Foco no paciente e remuneração por resultado são desafios da saúde

Substituição do pagamento por procedimento é importante para sistema que prioriza o bem-estar

A discussão sobre o futuro da saúde passa pela análise do presente, com seus erros e acertos. Enquanto a expansão da APS (Atenção Primária à Saúde) no país é vista por especialistas como um divisor de águas em termos de acesso da população ao sistema de saúde, a mecânica de remuneração "fee for service", ou pagamento por procedimento, eleva os gastos sem priorizar a qualidade dos serviços e o resultado para o paciente.

Com o envelhecimento da população, o aumento da expectativa de vida e o iminente crescimento dos custos de saúde, é necessário definir estratégias e aprimorar os processos para oferecer uma medicina de qualidade e otimizada de uma forma sustentável.

Luciana Holtz,fundadora, presidente e diretora executiva do Instituto Oncoguia

Essa foi a tônica do debate sobre o Futuro da Saúde no QR Content. O médico Claudio Lottenberg, presidente do UnitedHealth Group Brasil e do Conselho da Sociedade Israelita Brasileira Albert Einstein, abriu a discussão do painel "Qual Sistema de Saúde Queremos Ter nos Próximos Anos" levantando a questão da formação médica no Brasil e a necessidade de preparar os médicos para uma nova realidade. "A formação do médico foca a doença, não a saúde do paciente. Os médicos são treinados para fazer pesquisa ou trabalhar dentro de um modelo assistencial em hospital. Como consequência, há uma tendência de transformar o que não é complexo em alta complexidade", afirma.

Lotenberg/Lotenberg
Lotenberg
Claudio Lottenberg, médico, presidente do UnitedHealth Group Brasil

A importância de colocar o paciente como ponto central do atendimento foi consenso entre os participantes do debate. "É lógico que queremos eficiência, foco em prevenção e em diagnóstico precoce, mas também que os tratamentos priorizem qualidade de vida. Que eles possam ser personalizados - e não digo personalizado como sinônimo de complexidade tecnológica: falo de cuidado personalizado, de olho no olho, de aperto de mão, de o médico saber o nome do paciente, fazendo com que ele se sinta cuidado", diz Luciana Holtz, fundadora, presidente e diretora executiva do Instituto Oncoguia.

Samantha França, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, lembra que centrar a atenção no indivíduo é um dos princípios da Atenção Primária à Saúde e da medicina de família. "Esse conceito vem de décadas, mas é muito atual. Pois o que estamos discutindo hoje é a relevância de um sistema centrado nas necessidades das pessoas, sem barreiras para acesso e que considere o contexto social e familiar dos pacientes", afirma.

Samantha França, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

A APS é o primeiro nível de assistência dentro do sistema de saúde e engloba ações como prevenção, diagnóstico, tratamento e manutenção da saúde. Esse serviço pode atender cerca de 80% das necessidades de saúde de uma pessoa ao longo de sua vida. Na base desse atendimento estão tecnologias acessíveis que levam os serviços de saúde para mais perto dos lugares de vida e trabalho das pessoas.

França, que é médica de família e comunidade, reforça a importância da coordenação e integração das informações em diferentes níveis. "Não acredito em um sistema ou serviço que não seja pensado em rede, que não seja pensado a partir do território e das necessidades da população que precisa ser atendida. Precisamos considerar os diferentes níveis do sistema e o percurso do paciente, para que ele possa estar no lugar certo na hora certa."

Estúdio Folha Qualirede

Irene Minikovski Hahn, fundadora e presidente da Qualirede, considera a mudança do sistema de remuneração dos prestadores de serviços (o fim do "fee for service") um passo fundamental para a implantação de um sistema focado na saúde das pessoas, não na doença. "Estamos passando por um momento muito importante, de transformação, e precisamos puxar essa mudança. Queremos um sistema que de fato entregue saúde para as pessoas, que nos atenda antes de ficarmos doentes, que não trate apenas a doença. Precisamos de um sistema de saúde que trate a saúde de fato", conclui Hahn.

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