Escolher a escola ideal para o seu filho envolve uma série de fatores. O método educacional e a estrutura para as aulas são pontos fundamentais na hora da definição, mas questões práticas como distância entre casa e colégio devem entrar na equação.
Neste caderno você vai encontrar informações para ajudar nessa importante decisão. Mesmo que o martelo só seja batido no ano que vem, refletir sobre o que você busca para a educação dos seus filhos já antecipa uma parte significativa do processo.
Confira abaixo 10 itens para levar em consideração:
INTEGRAL OU MEIO PERÍODO?
Há pais que, por força das circunstâncias, precisam de uma escola em período integral para os filhos e buscam saber as qualidades que formam os melhores cursos do tipo. E existem os pais em condições de optar e se perguntam se o meio período é mais adequado para o momento, principalmente se a criança ainda é pequena.
A faixa etária e a escolaridade são, de fato, os principais itens de atenção. A partir de 7 anos, é bom observar quais são as atividades oferecidas no contraturno, que complementa o principal, para que seja um tempo propício para ampliação de repertório dos estudantes.
"O período precisa ser preenchido com atividades criativas, diferentes em termos de propostas para que a criança se sinta motivada para ficar na escola. Que garanta tempo de socialização e que não seja só um período de acompanhamento de tarefas escolares", diz Cristina Nogueira Barelli, diretora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades.
No caso dos alunos menores, não é só o conteúdo das atividades que precisa ser observado, mas também qual é o tempo de descanso para as crianças e onde é feito.
"Não tem uma regra sobre o que é melhor, integral ou meio período. É preciso ter clareza das necessidades da família e da criança e saber o que a escola vai oferecer nesse período integral. Mesmo que os pais possam ficar uma parte do dia com a criança, se eles acharem que a escola está oferecendo período rico e interessante para ela, é uma boa opção", afirma Barelli.
LINHA PEDAGÓGICA
Tradicional, construtivista, montessoriana, tendência democrática e Waldorf são apenas algumas das linhas de ensino mais conhecidas presentes em escolas de São Paulo e de outras capitais do país.
Mas pode ser difícil captar o sistema: as distintas pedagogias pegam emprestados elementos umas das outras, e as escolas não seguem a ferro e fogo as propostas originais sem uma necessária adaptação à realidade do cotidiano.
Um caminho para os pais navegarem entre diferentes conceitos é tentar conhecer a rotina do colégio e examinar isso à luz das expectativas que têm sobre como será a vida escolar dos filhos.
"É interessante perguntar como são as lições de casa, como os conteúdos são ensinados, quais materiais pedagógicos são usados, como é a alimentação, como são os horários de recreio e lazer, quais são as atividades culturais que são propostas", diz Cristina Nogueira Barelli, do Instituto Singularidades.
Por meio dessas respostas a escola vai revelar muito de sua proposta pedagógica. "Os pais têm que observar se a proposta da escola está de acordo com aquilo que eles esperam."
No Colégio Palmares, a construção do conhecimento de modo colaborativo é a bússola que norteia o projeto pedagógico. "O estudante é convidado a interagir com o conhecimento e os saberes para que se promova continuamente uma simbiose entre a razão e o sentimento, como estímulo ao espírito investigativo, à criatividade e ao senso crítico para a resolução e enfrentamento de problemas de forma ética e consistente", afirma Julia Kodato, diretora pedagógica do Colégio Palmares.
LOCALIZAÇÃO DA ESCOLA
É quase impossível encontrar uma grande cidade cujos habitantes não estejam atentos aos problemas da mobilidade. O período gasto com deslocamentos pode ser sacrificante para os adultos e tem efeitos ainda piores para crianças e adolescentes, desperdiçando um tempo que poderia ser de qualidade.
"Uma cidade como São Paulo tem problemas muito sérios de mobilidade. É preciso levar em consideração as condições físicas e emocionais da criança para enfrentar esse tempo de deslocamento, e isso está relacionado com a faixa etária", diz Cristina Nogueira Barelli.
É natural, portanto, que o primeiro passo seja buscar no bairro as melhores opções, mas a questão da distância não pode ser o que vai nortear a definição do colégio. "Não se pode escolher uma escola só porque ela fica perto de casa", diz a diretora do Instituto Singularidades.
O ideal é fazer uma lista de escolas candidatas nas proximidades e analisar os outros quesitos relacionados à educação para chegar até a escolha final.
Também é bom observar o histórico de segurança da localização da escola, a movimentação de pessoas e de veículos no entorno e planejar como será estacionar o carro para levar e buscar os filhos.
ENSINO BILÍNGUE
A importância que se dá ao aprendizado de uma ou mais línguas além do português se nota pela expansão das escolas bilíngues nos últimos anos. Inglês e francês são buscados, mas o mandarim começa a despontar dada a ascensão chinesa como "player" internacional.
Para Antonieta Megale, coordenadora da pós-graduação em educação bilíngue do Instituto Singularidades, "é importante que as famílias compreendam a proposta da escola e se atentem a como o ensino bilíngue ocorre na instituição e qual é a proposta de formação da escola?".
Ela também indica observar como a língua adicional integra o cotidiano da escola e a formação dos professores nesse contexto.
Há opções de ensino bilíngue em combinação com outros programas. No colégio Agostiniano Mendel, em São Paulo, alunos do ensino médio podem conciliar as aulas de inglês com as disciplinas eletivas por áreas específicas - "human anatomy", "business law" e "concepts of engineering and technology".
Um outro programa, o High School, para alunos a partir do 9º ano, confere dupla diplomação em parceria com a Texas Tech University nos Estados Unidos.
No Colégio Oswald de Andrade o ensino de línguas adicionais é oferecido de modo a possibilitar que os alunos ampliem sua forma de engajamento e participação e seus recursos, incluindo-os em diferentes contextos. Durante a preparação da proposta do novo ensino médio no Oswald de Andrade foi feita uma consulta aos alunos para mapear quais são as preocupações, os desejos, o que os move e o que acham importante. "O ensino bilíngue foi o que apareceu com mais ênfase. Mais de 80% dos alunos pesquisados viam no domínio da língua inglesa algo que achavam interessante e importante. A partir disso, costuramos propostas para o novo ensino médio de maneira a atender essa demanda", diz Tarso Loureiro, coordenador pedagógico da 3ª série do EM e assessor de Ciências Humanas do Colégio Oswald de Andrade.
NA HORA DA VISITA
O momento de conhecer as instalações da escola candidata muitas vezes é crucial para tomar uma decisão. Uma forma de se guiar nessa visita é conferir se o espaço está coerente com a proposta pedagógica. Ao saber mais sobre as atividades escolares que podem interessar ao futuro aluno, é bom verificar em qual espaço e com que recursos elas serão realizadas.
"Se uma escola está propondo uma metodologia mais interativa entre os alunos, então é preciso checar como essa sala de aula está disposta. Qual é o mobiliário dela para atender a essa proposta? Não adianta dizer que se propõe uma metodologia mais interativa naquela instituição se as crianças estão sempre em fileiras", diz Cristina Nogueira Barelli, do Instituto Singularidades.
Observar a receptividade e a clareza nas explicações de quem recebe os pais e tentar perceber se os alunos parecem à vontade no espaço também são itens que podem dizer muito a respeito de como é uma escola no dia a dia.
No The College of Brazil, escola internacional situada em São Paulo, as instalações incluem playgrounds bem equipados, superfícies emborrachadas e uma clara separação entre as crianças de idades diferentes. "Procuramos todas as oportunidades para aprimorar nossos espaços de ensino e de aprendizagem para as crianças. Neste ano, criamos um espaço coberto para apresentações e música ao ar livre, que será maravilhoso para aulas de música e também eventos para a comunidade", diz Nick West, diretor do The British College of Brazil.
FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS E AMBIENTE ON-LINE
Depois da pandemia e da necessidade de implementação das aulas virtuais, as ferramentas tecnológicas e o espaço on-line ganharam uma nova dimensão no universo educacional. O ensino agora é híbrido, e sala de aula e web se complementam, cada vez mais equivalentes como ambientes de aprendizagem.
Mais do que estar por dentro dos programas tecnológicos mais modernos, uma instituição educacional hoje precisa ter clareza de como a nova realidade do mundo, em que há possibilidade de restrições às atividades presenciais, pode afetar a metodologia de ensino.
"A pandemia já tem uma duração significativa e tem sido de grande experiência para as escolas. É preciso saber o que a instituição incorporou dentro da sua metodologia que tenha sido um avanço para aprendizagem das crianças nesse tempo. E isso engloba muitas coisas: desde ferramentas tecnológicas até outro tipo de abordagem na sistemática de avaliação por notas", afirma Cristina Nogueira Barelli, do Singularidades.
Portanto, perguntar sobre os esforços de adaptação da escola durante a quarentena e como será o procedimento no caso de anúncio de novas medidas de distanciamento dá uma ideia da rotina do aluno nesses novos tempos.
MENSALIDADE
É difícil definir, do ponto de vista dos pais, "quanto vale" um plano e uma estrutura educacional oferecidos por uma determinada instituição. Em tempos de refletir bem antes de se comprometer com novos gastos, um equilíbrio pode ser estabelecido entre o quanto o projeto de ensino dessa escola pode impactar na vida do filho e o quanto o valor pedido cabe no orçamento atual da casa.
Consultores financeiros citam um limite de até 15% dos gastos domésticos para dedicar às mensalidades escolares.
As instituições de ensino têm responsabilidade social, mas precisam levar em conta a necessidade de retorno financeiro para manutenção da efetividade dos serviços prestados. A estrutura dos cursos varia conforme o grau de escolaridade e isso é determinante no valor das mensalidades.
"Uma escola cara não é necessariamente uma escola boa", diz Cristina Nogueira Barelli, do Singularidades. "Esse não deve ser um parâmetro. Os pais podem ver a possibilidade de bolsas de estudos. Cada escola também vai ter uma realidade diferente em relação a isso."
Independentemente do valor, fique atento: a matrícula deve fazer parte da anuidade. Ou seja, o valor pago no ingresso do aluno deve ser descontado do total contratado por um determinado período.
ACOMPANHAMENTO DA VIDA ESCOLAR
Uma vez o aluno matriculado, as atenções se voltam ao que acontece dentro do ambiente do colégio. Como isso é acompanhado pela escola e como os pais podem seguir o que acontece na vida escolar dos filhos?
Fica a cargo da escola observar a integração do aluno à comunidade escolar e como está se dando a interação com outras crianças. Alguns estudantes têm mais facilidade que outros na socialização. A mediação pedagógica entra quando necessário.
Para André Rebelo, coordenador pedagógico do Colégio Vital Brazil, "não há como falar de vida escolar sem socialização. O desempenho de nossos alunos é analisado por uma série de instrumentos: avaliações periódicas, simulados, atividades propostas em sala, discussões e reflexões acerca de temas específicos durante as aulas, entre outros".
Atualmente a avaliação do aprendizado vai além do que apenas provas e notas dizem, e muitas outras habilidades também podem ser observadas. "Quando falamos de desempenho não podemos nos limitar aos resultados das avaliações", afirma Rebelo. "Momentos de orientação profissional e de outros projetos que envolvem dinâmicas de grupo, rodas de conversa, são essenciais para que as interações aconteçam e se fortaleçam."
Questões de pais sobre a evolução do aluno são naturais e saudáveis e muitas vezes reforçam os laços com a comunidade escolar. Essa integração pode ser muito produtiva quando há parceria real e confiança na proposta da instituição. Caso contrário, a participação da família na rotina escolar pode comprometer o desenvolvimento do senso de responsabilidade e da autonomia da criança, segundo Mariana Stockler, mantenedora do Colégio Stockler.
"Quando falamos em acompanhar o aluno, um dos grandes desafios é dar o salto entre a constatação de uma dificuldade e a elaboração de uma estratégia para combatê-la que considere, de fato, as singularidades daquele jovem", afirma Mariana.
ALIMENTAÇÃO
Muitas vezes relegada a um item secundário das questões escolares, a alimentação ganha ainda mais importância conforme se estende o tempo passado dentro do colégio. Líquidos sem açúcar, frutas, carboidratos e proteínas precisam entrar nas refeições para repor perdas de energia em atividades físicas e intelectuais de uma forma saudável.
Conferir se essa proposta está sendo cumprida no cardápio da semana é um excelente começo. Também é importante checar se a escola é responsável pela preparação das refeições ou como supervisiona o trabalho de uma outra empresa na área. É fundamental dentro da alimentação escolar saber se existe acompanhamento por um nutricionista.
Refeições e lanches muitas vezes também são momentos de socialização entre os alunos e um espaço adequado fará diferença nessas ocasiões.
ATIVIDADES EXTRACURRICULARES
Atividades extracurriculares são oportunidades para proporcionar o enriquecimento da criança no tempo em que ela estiver na escola e não apenas para reproduzir o que já aconteceu no período anterior, segundo Cristina Nogueira Barelli, do Instituto Singularidades. "Às vezes pode ser bastante restrito e desmotivador para a criança ficar na escola", diz ela.
Atividades culturais e esportivas, cidadania, meio ambiente e socialização são algumas das áreas exploradas para a programação extracurricular.
Paulo Vieira, coordenador de Esporte e Cultura do Colégio Albert Sabin, em São Paulo, diz que os professores envolvidos nas atividades extracurriculares "buscam, ao elencar os conteúdos, ampliar o olhar do indivíduo sobre si mesmo, transmitir conhecimento técnico e estimular a participação em competições, apresentações artísticas ou Olimpíadas acadêmicas".
Sandra Miessa, diretora-geral do Grupo Unip-Objetivo, cita como exemplo da programação da escola o Jogo dos Hackers - em que alunos se dividem em componentes de computadores e precisam manter os invasores virtuais de fora. Se um aluno anula, sem saber, o estudante "antivírus", o hacker passa a dominar imediatamente o computador dele. É uma atividade que reforça a importância do trabalho em equipe e estimula a cooperação.