Fundo permite investimento em criptomoedas de forma fácil e transparente

Itaú inova e passa a oferecer aos clientes o primeiro ETF listado na Bolsa brasileira que varia de acordo com a cotação de ativos digitais como Bitcoin

ilustração de criptomoedas

ilustração reprodução

Os clientes do banco Itaú interessados em criptoativos já podem investir nas moedas digitais, como o Bitcoin. Desde 26 de abril, o banco oferece a seus correntistas a possibilidade de adquirir cotas do primeiro ETF de criptoativos do Brasil.

O ETF (Exchange Traded Fund) é um fundo de investimentos negociado na Bolsa de Valores que replica o desempenho de algum índice. No caso do ETF de criptoativos, é o Nasdaq Crypto Index (NCI), criado pela Bolsa americana Nasdaq em parceria com a gestora de recursos brasileira Hashdex.

Com o código HASH11, o fundo torna a operação com criptoativos mais segura e transparente. Além disso, permite liquidez diária, custódia segura e facilidade para compra e venda, como acontece hoje com as ações negociadas em Bolsa.

“A aprovação do ETF é um marco para o mercado brasileiro, porque gera confiança nas transações com criptoativos e tranquilidade quanto aos riscos operacionais”, afirma Martin Iglesias, especialista em investimentos do Itaú.

Mas esse não é um investimento para todos. O Itaú recomenda que investidores com perfil conservador não incluam o ETF de criptoativos na carteira. “Esses investidores geralmente têm baixa aceitação a risco e necessidade de liquidez”, diz Iglesias.

Já para os perfis moderado, arrojado e agressivo há espaço para experimentar, mas o especialista do Itaú orienta a evitar concentrações superiores a 1%, 2% e 3% do total da carteira, respectivamente.

Segundo Iglesias, o risco de investir em criptoativos é hoje 3,5 vezes maior que o da Bolsa. A volatilidade média anual do Bitcoin alcança 74%. Para efeito de comparação, a Bolsa trabalha com nível de risco de 20%. Volatilidade é o nome dado no mercado financeiro para as oscilações nos preços de um ativo. Quanto maior a volatilidade, maior o risco de perda, mas também a possibilidade de ganhos maiores. “Além do risco alto, esse investimento é de longo prazo, que pode variar de 3 a 5 anos”, afirma Iglesias.

BITCOIN LIDERA

O ETF de criptoativos recebeu sinal verde da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em março e começou a ser negociado na B3 em 26 de abril. Seu desempenho oscila conforme a performance das seis criptomoedas que hoje compõem o fundo (Bitcoin, Ethereum, Stellar, Litecoin, Bitcoin Cash e Chainlink). A valorização de criptomoedas depende de alguns fatores, como maior demanda. Se a cotacão delas subir, o investidor ganha. Se cair, perde.

O Bitcoin, primeiro e até hoje o principal criptoativo do mundo, representa 79,7% do total de moedas do ETF, seguido pelo Ethereum, com 16,9%. O fundo vai rebalancear a cesta de moedas a cada três meses.

Para ser elegível ao índice NCI, as criptomoedas precisam atender a quatro critérios: ter liquidez, ser negociada em pelo menos três corretoras de cripto qualificadas, ser suportada por custodiante institucional, como Fidelity e Coinbase, e ter participação de no mínimo 0,5% no mercado total de criptoativos, que hoje está na casa de US$ 2 trilhões.

Esta é a primeira vez que o Itaú, maior banco privado da América Latina, lista um produto baseado em criptoativos. Como gestor, a prioridade do banco sempre foi dar acesso a investimentos seguros e regulados. “Com o ETF, isso agora é possível também nos criptoativos”, afirma Iglesias.

Antes desse lançamento, quem quisesse investir em Bitcoin ou em outras criptomoedas precisava procurar uma exchange e confiar que essa corretora continuaria existindo para cuidar do dinheiro e da chave de custódia, uma espécie de código seguro, necessário para acessar os valores e proteger a conta. Agora, basta acessar a corretora do Itaú e adquirir cotas do HASH11.

CURIOSIDADE E CONFIANÇA

As moedas digitais surgiram em 2008, com a criação do Bitcoin, cuja proposta era resolver dois problemas: a velocidade e o custo das transações com recursos dentro e fora dos países, eliminando a necessidade de uma autoridade central ou instituição financeira para intermediar e validar as transações.

O Bitcoin pode ser minerado, isto é, criado por meio de processamento computacional. O total de bitcoins que poderá existir é de, no máximo, 21 milhões. Quando atingir esse pico, a moeda não será mais minerada.

A tecnologia mãe das criptomoedas é o blockchain, um banco de dados descentralizado que registra na nuvem, de forma segura, todas as transações realizadas.

Nos últimos 12 anos, milhares de criptomoedas foram criadas, gerando curiosidade, mas também desconfiança. Até 2012, era um investimento exclusivo de entusiastas e curiosos que entendiam a tecnologia por trás das transações.

Em 2019, o mercado começou a se institucionalizar, com a participação de empresas e investidores profissionais. Um marco recente foi o IPO (oferta pública de ações) da americana Coinbase. Realizado em abril, foi o primeiro IPO de uma corretora de criptomoedas.

“Hoje há um interesse crescente das pessoas por criptoativos e, com o ETF, elas podem se sentir mais confortáveis e seguras para investir”, afirma Iglesias. “Mas ainda há incertezas e um risco importante, porque esse é um ativo que se valoriza, mas não podemos esquecer que muitos já perderam dinheiro.”

Ao fazer uma recomendação de investimento, os especialistas seguem um parâmetro que se baseia em três fatores: o retorno esperado, os riscos da operação e as correlações com outros ativos da carteira.

Com os criptoativos, esses fatores são ainda difíceis de mensurar. Daí a recomendação para ir devagar. “Para estimar o retorno esperado, precisamos ter modelos, como o valuation usado para ações, por exemplo, e nos criptoativos, por serem recentes, isso ainda é complicado de medir”, afirma Iglesias.

Os especialistas acreditam que quanto maior a adoção, mais maduro o mercado de criptoativos tende a ficar, com o aumento da liquidez e a diminuição da volatilidade.

Os primeiros números mostram que interesse não falta. A gestora Hashdex divulgou que a primeira emissão de cotas do Hashdex Nasdaq Crypto Fundo de Índice (HNCI) atingiu R$ 615,2 milhões, sendo R$ 110 milhões provenientes do Itaú, um dos coordenadores líderes da distribuição de cotas.