Os avanços da medicina nas últimas décadas permitiram a criação não apenas de medicamentos para um número maior de doenças como também de novas opções de drogas de alta tecnologia e grande eficácia. É o caso dos medicamentos biológicos, desenvolvidos a partir de células vivas.
Frutos da engenharia genética e de um processo altamente complexo de produção, os biológicos mudaram a forma de tratar o câncer e outras doenças graves, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
“Os medicamentos biológicos representam mais uma possibilidade de tratamento, oferecendo a chance de controle das doenças para pacientes que não responderam a outras terapias”, afirma Adriana Kakehasi, professora de reumatologia da Universidade Federal de Minas Gerais. “Alguns biológicos oferecem ainda melhor relação de segurança para pacientes que apresentaram efeitos colaterais com outros remédios”, completa.
Os biológicos são divididos em duas categorias: precursores e biossimilares. Precursores são os biológicos de marca original, aprovados para indicações específicas. Já os biossimilares são desenvolvidos tendo como referência produtos originais cuja patente já expirou.
“Os biossimilares são muito semelhantes aos precursores: têm a mesma estrutura e função e seguem a mesma indicação e dosagem. Uma pequena variabilidade ocorre por serem produzidos a partir de células vivas, mas isso não compromete a segurança ou a eficácia dos medicamentos”, explica Adriana.
Segundo a reumatologista, os biossimilares são produzidos com o mesmo rigor que os biológicos originadores. “São aprovados a partir de uma avaliação muito rigorosa. E a legislação brasileira está alinhada com o que é feito em outros países e com as diretrizes da OMS.”
No Brasil, o primeiro biossimilar foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2015. “Os europeus usam biossimilares há mais de 15 anos. A eficácia está muito clara pelos estudos e comprovada pela prática clínica. Precisamos entender isso no Brasil”, diz a especialista.
Entre as doenças graves tratadas com os biossimilares estão: vários tipos de câncer, diabetes, artrite reumatoide, psoríase, artrite psoriásica, artrite idiopática juvenil, doença de Crohn, colite ulcerativa, espondilite anquilosante, espondiloartrite axial, entre outras.
É importante esclarecer que os biossimilares não são medicamentos genéricos. Debora Gagliato, oncologista clínica da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica a diferença. “Os genéricos são sintéticos, representam outra classe de medicamento, produzidos por uma reação química simples. Quando o sintético quebra a patente, surgem os genéricos, que são cópias exatas.”
O processo de produção dos genéricos é mais curto, e os investimentos são bem menores do que para o desenvolvimento de um biossimilar. “Os medicamentos biológicos são muito mais complexos, pois são desenvolvidos a partir do cultivo de células vivas”, diz Debora. Além disso, os órgãos reguladores exigem que os biossimilares sejam submetidos a avaliações extensivas e sequenciadas para confirmar a alta qualidade.
Entre os biológicos, a grande vantagem do biossimilar é o menor preço em relação ao medicamento de referência. “A redução de custo do biossimilar em relação ao medicamento originador pode variar conforme o fabricante e até de país para país. No Brasil, os biossimilares podem custar até 50% menos que o medicamento de referência”, diz Thadeu Oliveira, diretor de Biossimilares, Alianças e Marcas Estabelecidas da Organon.
A Organon é uma empresa global de saúde que produz mais de 60 medicamentos que atendem várias áreas terapêuticas. Conta com dois biossimilares para tratamento de doenças reumatológicas, gástricas, dermatológicas e oncológicas. A partir de 2022, a empresa contará com mais biossimilares e o portfólio continuará a ser expandido
A oncologista Debora diz que os biossimilares trouxeram uma competitividade grande para o mercado. “Com a chegada deles, o custo de todas as moléculas foi reduzido.” As especialistas concordam que o menor preço aumenta o acesso dos pacientes a esse tratamento de última geração, tanto no SUS (Sistema Único de Saúde) como no sistema privado, e promove a sustentabilidade do sistema de saúde.
“Os recursos economizados podem ser usados não apenas para comprar mais remédios, mas para ampliar o número de leitos, adquirir equipamentos e outras inovações”, afirma Adriana.