Novos exames dão mais precisão ao diagnóstico do câncer de próstata

Ressonância magnética, análises do DNA, cirurgias menos invasivas e medicamentos mais precisos, aliados ao cuidado integrado do paciente e à mudança de comportamento masculino, tornam o manejo da doença mais efetivo

Imagem colorida mostra desenho de homem negro, de terno, com expressão pensativa no rosto

Novos exames dão mais precisão ao diagnóstico do câncer de próstata Henrique Assale

Descrito pela primeira vez em 1853, pelo cirurgião inglês John Adams, o câncer de próstata foi considerado "uma doença muito rara", como anotou o médico do The London Hospital, em seu relatório. Também pudera. Na Inglaterra vitoriana, a expectativa de vida era de 35 anos e os tumores prostáticos, hoje se sabe, tornam-se mais frequentes com o avançar da idade. De todas as neoplasias malignas, é a que mais se associa ao envelhecimento.

A incidência da doença começa a aumentar a partir dos 50 anos, acometendo 10% dos homens. "Estudos de necropsia revelam que, em pacientes acima de 80 anos, a doença foi encontrada em até 80% das próstatas examinadas", diz o Dr. Augusto Mota, oncologista da AMO, em Salvador. Pertencente à Dasa, a maior rede de saúde integrada do Brasil, a AMO é referência em oncologia para as regiões Norte e Nordeste do país.

Segunda neoplasia maligna mais comum entre o sexo masculino, depois do câncer de pele não melanoma, os tumores prostáticos registram quase 66 mil novos casos por ano, no Brasil, e 1,4 milhão, no mundo. A doença é a segunda causa de morte por câncer entre os homens –dos 305 mil óbitos globais, por ano, 16 mil são brasileiros. Quando a doença é detectada em estágios iniciais, as chances de cura são próximas de 100%. Por isso, é imprescindível manter o check-up da próstata em dia (veja quadro).

Ao longo dos últimos anos, o arsenal da medicina para o diagnóstico e tratamento do câncer de próstata se sofisticou muito. Um dos avanços mais notáveis foi a incorporação da ressonância magnética para a detecção da doença. Ao capturar imagens de alta definição da glândula prostática, o exame se revelou decisivo na indicação de quais pacientes devem ser submetidos à biópsia.

Tradicionalmente, o procedimento era indicado para homens com suspeita de câncer, embasada em alterações no toque retal e níveis elevados de PSA. Guiado por ultrassonografia, o radiologista retirava de dez a doze amostras randomizadas do tecido prostático. O estudo Precision, publicado no prestigioso The New England Journal of Medicine, em 2018, porém, mostrou que, em relação à técnica convencional, a ressonância magnética reduziu o número de biópsias supérfluas e aumentou o de biópsias necessárias em 12%. Ou seja, a ultrassonografia deixou escapar doze em cada cem tumores clinicamente significantes. "Hoje em dia, não se faz mais biópsia baseada apenas em PSA e toque retal", diz o Dr. Rafael Coelho, urologista do Hospital Nove de Julho, também da Dasa. "Todas as diretrizes indicam a ressonância magnética."

O exame tem sido usado também para o monitoramento dos pacientes em vigilância ativa. Em caso de doença de baixo ou muito baixo risco, é possível não fazer nada, apenas acompanhar a evolução do tumor com exames laboratoriais e de imagem, sem risco de perda de tempo no tratamento ou menor chance de cura em caso de progressão da doença.

Ainda no campo do diagnóstico, a Dra. Natalia Fraile, do Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula (Iosp), em São Paulo, também pertencente à Dasa, destaca a importância do exame PET/CT PSMA na detecção do câncer metastático, quando os valores de PSA ainda são baixos. "É indicado para pacientes com suspeita de doença mais agressiva ou para aqueles que apresentaram elevação do PSA mesmo depois de submetidos a algum tratamento", diz ela.

Os avanços no controle do câncer de próstata promoveram conquistas importantes também no campo da cirurgia, sempre tão temida pelos homens. "A prostatectomia radical auxiliada por robô reduziu de maneira significativa as consequências indesejáveis da cirurgia convencional, como incontinência urinária e impotência sexual", lembra o Dr. Mota. Os pacientes mais graves, com doença metastática, se beneficiaram com o lançamento de medicamentos orais, como os antiandrogênicos mais modernos. Extremamente precisos, são mais eficazes e oferecem menos efeitos adversos. Os doentes não só vivem mais como vivem bem.

O foco do cuidado no bem-estar do paciente, sob a atenção integrada de uma equipe multidisciplinar, como são os serviços oferecidos pela Dasa, aliado aos avanços da oncogenética permitem o tratamento personalizado. Ferramentas ultramodernas, como os painéis por sequenciamento genético de nova geração (NGS, na sigla em inglês), fornecem um retrato detalhado do DNA da célula tumoral na busca pelas alterações associadas à gênese da doença de cada paciente. "Cerca de 12% dos homens com câncer metastático e 6% dos portadores de doença de alto risco têm predisposição genética identificada", diz o Dr. Cristovam Scapulatempo Neto, diretor médico de patologia e genômica da Dasa.

A análise do genoma do câncer não só permite aos médicos prever a evolução do câncer e seu risco de metástase como antecipar a resposta do paciente a determinada terapia. Tumores decorrente de mutações germinativas nos genes BRCA1 e BRCA2, as mais comuns no câncer de próstata, são, por exemplo, mais sensíveis aos medicamentos de terapia alvo que bloqueiam a ação da PARP, que significa enzima polimerase, essencial para o reparo das quebras no DNA.

As conquistas médicas no controle dos tumores prostáticos são importantíssimas, claro, mas perderiam muito de seu brilho não fosse um avanço igualmente imprescindível, o de comportamento. Graças a campanhas de conscientização sobre a doença, como o Novembro Azul, ano após ano, um número cada vez maior de homens se livra dos preconceitos e se submete aos exames de prevenção do câncer de próstata