DNA ajuda a identificar tratamento mais eficaz contra o câncer de mama

Aliados ao cuidado integrado de uma equipe multidisciplinar, os avanços nos exames preventivos e o aperfeiçoamento das ferramentas diagnósticas e terapêuticas personalizam a abordagem da doença e tornam a jornada das pacientes mais tranquila

DNA ajuda a identificar tratamento mais eficaz contra o câncer de mama

DNA ajuda a identificar tratamento mais eficaz contra o câncer de mama Henrique Assale

A Organização Mundial da Saúde soou o alarme em fevereiro de 2021. Com quase 2,3 milhões de novos casos, o câncer de mama ultrapassou o de pulmão e se tornou a neoplasia maligna mais comum do mundo. Até 2040, globalmente, o número de diagnósticos deve chegar a 3 milhões ao ano. E o de mortes, a um milhão.

Vários fatores explicam a escalada vertiginosa da doença, a maioria relacionada ao estilo de vida contemporâneo. Um deles é a longevidade. Mulheres mais velhas são mais propensas a desenvolver o câncer, sobretudo depois dos 50 anos (veja quadro). Outra ameaça é a exposição prolongada ao hormônio estrógeno. A substância responsável pelo controle da ovulação e pelas características físicas femininas pode servir de combustível para a proliferação das células tumorais.

A partir da década de 1960, com o movimento de emancipação feminina e a popularização das pílulas anticoncepcionais, as mulheres adiaram a maternidade e passaram a ter menos filhos –quando os têm. "E, quanto maior o número de ciclos ovulatórios, maiores são os riscos de câncer", explica a Dra. Bruna Zucchetti, oncologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, pertencente à Dasa, a maior rede de saúde integrada do Brasil. Atualmente, ao longo da vida, uma mulher tem 12% de probabilidade de ter a doença. Nos anos 1940, apenas 5%.

Como os ganhos na expectativa de vida e a liberdade feminina são inegociáveis e incanceláveis, o futuro é de grandes desafios na conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Uma necessidade que se tornou urgente com a pandemia, quando consultas, exames e tratamentos foram postergados.

O câncer de mama está também associado à obesidade, adverte a Dra. Bruna. Os quilos em excesso dobram os riscos da doença. E para manter o peso corporal adequado é preciso praticar atividades físicas regulares e ter uma alimentação saudável, rica em verduras, legumes e frutas --e pobre em açúcar, comida industrializada e carne vermelha. Recomenda-se ainda não exagerar no álcool e nunca fumar.

É preciso também insistir na importância do check-up anual das mamas (veja quadro). A medicina dispõe de um arsenal bastante eficaz para a detecção precoce do câncer. Os exames mais modernos conseguem flagrar lesões do tamanho de um grão de areia. Com a doença em fases iniciais, a cura é possível em, pelo menos, 95% dos casos.

"Entre as pacientes com acesso fácil a especialistas, os diagnósticos verdadeiramente precoces chegam a 90%, como nos países desenvolvidos", afirma o Dr. Ezio Novais Dias, mastologista da AMO, em Salvador. Também da Dasa, a AMO é referência em oncologia para as regiões Norte e Nordeste do país. "Infelizmente, essa não é a realidade da maioria das brasileiras", completa o médico. Em geral, no Brasil, cinco em dez casos são descobertos tardiamente. Em estágios avançados, as taxas de remissão caem para 35%.

Nas últimas décadas, o manejo do câncer de mama registrou avanços fenomenais. Nos melhores centros, a abordagem é personalizada. Capazes de precisar a origem da doença de cada paciente, as análises do DNA do tumor indicam o melhor tratamento e potencializam as chances de cura. "Na Dasa Genômica, temos o Endopredict, voltado para dois terços das pacientes", exemplifica o Dr. Cristovam Scapulatempo Neto, diretor médico de patologia e genética da Dasa. "Esse teste identificou que até 78% das mulheres sem metástase linfonodal e até 30% das mulheres com metástase linfonodal não precisam fazer quimioterapia." Ou seja, graças ao Endopredict, várias pacientes não são mais submetidas desnecessariamente à toxicidade da químio.

Como lembra o mastologista da AMO, Dr. Ezio, os exames de DNA são importantes também para o aconselhamento genético familiar. Entre 5% e 7% dos cânceres de mama são decorrentes de mutações germinativas e, portanto, hereditários. A mãe, irmãs e filhas de uma mulher com alterações nos genes BRA1 ou BRCA2, as mais frequentes, podem passar pelo mesmo teste. Em caso positivo, têm a oportunidade de reforçar os cuidados preventivos e se adiantar à doença.

Com o conhecimento da genética do câncer, foram projetados medicamentos capazes de atuar em estruturas muito específicas das células cancerosas e das células de defesa do organismo. Mais precisos e menos tóxicos, têm proporcionado à mulher, até nas situações graves, viver mais, com qualidade. "Se considerarmos em conjunto: a melhora dos exames, programas de rastreamento de detecção precoce e os avanços dos tratamentos, temos uma queda importante na mortalidade", diz o Dr. André Perina, cirurgião oncológico do Hospital Santa Paula, na capital paulista, marca pertencente à Dasa. "Segundo um estudo americano, desde 1989, houve uma redução de 42% no número de mortes. Essa queda está menor nos últimos anos (1%, por ano), mas ainda em declínio."

As terapêuticas tradicionais também evoluíram e estão mais humanizadas. "Novas drogas quimioterápicas e imunoterápicas e novos equipamentos de radioterapia, entre outros avanços, levaram a melhores resultados", reforça o Dr. Ezio Novais. As cirurgias estão mais conservadoras. Com o surgimento da oncoplastia, as mulheres podem sair da mesa de operação com a mama reconstruída. Novos produtos aliviam os efeitos mais severos da químio. No Hospital Nove de Julho, já na primeira sessão, a paciente ganha de presente uma touca de resfriamento, para amenizar a sempre tão temida e desconfortável perda de cabelo.

O foco no bem-estar da paciente, sob a atenção integrada de uma equipe multidisciplinar, como os oferecidos pela Dasa, agiliza o diagnóstico e humaniza o tratamento. Como os novos medicamentos são orais, tomados pelas pacientes em casa, o trabalho dos enfermeiros navegadores, por exemplo, torna-se indispensável.

Em contato remoto frequente com as pacientes, tiram dúvidas e orientam sobre as melhores condutas. Quando esses profissionais não estão presentes, o índice de abandono chega a 30%, conta a Dra. Bruna. O cuidado personalizado e o acolhimento da paciente ao longo de toda a sua jornada reforçam a confiança de que, sim, é possível vencer o câncer de mama.