As principais escolas de medicina do país estão atentas às novas tecnologias que têm ajudado médicos e médicas a serem mais assertivos no diagnóstico e no tratamento das mais variadas doenças. Mas mais do que ensinar como lidar com essas novas ferramentas, a prioridade é formar pessoas que entendam a necessidade de atualização constante e, principalmente, de focar em prevenção e promoção de saúde, enxergando o paciente de maneira integrada e deixando para trás um modelo convencional e compartimentado, que olhava a doença e se restringia a tratar sintomas.
"Os conceitos estão mudando muito rapidamente. Estudos mostram que, a cada cinco anos, 80% do conhecimento médico vai mudar. O que eu estiver ensinando agora vai ficar obsoleto em pouco tempo", afirma Sigisfredo Brenelli, coordenador do curso de medicina da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.
Nesse cenário, as faculdades de medicina também mudaram o olhar para a formação dos novos profissionais. "Precisamos ensinar nossos alunos a pensar, a refletir e a buscar informações, a estar sempre aprendendo", diz Brenelli, que participa do Centro de Desenvolvimento de Educação Médica (Cedem), ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Nas discussões sobre a formação do médico, é consenso que os cursos de medicina precisam estar atualizados para o perfil do profissional que a sociedade demanda. Tratamentos reativos e episódicos cedem espaço para cuidados contínuos, proativos e individualizados, em que a tecnologia aparece como facilitadora desse processo.
"O médico hoje deve ter uma formação muito além do conhecimento cientificamente validado. Ele precisa desenvolver competências profissionais, habilidades e atitudes", diz Rodrigo Varotti, coordenador da Faculdade de Medicina da FAM (Centro Universitário das Américas). Inteligência emocional, boa comunicação, capacidade de análise e tomada de decisões são algumas delas.
Segundo Varotti, a formação de competências do médico tem como objetivo que ele seja hábil para se aperfeiçoar com o uso das novas tecnologias (inteligência artificial, robótica, tecnologias de imagem de estudo do corpo), mas sem perder a humanidade.
"As diretrizes curriculares colocam como essencial que o médico esteja apto para promover a saúde integral. A formação na graduação tem esse olhar generalista, para que o médico consiga ver o indivíduo e cuidar dele de forma integral", afirma Varotti.
Para Varotti, o olhar focado apenas na doença não é mais suficiente. "É preciso avaliar o indivíduo como um todo. E não apenas o indivíduo, mas a relação que ele tem com a comunidade e com o meio ambiente."
A medicina contemporânea entende a saúde não mais como a ausência de doença, mas como algo que envolve o indivíduo, a comunidade e o meio ambiente — e a relação que existe entre esses três fatores. "Isso é saúde planetária: promover a integração desses três aspectos. E essa é a nossa missão hoje", diz Varotti.
Brenelli acrescenta outra mudança importante no ensino atual da medicina: a interdisciplinaridade. "Começamos a entender que temos que trabalhar em equipe. Não fazemos saúde sem o médico, mas não fazemos saúde só com o médico. Precisamos do fisioterapeuta, da nutricionista, do enfermeiro, do fonoaudiólogo. É preciso uma equipe para fazer saúde."
O professor afirma que, no curso de medicina que será lançado em 2025 no campus Alphaville da Universidade Mackenzie, os diferentes saberes estarão integrados desde o início. "O primeiro curso que os alunos terão, que é de sistema locomotor, vai ser ministrado na maior parte por fisioterapeutas e farmacologistas. Eles precisam entender como se dá o movimento de cada membro, como os ossos e músculos funcionam. O fisioterapeuta traz um olhar muito importante da reabilitação." O desenho do novo currículo conta também com a participação de uma nutricionista, professora da Faculdade de Gastronomia.
TECNOLOGIA E HUMANIZAÇÃO
Os avanços tecnológicos estão cada vez mais presentes nas faculdades de medicina, com anatomia tridimensional, robôs e simuladores. Mas é consenso entre os coordenadores que aprender a usar a tecnologia é tão necessário quanto desenvolver a empatia, a escuta e o acolhimento do paciente.
"A tecnologia é fundamental, mas não é exclusiva. Ela ajuda no treinamento, na aprendizagem, faz evoluir, melhora acima de tudo a segurança do paciente. Mas a empatia, a resiliência e a generosidade também precisam ser ensinadas nos cursos de medicina. Aliás, esta é uma questão bem atual, que envolve a discussão de metodologias de ensino dessas competências e habilidades", diz Brenelli.
Varotti concorda. "A inteligência artificial é basicamente um algoritmo que acumula informações e as interpreta. Quanto maior esse banco de informações, mais precisão na interpretação desses dados. Ela é uma ferramenta muito útil, mas que não substitui o médico. Cabe a ele o olhar, a escuta ativa, o examinar, o enxergar o paciente, seus sintomas e sinais e não apenas a doença, para que consiga realmente oferecer a assistência adequada."
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha