Característica marcante do inverno no Centro-Oeste e no Sudeste do país, a estiagem colabora para a piora da qualidade do ar e é extremamente prejudicial para quem sofre de doenças respiratórias, em especial as crianças.
"Quando fica muito seco e frio, o ar se torna péssimo para a saúde respiratória. Há vários trabalhos que associam aumento de bronquiolite e crises de asma a esses fatores. E, de um modo geral, para todas as doenças respiratórias há uma incidência maior nos dias em que há um pico na poluição", explica a pneumologista pediátrica Marina Buarque de Almeida, presidente do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), a bronquiolite não é apenas perigosa para crianças prematuras e com outras questões de saúde. "A bronquiolite pode ser muito grave também em uma parcela de crianças saudáveis, porque tem a ver com o quão pequena ela é. Ter o primeiro contato com o VSR e evoluir para uma bronquiolite aos dois, três meses de vida é um quadro potencialmente muito mais grave do que com um ano ou um ano e meio, por exemplo, quando o risco de internação, de hospitalização, necessidade de UTI e intubação são menores."
O VSR circula mais nesta época do ano e não há vacina para a população pediátrica. Uma forma de evitar o contágio, lembra a médica, é prestar atenção na ventilação dos ambientes. "Nesta época do ano, o frio faz com que as pessoas fechem as janelas e se aglomerem mais, dentro de escolas, creches, berçários e mesmo em casa." Em adultos saudáveis e crianças grandes, esse vírus costuma causar apenas um resfriado.
O vírus influenza, que causa a gripe, é outra doença que pode trazer complicações na infância. "Há quadros de pneumonia necrosante, em que há áreas de necrose grave no pulmão, que foram diagnosticados após o paciente ter tido contato com o vírus influenza. Essa pneumonia complicada, às vezes, tem necessidade de UTI com internações que podem durar duas, três semanas, com antibiótico na veia. É bem desesperador."
Por complicações como essa, a médica orienta as famílias sobre a importância de se prevenir contra a gripe. "O Ministério da Saúde e o Programa Nacional de Imunização recomendam que todas as crianças abaixo de 5 anos tomem a vacina anualmente, a partir dos seis meses de idade. No primeiro ano, são duas doses e depois é uma dose por ano." Como a vacina leva cerca de 15 dias para fazer a imunoproteção, é interessante buscá-la o quanto antes.
Outro grupo que merece atenção são as crianças asmáticas e os bebês chiadores, como são chamados aqueles que ainda têm um diagnóstico impreciso da sua condição ser asma ou crises de chiado recorrente. "Para esses dois grupos, esses vírus respiratórios são ruins porque normalmente deflagram as crises de chiado, quando os brônquios se fecham, o que piora a oxigenação, derruba a saturação e a criança evolui com dificuldade para respirar."
E não é apenas a poluição que pode prejudicar a saúde dos pulmões das crianças, é preciso estar atento a qualquer fonte de gases tóxicos, incluindo fumaça de fogueiras e cigarros eletrônicos. "Deve-se tomar muito cuidado em relação à exposição passiva ao cigarro, charuto e dispositivos como os vapes. Muita gente acha que não existe fumante passivo com cigarro eletrônico, mas é uma mentira. Assim como o cigarro comum, ele deixa resíduos até no ambiente", afirma a doutora Marina.
Em dias muito secos, a pneumologista aconselha umidificar os ambientes com "bom senso", de preferência por algumas horas e somente nos horários mais secos do dia. "Eventualmente, orientamos colocar uma bacia embaixo do berço, com cuidado para evitar situações em que a criança possa se afogar, ou uma toalha úmida perto dela."
Ela ressalta, no entanto, que esses recursos, incluindo o umidificador de ambientes, devem ser usados com cautela. "Se eu umidificar demais, se o quarto estiver com vapor na janela ou água escorrendo na parede, começa a ter proliferação de mofo e bolor, muito ruins para a saúde respiratória."
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha