Projetos de desenvolvimento sustentável da Amazônia são escolhidos para investimento

Criado para conservar e desenvolver o bioma amazônico e melhorar a qualidade de vida da população, Fundo JBS Pela Amazônia selecionou seis iniciativas que vão receber a primeira rodada de investimentos

Amazônia Brasileira. Vista aérea da floresta amazônica.

Vista aérea da floresta amazônica Alex Almeida/Folhapress

Como promover uma economia que valorize o uso sustentável da floresta e melhore a qualidade de vida da população, aliando conservação e desenvolvimento do bioma amazônico? Iniciativas preparadas para resolver essa equação são fortes candidatas a receber investimentos do Fundo JBS Pela Amazônia.

Criado em setembro de 2020, o Fundo tem como pilares a conservação e a restauração da floresta, o desenvolvimento socioeconômico das comunidades e o desenvolvimento científico e tecnológico, para criar soluções inovadoras e disruptivas.

Agora, passados nove meses, seis iniciativas que se encaixam nesses pilares foram selecionadas para receber a primeira rodada de investimentos. Foram analisadas mais de 50, entre propostas recebidas pelo site do programa e prospectadas pela equipe de especialistas do Fundo. As seis escolhidas receberão, em conjunto, R$ 50 milhões em cinco anos.

“Todas as iniciativas selecionadas têm uma visão clara de como podem causar impacto social, econômico e ambiental para a região, gerando renda para as comunidades e preservando a floresta”, afirma Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia e ex-CEO da Seara.

Maior floresta tropical do planeta, a Amazônia concentra também uma rica biodiversidade. Com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados que abrangem nove estados brasileiros, a região tem cerca de 25 milhões de habitantes e renda per capita 20% menor que a média brasileira. Uma das formas de preservar sua biodiversidade é com o estímulo a novos negócios que promovam desenvolvimento sustentável, com redução das emissões de gases causadores de efeito estufa e criação de valor para os produtos da floresta e para a população local.

É para essa nova economia que o Fundo JBS pela Amazônia olha quando analisa as iniciativas que receberão investimentos.

“Além de se encaixarem nos pilares centrais do Fundo, buscamos iniciativas que estejam integradas às cadeias de valor da Amazônia, porque já existem várias maduras e expansíveis, como as do açaí, do cacau, da castanha e do pescado, que podem escalar com o aprimoramento gerado pelo acesso a novos mercados e financiamento”

Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia

O Fundo conta com um aporte de R$ 250 milhões da JBS, nos primeiros cinco anos, para financiar as iniciativas. Aberto a contribuições de outras empresas e instituições, receberá da JBS o mesmo valor para cada doação efetuada, até o teto de R$ 500 milhões. A intenção é que os recursos alcancem R$ 1 bilhão até 2030.

As primeiras iniciativas contempladas atuam em diversos negócios de impacto para a região amazônica. No Pará, uma delas integra pecuária e agricultura com foco no cultivo do cacau. No Amapá, o foco é o açaí. Um dos programas promove ainda a pesca sustentável do pirarucu.

As iniciativas devem beneficiar cerca de 16 mil famílias, com a geração de novos empregos e o aumento da renda em até 144%. Serão ainda alavancados 20 empreendimentos comunitários e desenvolvidas 30 startups de bioeconomia em parceria com a AMAZ, aceleradora de negócios da região amazônica com foco em startups de impacto socioambiental, ligada ao Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam).

“Os recursos do Fundo serão utilizados para selecionar, investir, acelerar e fazer a gestão e o acompanhamento de 30 negócios de impacto na Amazônia, startups e pequenos empreendimentos que tenham como propósito resolver problemas sociais e ambientais urgentes da região”, afirma Mariano Cenamo, CEO da AMAZ e diretor de novos negócios do Idesam.

Todas as iniciativas serão acompanhadas e monitoradas pelos especialistas do Fundo. “A perenidade delas é um ponto importante. Os investimentos devem ser de longo prazo, para que essas soluções de bioeconomia gerem impactos permanentes e deixem um legado”, afirma Joanita.

Para o cientista Carlos Nobre, um dos mais respeitados especialistas em aquecimento global e membro do comitê consultivo do Fundo JBS pela Amazônia, a primeira onda de investimentos mostrou claramente o apoio a iniciativas de base para o desenvolvimento de uma nova e sustentável bioeconomia de floresta em pé e para o empoderamento das populações locais, além da valorização dos produtos da floresta.

“É necessário que o JBS pela Amazônia não somente continue nessa linha dos três eixos (restauração florestal, ciência, tecnologia e inovação e empoderamento das comunidades), mas que busque parceiros para aumentar a escala e a aplicabilidade das iniciativas, para poder alavancar e escalar um modelo sustentável de desenvolvimento para a Amazônia, zerando o desmatamento, restaurando a floresta por meio de sistemas agroflorestais e agregando valor aos inúmeros produtos potenciais da Amazônia”, afirma Nobre.

Novas iniciativas podem ser inscritas durante o ano todo, no site do Fundo. Elas são analisadas por um comitê técnico composto por 11 integrantes. São profissionais ligados à área de sustentabilidade e com grande experiência na realidade da Amazônia, como Virgílio Viana (Fundação Amazonas Sustentável), Cira Moura (Consórcio Amazônia Legal) e Daniel Nepstad (Earth Innovation Institute). Além do comitê técnico, o Fundo conta com um conselho consultivo formado por nomes como Alessandro Carlucci (BSR), Marina Grossi (Cebds), Caio Magri (Ethos) e Nobre.

“Temos a oportunidade de fomentar o desenvolvimento do bioma amazônico, melhorar a qualidade de vida da população e ainda reduzir as emissões e sequestrar carbono. Isso mostra que a floresta em pé vale muito mais do que no chão”, afirma Joanita.

Conheça as primeiras iniciativas contempladas

As iniciativas que receberão a primeira onda de investimentos do Fundo JBS pela Amazônia englobam uma ampla gama de atividades na região, que vão desde a implantação de sistemas agroflorestais que transformam locais de cultivo e pecuária em áreas que sequestram carbono até cadeias sustentáveis de produtos da floresta. Conheça as seis primeiras, que receberão, em conjunto, investimentos de R$ 50 milhões pelos próximos cinco anos.

RestaurAmazônia: criada pela ONG Solidaridad, a iniciativa irá implantar em cinco anos, em 1.500 pequenas propriedades do Pará, sistemas agroflorestais, que integram pecuária, agricultura (cultivo do cacau) e floresta. Serão promovidas boas práticas agrícolas em uma área de 75 mil hectares, para que as propriedades mantenham sua viabilidade econômica, o sustento dos produtores e ainda ajudem a absorver carbono. O projeto segue um modelo testado e aprovado de desenvolvimento sustentável e agora, com o apoio do Fundo, poderá ganhar escala.

Programa Economias Comunitárias Inclusivas, nas comunidades de Bailique e Beira Amazonas (Amapá): investimento em três anos permitirá o fortalecimento da cultura do açaí, com a ampliação da renda de 240 famílias. Estão previstas a construção de fábrica própria para a produção de polpa, a ampliação do portfólio de produtos de maior valor agregado, a elaboração de plano para liofilização do açaí, o que diminui custos de logística, além da construção de escolas e da qualificação de jovens e mulheres para atuar na atividade. O projeto será implementado em conjunto por entidades como o Instituto InterElos, o Instituto Terroá e a cooperativa extrativista Amazonbai.

Projeto Pesca Justa e Sustentável: criada pela Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), a iniciativa fortalecerá a cadeia do pirarucu, com a compra de uma embarcação para processamento do pescado e estudo de viabilidade para a construção de uma indústria de processamento. Estão previstas capacitação e consultoria técnica para as comunidades, com o objetivo de abrir novos mercados para as associações pesqueiras da região do Médio Juruá (AM). O projeto deverá beneficiar 450 famílias, residentes em 55 comunidades ribeirinhas.

AMAZ (Aceleradora & Investimentos de Impacto): é a primeira aceleradora de negócios da região amazônica com foco no impacto socioambiental. Coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam), a AMAZ apoiará 30 startups em cinco anos, para alavancar negócios da floresta, além de estimular o ambiente empreendedor ligado à biodiversidade. “Os negócios que estamos buscando vão desde aqueles que fazem produtos relevantes para a restauração e a conservação da floresta até serviços, que também têm um papel fundamental para gerar viabilidade às cadeias de valor, como os de logística e rastreabilidade e os serviços ambientais e de turismo”, afirma Mariano Cenamo, CEO da AMAZ e diretor de novos negócios do Idesam.

Conexsus: o Instituto Conexões Sustentáveis irá ajudar a liberar crédito para pequenos agricultores que trabalham com castanha, açaí, pescado, madeira, óleos e resinas. Serão contratados e treinados 25 ativadores locais para ajudar pequenos produtores a terem acesso a crédito facilitado. Quinze cooperativas também receberão consultoria para se habilitarem em financiamentos com condições facilitadas.

Parceria Técnica com a Embrapa: a iniciativa visa a desenvolver tecnologias para aumentar o valor dos produtos da floresta, com inovações para alimentos “plant-based” e matérias-primas e insumos feitos a partir de nanofibras vegetais. Também estão previstos programas para reduzir emissões no campo, como a implantação de integração lavoura, pecuária e floresta, e para o desenvolvimento de tecnologias renováveis.