O primeiro passo para desacelerar é justamente tomar consciência do problema. Entender, como mostra a pesquisa do Datafolha, que a maioria de nós vive no ritmo 2x e todas as consequências que isso traz.
Foi o caso da chef de cozinha Karen Checchia Alves, de 34 anos. Vivendo em um ritmo acelerado por conta do trabalho, ela entendeu que era preciso "criar" tempo para cuidar mais de si mesma.
Com a ioga, ela conseguiu ter a sensação de estar mais presente nos momentos que compartilha com outras pessoas e ficar mais atenta ao que acontece ao seu redor. "A ioga me traz o equilíbrio da calmaria e da expansão. Também faço exercícios físicos na academia, que ajudam na liberação de energia acumulada", diz.
Receber os amigos em casa para um jantar especial e mesmo um bate papo em um bar também entraram na lista de prioridades da chef de cozinha. Assim como ela, a pesquisa da Eisenbahn e do Datafolha mostra que, para 66% dos entrevistados, o fato de compartilhar as refeições com pessoas da família ou amigos contribui muito para se dedicar melhor ao que realmente importa.
E nessa hora que as pessoas costumam se desligar dos problemas, priorizar a escuta e a troca de afetos. É o que o consultor André Carvalhal chama de "a vida que é realmente vivida" - a diferença entre uma vida acelerada e uma em que há atenção aos detalhes.
"É a descompressão seja lá do que for, com presença, atenção aos detalhes e foco. Então, se eu estou aqui falando com você, eu realmente estou falando com você. Se você está aí lendo esta entrevista, você está lendo esta entrevista, e não compartilhando esse momento com alguma outra coisa. Acho que, dessa forma, a gente realmente usufrui da vida e aprofunda a nossa vivência e a nossa experiência aqui no planeta."
DESAFIOS
Carvalhal diz que, mesmo para ele, desconectar-se é um desafio. E ele não fala apenas de se desconectar do celular ou das redes sociais, mas de abrir mão de tentar fazer tudo ao mesmo tempo. E muita gente pensa assim. Segundo a pesquisa, 89% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte que "mais importante do que fazer muitas coisas ao mesmo tempo é conseguir aproveitar os pequenos detalhes de tudo que estamos fazendo."
Esse não estar presente, citado por Carvalhal, é mais comum do que se imagina. "Durante muito tempo, eu vivia e esquecia as coisas: o que eu tinha comido ontem, o nome de uma pessoa que eu acabei de conhecer, a história de um filme que acabei de ver. Eu era incapaz de contar a história do filme", recorda.
Fazendo parte dos poucos que consideram levar uma vida em ritmo calmo ou muito calmo (9%, segundo o Datafolha), o funcionário público Victor Dias, de 36 anos, gosta de se dedicar sem pressa ao ikebana – arranjos florais de origem japonesa. "Faço coisas que não me dão tanto prazer, como cozinhar, o mais rápido possível. Mas quando vou fazer ikebana procuro um horário que não terei que fazer nada", afirma.
Para conseguir esse momento em que não terá de fazer nada, Victor Dias diz que foi preciso organizar melhor o seu tempo. Mas também é preciso definir limites: 67% dos entrevistados do Datafolha consideram que "ter limite de horários para as tarefas rotineiras" é um hábito que também contribui muito para se dedicar às coisas importantes.
Como muitas vezes a velocidade do dia a dia é imposta pelo mundo exterior, nem sempre há tempo, ou mesmo vontade, de fazer um hobby ou uma nova atividade, como ioga ou ikebana. Para sair do automático, porém, não é preciso muito. Desligar o celular ao conversar com um amigo ou simplesmente prestar atenção na letra de uma música ao tomar um café podem se transformar em um movimento de mudança.
Confira todo os detalhes da pesquisa em: (www.eisenbahn.com.br/modoacelerado)
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