Medicamentos biológicos revolucionam tratamento de artrite idiopática juvenil

Diagnóstico precoce e tratamento adequado podem evitar redução da mobilidade e incapacitação física

O avanço da medicina nas últimas décadas torna o momento atual privilegiado para o tratamento de doenças complexas como a artrite idiopática juvenil (AIJ), que afeta a qualidade de vida de crianças e adolescentes e, se não tratada, pode levar à redução da mobilidade e à incapacidade física.

"A artrite idiopática juvenil é uma doença crônica autoimune, que acomete crianças e adolescentes menores de 16 anos e se manifesta pela inflamação de uma ou mais articulações que persiste por ao menos seis semanas, sem motivo aparente", explica o pediatra e reumatologista pediátrico Claudio Len.

O médico, que é professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi entrevistado pela jornalista Angélica Banhara na live "Conscientização, atenção e cuidados com pacientes com artrite idiopática juvenil (AIJ)". Participaram da conversa Renata Soares, fisioterapeuta de crianças e adolescentes, e Carlos e Anna Heckmann, pais de Stella, 11 anos, diagnosticada com AIJ em 2020. A live, produzida pelo Estúdio Folha com patrocínio da AbbVie, pode ser acessada aqui.​

As doenças autoimunes não têm uma causa específica: elas acontecem, eventualmente, com predisposição genética e, às vezes, têm um fator desencadeante. Len explica que o diagnóstico da AIJ não depende de um exame específico, mas do parecer médico a partir de determinados critérios e da experiência clínica. "É um diagnóstico de exclusão: o médico primeiro descarta outras doenças, como traumas e infecções."

Segundo o pediatra, não saber a causa exata da doença não impede de tratá-la, e esse é um ponto muito importante. "Sabemos a fisiopatologia da doença, ou seja, como ela funciona. E temos um medicamento capaz de bloquear a inflamação de uma maneira certeira e por tempo prolongado", afirma.

Uma boa relação entre médico, paciente e familiares é fundamental para que o tratamento tenha sucesso, uma vez que a sua duração é prolongada. O tratamento é individualizado, envolve educação sobre a doença e controle da inflamação e da dor com o uso de medicamentos. A fisioterapia é muito importante desde as fases iniciais da doença. O início do tratamento deve ser precoce; nos casos de demora, pode haver comprometimento da cartilagem articular, acarretando deformidades e limitações físicas.

"A fisioterapia age em conjunto com o remédio. Na AIJ, é comum, por conta da inflamação, haver engrossamento e dor das articulações afetadas. Às vezes uma junta gruda na outra e a criança perde o movimento", afirma a fisioterapeuta Renata Soares.

Quando uma ou mais articulações estão comprometidas, o corpo todo sofre, tentando compensar. "A fisioterapia atua equilibrando o corpo: aliviando aquelas juntas que estão sobrecarregadas e também agindo na articulação inflamada. A falta de movimento enrijece a articulação: nós estimulamos o movimento correto, evitando isso. E trabalhamos também na recuperação muscular, pois as crianças perdem musculatura com a ausência de movimento."

Cada tipo de artrite idiopática juvenil tem um tratamento específico e o esquema terapêutico pode variar de um paciente a outro, de acordo com as suas manifestações clínicas. "Mas existem diretrizes para tratamento da AIJ, com medicamentos de segurança comprovada", diz Len. Inicialmente são usados antiinflamatórios, para aliviar a dor.

"A primeira linha do tratamento para controle da doença é com um imunossupressor de fácil administração (uma vez por semana por via oral ou subcutânea), seguro e de baixo custo. Ele controla a doença em cerca de 70% dos pacientes. Nos casos em que esse imunossupressor não funciona, prescrevemos os biológicos, que são medicamentos de última geração, desenvolvidos por meio de processos altamente tecnológicos, a partir de organismos vivos."

Os medicamentos biológicos fizeram toda diferença para o tratamento de Stella, diagnosticada com AIJ há pouco mais de um ano. "Ela começou a sentir dores fortes nos joelhos no dia do aniversário. Depois de uma bateria de exames, veio o diagnóstico de artrite idiopática juvenil poliarticular, ou seja, atingindo várias articulações: punhos, dedos, joelhos, tornozelos e os pés", conta Carlos Heckmann, o pai.

"Foi um período de muito sofrimento para a família toda. Stella não se locomovia, não tinha força nem para levantar o pé. E ela era extremamente ativa antes: jogava futebol, fazia ginástica, nadava… Você ver sua filha quase definhar em dois meses é muito duro. A musculatura dela atrofiou, porque não conseguia se movimentar: para tomar banho, tinha que sentar em uma cadeirinha. Eu colocava ela no carro no colo."

Anna com a filha Stella
Anna e Carlos com a filha Stella, diagnosticada com AIJ há pouco mais de um ano - Arquivo pessoal

Os anti-inflamatórios aliviavam a dor por pouco tempo. O tratamento com o imunossupressor deu resultado em um primeiro momento, mas o quadro estacionou. E Stella iniciou o tratamento com o medicamento biológico.

"A melhora foi impressionante: em 45 dias, Stella praticamente recuperou os movimentos. Dois meses depois, o médico falou que a AIJ tinha desaparecido. Houve remissão total da doença. Ela voltou a ter uma vida normal: andar de bicicleta, dançar, virar estrela. Parece um milagre", conta a mãe, Anna.

Os medicamentos biológicos para tratamento da artrite idiopática juvenil são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e foram incluídos entre as terapias obrigatórias que devem ser cobertas pelos planos de saúde.

Estudo realizado por profissionais da Unifesp com estudantes de escolas particulares da região metropolitana de São Paulo mostrou que 1 em cada 500 crianças e jovens até 16 anos apresenta artrite idiopática juvenil. Os principais sintomas são dor, inchaço e rigidez matinal nas articulações. Diante desses sintomas, procure o pediatra.

O reumatologista pediatra Claudio Len e a fisoterapeuta Renata Soares fazem parte da ONG Acredite (https://www.acredite.org.br/), organização sem fins lucrativos que oferece informações e apoio a crianças e adolescentes com doenças reumáticas.

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