Descrição de chapéu universidade

Cursos de direito devem romper com passado e ampliar aprendizado

Demandas sociais da atualidade requerem formação multidisciplinar do estudante que almeja a carreira

Professor Marcelo Crespo, ex-ministro da Justiça José Eduardo Martins Cardozo e professora Patricia Peck, em participação online, durante debate da ESPM

Professor Marcelo Crespo, ex-ministro da Justiça José Eduardo Martins Cardozo e professora Patricia Peck, em participação online, durante debate da ESPM Masao Goto/Estúdio Folha

Uma sociedade em constante transformação requer profissionais mais preparados para atuar em novos cenários globais. Para formá-los e capacitá-los, é necessário romper com paradigmas do passado já nos bancos escolares, sobretudo em cursos de ponta, como o de direito.

Essa foi uma das conclusões do debate "Desafios atuais e oportunidades dentro das carreiras jurídicas", realizado pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em parceria com o Estúdio Folha, ateliê de conteúdo patrocinado da Folha de S.Paulo.

Assista abaixo:

O evento fez parte do lançamento do novo curso de direito da ESPM, que começa em 2023, e reuniu o ex-ministro da Justiça José Eduardo Martins Cardozo e a professora e especialista em direito digital Patricia Peck. A mediação foi de Marcelo Crespo, coordenador do novo curso. Os três serão docentes do novo curso da ESPM.

No debate, que teve transmissão online, ressaltou-se a necessidade de o ensino do direito avançar no quesito da multidisciplinariedade, estabelecendo novas pontes com outras áreas de conhecimento, como a de tecnologia.

"O jurista de hoje precisa estar preparado para atuar pela garantia de normas e direitos no contexto de uma sociedade digital", afirmou Patricia, CEO e sócia-fundadora do Peck Advogados. "Para lidar com questões como cibercrimes e até mesmo ciberguerras", completou.

PATRICIA PECK, professora da ESPM e especialista em direito digital
Reprodução

O jurista de hoje precisa estar preparado para atuar pela garantia de normas e direitos no contexto de uma sociedade digital

PATRICIA PECK

Professora da ESPM e especialista em direito digital

Cardozo lembrou que a pandemia de Covid-19 apressou essas transformações e instituiu novos hábitos no direito. "Sustentações orais que eram feitas nos tribunais passaram a ser realizadas também pela telinha, o que é diferente", exemplificou. "Precisamos aparelhar os profissionais para isso."

Assim, para formar os alunos de acordo com as novas demandas, segundo Cardozo, os cursos de direito têm de se adaptar ao momento histórico atual. "É preciso um rompimento com o ensino dogmático isolado, apegado à tradição."

JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO, professor e ex-ministro da Justiça
Masao Goto/Estúdio Folha

É preciso um rompimento com o ensino dogmático isolado, apegado à tradição

JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO

Professor e ex-ministro da Justiça

Crespo, mediando o debate, lembrou que as formas de estudo e de pesquisa são outras. "É raro que o aluno vá atrás de livros na biblioteca", disse. "É mais difícil hoje prender a atenção do estudante. Falamos, então, de metodologias ativas de ensino."

MENTALIDADE CRÍTICA

O ex-ministro defendeu estimular o estudante "para a reflexão e a crítica", estabelecidas de uma maneira "fundamentalmente multidisciplinar". "Não cabe mais aquela relação em que o professor fala e o aluno reproduz. Um deve aprender com o outro."

Um dos grandes desafios para quem forma o estudante de direito hoje, explicou Cardozo, é adotar uma estratégia pedagógica que favoreça o potencial analítico em um mundo pautado pelas mensagens telegráficas e pela superficialidade.

"Estamos nos tornando rasos e isso se reflete no ensino", afirmou. "Mas não adianta brigar com a realidade, é preciso entendê-la e desenvolver a aptidão por análises de profundidade. O professor tem de ir aonde o estudante está."

MARCELO CRESPO, professor e coordenador do novo curso de direito da ESPM
Masao Goto/Estúdio Folha

É mais difícil hoje prender a atenção do estudante. Falamos, então, de metodologias ativas de ensino

MARCELO CRESPO

Professor e coordenador do novo curso de direito da ESPM

Sobre as competências requeridas do profissional do direito, cujo campo de trabalho é "muito versátil", Patricia destacou ainda que ele precisa "aprender a ser um eterno estudante", o que remete ao conceito de educação continuada.

"Tem de ter capacidade de diálogo, ser um bom ouvinte, um mediador de conflitos, um apaziguador", disse. "Ter uma boa redação é um diferencial, e a diminuição dos níveis de leituras aprofundadas dificulta o desenvolvimento dessa habilidade."

A professora reforçou o aprendizado de idiomas, "pelo menos o inglês e o espanhol", para exercitar bem a profissão em uma "sociedade internacionalizada".

Outra questão foi o papel social do direito na construção de uma sociedade "sustentável e ética", na definição de Patricia, obrigando que o profissional exercite um "olhar empreendedor" para arquitetar políticas públicas ou, no âmbito privado, em favor da justiça social.

Os debatedores salientaram ainda a perspectiva de atuação com o propósito de ajudar a solucionar questões socioambientais importantes. Segundo eles, isso é imprescindível para tornar o curso de direito ainda mais atrativo.