Comer é muito mais do que ingerir nutrientes. As escolhas alimentares que fazemos no dia a dia influenciam nossa saúde ao longo da vida, além de estar relacionadas a importantes questões sociais e ambientais. E mais: a comida conecta as pessoas.
O Sesc São Paulo reconhece a importância de ampliar a reflexão sobre a alimentação e lança, dia 16, a quinta edição do projeto Experimenta! Comida Saúde e Cultura. Mais do que um evento, o Experimenta! convida o público a repensar o universo da alimentação em uma programação especial, com ações que incluem bate-papos, oficinas culinárias, cursos e outras atividades que apresentam diferentes olhares sobre o tema.
“A alimentação é uma área de conhecimento transversal, diretamente ligada à saúde, à cultura e diz respeito ao cotidiano de todas as pessoas”, diz Marcia Bonetti Sumares, gerente de Alimentação e Segurança Alimentar do Sesc São Paulo.
Segundo Marcia, a democratização do acesso à informação de qualidade amplia a autonomia para que as pessoas possam fazer escolhas alimentares conscientes, razão pela qual o Sesc São Paulo desenvolve um trabalho permanente de educação alimentar e nutricional.
“Com uma programação diversificada, reuniremos profissionais de várias áreas, com atividades que vão da teoria à prática, visando a promoção de hábitos alimentares saudáveis, que geram os melhores impactos individuais e coletivos”, afirma Marcia.
Nesse ano, a programação será totalmente online e gratuita, com atividades em salas virtuais, priorizando a troca de experiências em grupo, além de contar com outros formatos digitais. O projeto acontece de 16 a 24 de outubro nos canais digitais do Sesc São Paulo e das unidades. Confira aqui a programação.
SAÚDE ALÉM DOS NUTRIENTES
Nas redes sociais, na TV, nas conversas entre amigos, nunca se falou tanto sobre alimentação e sua importância para a saúde. O excesso de informação muitas vezes confunde as pessoas, que seguem ansiosas por alimentos milagrosos, raros e com poderes especiais.
Comer saudável, no entanto, é mais simples do que parece: a natureza nos oferece todos os nutrientes de que precisamos para uma vida cheia de saúde. Eles estão nos alimentos comuns, que encontramos na feira.
“Mas é preciso parar de pensar que se trata apenas de ingerir alimentos nutricionalmente adequados. A maneira como cada um se relaciona com a comida é tão importante quanto o que se come”, afirma Manoela Figueiredo, nutricionista especialista em comer intuitivo e mindful eating, e idealizadora da Nutrição Comportamental.
Manoela é entrevistada no podcast Você é o que você come!? Reflexões sobre comportamento alimentar, que estreia dia 24/10, domingo, às 15h. “Essa iniciativa do Sesc com o Experimenta! apresenta a alimentação de uma forma acessível e inclusiva, com conteúdos informativos, que falam da relação com a comida, de uma melhora de qualidade alimentar e oferecem a possibilidade de mudança”, diz.
Segundo a nutricionista, vivemos uma situação de nutricionismo, um terrorismo nutricional, como se, para ser saudável, a pessoa tivesse que ingerir apenas determinados alimentos, em quantidades e qualidades específicas. “O que e o quanto comemos é tão importante quanto de que maneira e com quem comemos. Onde comemos, por que e em que situação também importam.”
Ela propõe olhar não só para o que deve ser restrito e retirado, mas para o que deve ser acrescentado (como mais frutas e legumes, por exemplo). “Não temos que primar pela perfeição, mas pelo equilíbrio e pela sustentabilidade da nossa alimentação.”
Para uma alimentação saudável, Manoela diz que é importante que a maior parte dos alimentos seja in natura, que a comida seja preparada a cada dia e que inclua menos alimentos processados. O comer saudável, no entanto, é para atender as nossas necessidades biológicas e fisiológicas. Mas não comemos só por isso. “Dentro da saudabilidade alimentar temos que contemplar também a família, a comunidade, o relacionamento com a natureza, a nossa identidade, nossa cultura. Comer tem e pode estar associado ao prazer, e não à culpa”, diz.
Ela concorda que nossas escolhas alimentares ao longo da vida refletem na nossa saúde, mas diz que devemos ter um olhar para o todo, e não criticar ou avaliar cada refeição isoladamente. “É importante ampliar o olhar e avaliar como anda a nossa alimentação no período: está equilibrada? Tem alimentos de todos os grupos? Sem demonizar os alimentos ou classificá-los em bons e ruins, certos e errados.”
Manoela considera o momento atual pertinente para repensar a alimentação, uma vez que a pandemia trouxe pontos positivos e negativos. “Houve um resgate das relações familiares, do cozinhar, da comida afetiva. E teve um contraponto de exageros, do uso da comida para lidar com as emoções, um comer emocional. É preciso entender o momento de cada pessoa e trabalhar não a partir da culpa, mas do presente, com aquilo que se pode e quer mudar. Pequenos passos, pequenas mudanças de hábitos e inclusões de alimentos são mais importantes do que a radicalização”, explica.
Ela sugere o Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado pelo Ministério da Saúde em 2014, como uma referência para ajudar as pessoas que querem mudar o comportamento alimentar. “O guia é uma referência internacional porque traz um foco não em calorias e nutrientes, mas nos alimentos e nos níveis de processamento. E ele fala de equilíbrio, de uma alimentação nutricionalmente balanceada e saborosa, mas também culturalmente e socialmente adequada e que promove um sistema alimentar sustentável e saudável.”
A nutricionista defende que comer é um ato biopsicosociocultural. “É uma palavra grande, mas que contempla tudo o que está envolvido na nossa relação com a comida.”
DO CAMPO À MESA
As nossas escolhas alimentares também têm influências e consequências que afetam não apenas quem come, mas toda uma cadeia de acontecimentos e contextos que levam o alimento do campo até a mesa.
“Quando se pensa em adotar uma alimentação saudável e orgânica, a primeira motivação costuma ser o bem-estar pessoal. No entanto, além de as pessoas terem um olhar para a saúde individual, é importante saber onde e como os alimentos que consumimos são produzidos”, afirma Arpad Spalding, geógrafo e agricultor biodinâmico. “Se você está muito longe de onde o produto foi produzido, a maior parte do dinheiro fica no processo, com as pessoas que estão no meio do caminho, e não com quem produz”, explica.
Spalding, que trabalha com desenvolvimento local, organização social e comunitária e na construção de formas de comercialização justa há mais de 15 anos vai participar da live Alimentação saudável para todos: nossas escolhas são nosso futuro, no dia 19 de outubro (veja programação).
“Para que a alimentação seja boa para o mundo e para o planeta, é importante procurar consumir alimentos produzidos por agricultura familiar e pequenos agricultores, porque isso ajuda a firmar o homem no campo.”
Ele defende que a zona rural seja ocupada por pequenas propriedades, que produzam com diversidade, próximas dos centros de comercialização. “É preciso encurtar distâncias para diminuir o impacto ambiental.”
Segundo Spalding, se preocupar com o impacto da alimentação ajuda as pessoas a se conectarem com o ambiente onde vivem e com a natureza. “Quando nos conscientizamos que somos parte da natureza e que dependemos dela, passamos a fazer melhores escolhas para nós e para o meio ambiente.”