A indústria brasileira faz a lição de casa quando o assunto é sustentabilidade. São empresas que chamam para si a responsabilidade de preservar o meio ambiente e reduzir as emissões de gases causadores do aquecimento global. “Para a indústria, a sustentabilidade não é novidade”, diz a diretora de Relações Institucionais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Mônica Messenberg.
De acordo com a executiva, a sustentabilidade está no DNA das empresas, que buscam eficiência e economia de recursos para se tornarem mais competitivas e atenderem às exigências do mercado internacional. O mundo cobra do Brasil responsabilidade ambiental, e o setor privado tem interesse em se manter alinhado com os acordos internacionais sobre o clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
“O consumidor brasileiro também vem cada vez mais solicitando responsabilidade das empresas, que elas estejam mais alinhadas com a sustentabilidade”, observa Messenberg.
A exploração adequada dos recursos garante não só a conservação do meio ambiente e a redução das emissões mas a diminuição de custos por meio do reaproveitamento de materiais e da reciclagem, a chamada economia circular, conceito que, em linhas gerais, descreve o retorno do resíduo ao processo produtivo como matéria-prima.
Segundo dados da CNI, 76,4% das indústrias brasileiras adotam alguma prática de economia circular. “É uma estratégia de sobrevivência”, diz Messenberg.
A Danone, por exemplo, se comprometeu a reciclar 100% de plástico equivalente da linha de águas Bonafont colocado no mercado e mantém um projeto em parceria com cooperativas de catadores(as) que recolheu quase 3,4 mil toneladas de material em 2020.
No caso do alumínio, a taxa de reciclagem no Brasil é de 56%, ao passo que a média global é de 26%. O patamar sobe para 97% no segmento de latas de alumínio para bebidas.
Além da reciclagem e da logística reversa, o reúso de água é bastante utilizado. A executiva destaca que várias empresas têm investido em iniciativas de reúso de água, o que as torna mais preparadas para enfrentar um eventual cenário de crise hídrica no Brasil.
“Alinhar indústria e sustentabilidade faz parte do negócio. As empresas reconhecem e trabalham em prol disso”, afirma Messenberg. Ela acrescenta que a economia circular tem que ser estimulada com apoio financeiro, tecnológico e incentivos fiscais. “É isso que vai fazer esse modelo dar um salto”, afirma.
Reduzir emissões e zerar o balanço de carbono tem se tornado prioridade de vários setores. De acordo com a CNI, a indústria tem participação de 20,4% no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, mas os processos industriais são responsáveis por apenas 6% das emissões de gases de efeito estufa
As indústrias de cimento brasileiras, por exemplo, emitem 11% menos CO2 por tonelada produzida do que a média mundial, e o setor tem como meta reduzir em mais 33% essas emissões até 2050, em convergência com o Acordo de Paris sobre o clima.
A JBS, do setor de carnes, se comprometeu a zerar seu balanço líquido das emissões de gases de efeito estufa até 2040.
Na área de papel e celulose, empresas como a Suzano adotam manejo florestal sustentável, intercalando plantações de eucalipto com áreas de mata nativa, e conserva 960 mil hectares na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Esse setor destina 9 milhões de hectares ao plantio de árvores para industrialização e preserva outros 5,9 milhões de hectares de mata nativa. Além disso, a taxa de reciclagem de papel no país é de 66,9%, uma das mais altas do mundo.
Vale ressaltar que as fontes renováveis representam aproximadamente 83% da matriz elétrica brasileira, ao passo que nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) a participação varia de 18% a 27%.
INDÚSTRIA SUSTENTÁVEL
Exemplos de ações de preservação, redução de emissões e economia circular
SUZANO
- Intercala plantações de eucalipto com áreas de mata nativa
- Planta mais de 500 mi mudas de eucalipto por dia
- Conserva 960 mil ha na Mata Atlântica, Amazônia e Cerrado
- Preserva áreas que estocam mais de 315 milhões de toneladas de CO2 equivalente
- Pretende conectar 500 mil ha de áreas prioritárias até 2030
JBS
- Net Zero: compromisso de zerar o balanço líquido das emissões de gases de efeito estufa até 2040
- Fundo JBS pela Amazônia: apoiar e financiar projetos de desenvolvimento sustentável. A JBS já está aportando R$ 250 milhões nos primeiros 5 anos, e a meta é somar R$ 1 bilhão até 2030 com parceiros
- Plataforma Pecuária Transparente: usa tecnologia blockchain para estender o monitoramento via satélite, que já cobre 100% dos fornecedores da JBS, aos fornecedores deles também, em um prazo agressivo: até 2025
L'ORÉAL
- Reduziu em 81% as emissões de CO2 no grupo e se compromete a ser 100% Carbono Neutro até 2025. No Brasil, trabalha para atingir a neutralidade ainda em 2021
- Até 2019, auxiliou 65 mil pessoas em comunidades carentes a encontrarem emprego com programas de compras e inclusão solidárias
- Anunciou 100 milhões de euros para regeneração de ecossistemas e desenvolvimento da economia circular
- Destinou 50 milhões de euros a um fundo de apoio a mulheres vulneráveis
RAÍZEN
- Programas de sustentabilidade cobrem 90% da cana-de-açúcar utilizada
- Utilização de biogás para geração de energia
- Certificação Bonsucro de padrões ambientais, sociais e econômicos
- Projeto de engajamento de fornecedores com sustentabilidade ambiental e econômica e respeito aos direitos humanos e trabalhistas
- Metas de redução de emissões e redução de captação de água
DANONE
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•Água Bonafont vai recolher e reciclar 100% do volume de plástico equivalente colocado no mercado
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Programa Avante! Recicla, no sul de MG e SP, com 10 cooperativas de catadores(as)
- Quase 3,4 mil toneladas de material coletado em 2020
- São 185 cooperados(as) participantes com renda média mensal de R$ 1.240
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Programas de redução de emissões de carbono, sistemas regenerativos de produção, bem-estar animal, economia de água e inclusão
NATURA
- Atua na Amazônia há mais de 20 anos
- Estabeleceu relações sociais e de pesquisa com comunidades extrativistas
- Ajuda na preservação de 2 milhões de ha (na foto, Sistema Agroflorestal da Natura)
- Usa ingredientes de origem sustentável
- Produtos 100% carbono neutro
- Reutiliza 665 toneladas de plástico por ano nas embalagens
Folha e CNI promovem seminário em setembro
A Folha de S.Paulo e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) promovem em setembro o seminário online “Meio ambiente e sustentabilidade no contexto das negociações internacionais”. O evento será realizado às vésperas da COP-26, conferência da ONU sobre o clima que vai ocorrer em novembro, em Glasgow, na Escócia.
“É preciso dar conhecimento do que está sendo feito no Brasil, internamente e externamente”, afirma Mônica Messenberg, diretora de Relações Intitucionais da CNI. “Mostrar que existem experiências exitosas em vários setores e que as empresas brasileiras trabalham com sustentabilidade nas linhas mais modernas.”
Nesse sentido, o seminário irá tratar de temas como as tendências do pós-pandemia, a participação do Brasil nas negociações ambientais internacionais, a sustentabilidade na indústria brasileira, a transição para a economia circular, a bioeconomia no futuro do desenvolvimento do país, inovação na área e atração de financiamentos, reúso de efluentes, concessões florestais e o marco legal ambiental.