No ano em que são comemorados os 50 anos das relações diplomáticas entre Brasil e China, o presidente Xi Jinping faz nova visita ao país como chefe de estado para estreitar as relações comerciais, ampliar investimentos e viabilizar parcerias estratégicas nas áreas de infraestrutura, tecnologia e finanças, entre outras.
Ao longo desses 50 anos, o relacionamento entre os dois países foi crescendo gradualmente. No campo econômico, a China lidera com folga o ranking dos maiores importadores de produtos brasileiros. As exportações para a China equivalem às realizadas para EUA, Argentina, Holanda, Espanha, México, Chile, Canadá e Alemanha somadas.
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A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, à frente dos Estados Unidos. Em 2023, o comércio bilateral entre os dois países atingiu US$ 157,5 bilhões, segundo a ApexBrasil. Um crescimento de mais de R$ 150 bilhões na comparação com 2003, quando foram US$ 6 bilhões.
Já o Brasil é um dos maiores fornecedores de alimentos e insumos minerais para os chineses. Neste ano, o país já exportou US$ 83,4 bilhões de produtos para o país asiático. A soja lidera a lista, gerando US$ 29,9 bilhões, seguida de óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos crus, com US$ 17,52 bilhões. A China, por sua vez, exportou para o Brasil em 2024 US$ 52,9 bilhões. Desse total, US$ 3,09 bilhões foram em automóveis (veja quadro nesta página).
Esses e outros dados comprovam que o mercado entre os dois países pode e deve ser expandido. Um exemplo disso aconteceu em junho deste ano, quando o governo do Brasil assinou um memorando de entendimento para promover o café brasileiro na maior rede de cafeterias da China, a Luckin Coffee, com 16 mil lojas espalhadas pelo país asiático, além da criação de um hub de inovação brasileira em Xangai.
O acordo assinado prevê a compra de cerca de 120 mil toneladas de café brasileiro pela rede chinesa, no valor de US$ 500 milhões. Trata-se de um avanço, se comparado a 2022, quando o Brasil exportou US$ 80 milhões em café, e, no ano passado, US$ 280 milhões.
Ainda em junho deste ano, foi realizado em Pequim o Seminário Econômico Brasil-China. Reuniu mais de 700 empresários brasileiros e chineses, de setores econômicos dos dois países, como indústria, finanças, agronegócio e transição energética.
O Brasil também está entre os principais destinos de investimentos da China. Desde 2007, os chineses aportaram mais de US$ 72 bilhões em investimentos no Brasil, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, sendo que os projetos atualmente em andamento na área de infraestrutura somam mais de US$ 13 bilhões.
Xi Jinping e sua comitiva estarão no país até dia 21 de novembro para uma série de compromissos. A convite de Lula, o líder chinês participará hoje e amanhã, no Rio de Janeiro, da cúpula de chefes de estado do G20, que está neste ano sob a presidência do Brasil. No dia 20, os dois se encontram em Brasília.
Em agosto, em artigo publicado no jornal "China Daily", por ocasião dos 50 anos de aniversário da retomada da diplomacia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância da atuação conjunta dos dois países em nível global. "Para além da densa agenda bilateral, China e Brasil são parceiros de longa data nos Brics, no G20, nas Nações Unidas e em muitos outros fóruns internacionais. Trabalhamos juntos para promover a paz, a segurança e o desenvolvimento. Apoiamos uma reforma da governança global que a torne mais eficaz, justa e representativa dos interesses do Sul Global", disse o presidente brasileiro no artigo.
COMPROMISSOS ESTRATÉGICOS
Entre as áreas que o Brasil busca atrair investimentos chineses estão o desenvolvimento da indústria, energia sustentável, logística e a integração regional sul-americana, entre outras.
Há demandas brasileiras pelo compromisso chinês com transferência de tecnologia, instalação de fábricas no país e o fortalecimento da cadeia de produção, com a finalidade de não restringir o Brasil a apenas mais um mercado consumidor.
O Brasil pretende, com isso, avançar para além da exportação de commodities (a soja é o principal produto do agronegócio brasileiro vendido aos chineses), com mais foco em uma cooperação forte em tecnologia, com produção de chips e software.
Do lado chinês, há interesses estratégicos na América do Sul como fornecedora de alimentos, energia renovável, minérios e insumos industriais. A China quer ser vista na região como alternativa para fornecimento de veículos elétricos, microprocessadores, equipamentos eletrônicos e de telecomunicações, além de tecnologia para a digitalização das cadeias produtivas.
A China tem um programa internacional de suporte e investimento na infraestrutura logística de parceiros comerciais, com objetivo de facilitar o comércio, chamado ‘‘Nova Rota da Seda’’. O Brasil aceita discutir o tema, dada as dimensões territoriais e desafios de integração nacional, embora não necessariamente preveja aderir formalmente ao sistema, o que poderia desagradar a outros parceiros comerciais.
TRUMP
A visita de Xi Jinping ao Brasil, que ocorre duas semanas após a eleição de Donald Trump nos EUA, tem um caráter histórico. Os dois países deverão celebrar uma série de compromissos estratégicos de longo prazo, que viabilizarão investimentos vultosos nas áreas de infraestrutura e no comércio internacional, que vão no sentido oposto a propostas protecionistas que marcaram a campanha eleitoral americana por ampliar a colaboração entre as nações.
Os acordos que serão agora firmados foram longamente preparados por ambos os governos há mais de dois anos. Em 2023, Lula liderou uma comitiva com mais de 50 autoridades e empresários brasileiros para a China, quando foram discutidos cerca de 20 acordos bilaterais em temas como segurança alimentar, combate à fome, energia limpa renovável, tecnologia, satélites para monitoramento de biomas, entre outros.
Em outubro deste ano, Lula enviou uma delegação a Pequim liderada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, para preparar os acordos que serão assinados. A comitiva teve a participação de Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central, além de Celso Amorim, assessor internacional de Lula, e da ex-presidente Dilma Rousseff, hoje à frente do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do Brics.
A instituição financeira, com sede em Xangai, é uma importante fomentadora de projetos de desenvolvimento sustentável e de infraestrutura dos países membros - os originais, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e os que aderiram depois: Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai.
Do lado da China, o chanceler Wang Yi, que integrará a comitiva, disse que as relações entre Brasil e China têm uma oportunidade histórica à frente e que ambos os países são forças importantes para a manutenção da paz, da estabilidade, do desenvolvimento e da prosperidade do mundo.
Na ocasião da visita brasileira, Wang Yi afirmou que ‘‘chegou a hora de China e Brasil realizarem uma cooperação estratégica completa’’, preparando caminho para as parcerias que serão celebradas agora em novembro.
Já Xi Jinping disse, em mensagem encaminhada a Lula em agosto, pela ocasião dos 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países, que Brasil e China têm perspectivas e interesses comuns compartilhados, que deverão ser levados adiante, para fomentar a paz e o entendimento entre os povos.
‘‘A China está disposta a aproveitar o 50º aniversário das relações diplomáticas com o Brasil como um novo ponto de partida para fortalecer continuamente o alinhamento das estratégias de desenvolvimento, aprofundar os intercâmbios e a cooperação em vários campos, adicionar novas dimensões à relação China-Brasil, e trabalhar em conjunto para promover a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado’’, disse Xi na mensagem.
*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha