Felizmente, conseguimos desenvolver o formato e a linguagem ideais para contar essa história", afirma Rajabally.

Para o diretor, a série até pode se encaixar dentro do rótulo "true crime" (filmes e séries sobre crimes reais), mas é um "true crime" diferente, complexo e singular.

"Porque é a história de um desaparecimento. Não temos um suspeito, um julgamento, um corpo, uma cena de crime. Então que 'true crime' é esse?", questiona Rajabally. "Será que realmente houve um crime?"

Além disso, havia um desafio importante para solucionar, segundo o diretor: "Estamos falando de uma pessoa que não está aqui. É a história de uma ausência. Como colocar isso em imagens?".

Um dos objetivos da produção é fazer com que, apesar da ausência, Priscila Belfort tenha uma real presença na série. E conseguiram.

Filha de Jovita Belfort e José Marcos Belfort e irmã de Vitor Belfort, um dos mais conhecidos e vitoriosos lutadores de MMA do Brasil, Priscila está por toda a série, seja por meio de fotos ou de vídeos que a família guardava há muitos anos.

"Queria que esta fosse uma série em que a Priscila fosse a protagonista, mesmo estando ausente. Por isso, trouxemos diários, escritos, muitas horas de VHS e de Super-8 que estavam guardados há mais de 20 anos", conta Rajabally. "A família, traumatizada, não tinha tocado nesse material havia muito tempo. E eles foram generosos em abrir para a gente esses arquivos."

Por meio desse material e das entrevistas, sabemos que Priscila foi uma menina bastante alegre no caloroso Rio de Janeiro. Até que se mudou para uma cidade fria no estado de Nova York (EUA), para fazer um intercâmbio. Sofreu bastante, teve depressão, e o pai foi buscá-la. Depois, seu comportamento mudou: era uma Priscila mais retraída e calada.

Após aquele 9 de janeiro de 2004, ninguém mais teve notícia de Priscila. O caso teve grande repercussão. Programas de TV receberam Jovita e Vitor Belfort e ouviram depoimentos emocionantes dos dois, que suplicavam por alguma luz.

A polícia civil do Rio começou a investigar o caso como sequestro. Integrantes de uma facção criminosa no Morro da Providência, na região central da cidade, eram os principais suspeitos. Mas, até hoje, ainda não há uma solução.

"Sobre o trabalho da polícia… não dá para dizer que foi excelente, porque senão teriam encontrado uma resposta. O Rio passava por uma onda muito forte de sequestros-relâmpago. Essa era uma possibilidade em relação ao caso da Priscila. A imprensa levantou hipóteses estapafúrdias, jogaram o nome da Priscila na lama, e nada daquilo foi provado", afirma Rajabally.

"Houve muitas linhas de investigação com o passar dos anos. Certa vez, acharam uma mulher que disse que sabia onde tinham enterrado a Priscila. Foram ao local, mas nada foi encontrado. Para a família, foi muito duro ter de acompanhar todas essas pontas soltas", explica o diretor.

REALIDADE BRASILEIRA

Um ponto central da série é algo que atormenta a vida de muitas famílias no Brasil: o desaparecimento de um ente querido.

"Desaparecimentos são muito comuns no Brasil. Quando acontece com alguém famoso, chama a atenção", aponta Rajabally.

Casos de desaparecimento são especialmente dolorosos porque não têm um "ponto final".

"Com um desaparecimento, não passamos pelo rito da morte, do luto. Porque não há um corpo para enterrar. O desaparecimento é uma dor diária, uma ferida que não cicatriza", diz o diretor.

Rajabally conta que conheceu a família Belfort durante a produção de "Volta, Priscila".

"Fiquei chocado quando percebi que a emoção da família está muito à flor da pele. É um sentimento que ainda está exposto. Na série, vemos como o Vitor é uma pessoa extremamente sensível."

Há poucos anos, um promotor passou a investigar o desaparecimento de Priscila. Será que o caso terá, finalmente, um desfecho?

"Se as investigações avançarem e algo for descoberto, ainda há chance de termos justiça para essa família, que acorda todas as manhãs e pensa no dia 9 de janeiro de 2004", afirma Rajabally. "É um caso, até o momento, sem solução. Digo até o momento, porque pode ser que apareçam novos fatos."

E qual é a opinião de Rajabally sobre o caso? O que aconteceu com Priscila?

"Depois de quase três anos mergulhado nessa história, tenho algumas teorias. Posso dizer que a série traz muitos fatos novos, que a maioria das pessoas não sabe. E fatos que podem levar a respostas. Não duvido que, em breve, elas possam aparecer."

SERVIÇO: Volta Priscila, série em quatro episódios

ESTREIA: 25 de setembro de 2024

ONDE ASSISTIR: exclusivamente no Disney+.

PRODUÇÃO: Pródigo Filmes

DIREÇÃO: Eduardo Rajabally

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha