Minas elimina barragens com segurança e respeito ao meio ambiente

Indústria da mineração promove descaracterização de todas as estruturas a montante do estado; Vale já eliminou nove barragens

​A indústria da mineração vem evoluindo as práticas de gestão de estruturas de disposição de rejeitos, tendo como uma das principais ações a extinção de todas as barragens de rejeitos construídas a montante no estado de Minas Gerais.

Barragens de mineração são estruturas projetadas para conter rejeitos líquidos e sólidos resultantes do processo de beneficiamento do minério. No primeiro momento, é construído um dique de partida. Conforme o volume do reservatório vai sendo preenchido pelos rejeitos e se aproxima da exaustão, são acrescidos degraus, chamados de alteamentos. No método a montante, os alteamentos são realizados sobre rejeitos depositados anteriormente e contra o fluxo de água.

Descaracterizar uma barragem significa fazer com que a estrutura perca suas características de barramento por meio de técnicas de engenharia. Cada estrutura tem suas próprias características e, por isso, as obras necessárias e os prazos para descaracterização variam de uma para outra. "As obras de descaracterização das barragens precisam respeitar um ritmo adequado", afirma Flávio Roscoe, presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). "Mais rápido não é necessariamente mais seguro", completa.

Segundo Roscoe, Minas tem hoje 48 barragens do gênero e todas serão descaracterizadas até 2035 (a maioria estará fora de operação até 2025). Até agora, 17 já foram descaracterizadas.

PLANO DA VALE

Maior mineradora do Brasil e do estado, a Vale tem se dedicado a tornar suas operações mais seguras e sustentáveis. A empresa vem reformulando a gestão de suas barragens em linha com as melhores e mais rigorosas práticas do Padrão Global da Indústria para a Gestão de Rejeitos (GISTM, em inglês), com uma abordagem mais preventiva, focada na segurança das pessoas e cuidados com o meio ambiente. A previsão da empresa é que nenhuma de suas barragens esteja em estado crítico de segurança (nível 3 de emergência) até 2025.

O Programa de Descaracterização da Vale é parte dessa transformação na gestão de barragens e um dos principais pilares para evitar que rompimentos como o da barragem em Brumadinho não aconteçam mais. O Programa foi anunciado em 2019, antes da publicação da legislação referente ao tema.

Desde 2019, das 30 barragens a montante previstas, nove foram descaracterizadas até o momento, sendo seis em Minas e três no Pará. Mais três deverão ser eliminadas até o fim de 2022, todas em território mineiro, quando a empresa terá 40% das suas estruturas a montante eliminadas. "Nosso trabalho é orientado pela segurança, não pelo prazo", declara Frank Pereira, gerente executivo de Engenharia de Barragens da Vale.

A três estruturas com previsão de conclusão das obras de descaracterização neste ano são o Dique 3 da barragem Pontal e a barragem Ipoema, em Itabira (MG); e o Dique Auxiliar da barragem 5, na Mina Águas Claras, em Nova Lima (MG).

Em barragens com nível de alerta 3, o mais crítico, a Vale construiu estruturas de contenção de grande porte para proteger comunidades próximas e dar mais segurança para as obras de descaracterização.

São três barragens nessa situação em Minas Gerais: Sul Superior, na mina Gongo Soco, em Barão de Cocais; B3/B4, na mina Mar Azul, em Nova Lima; e Forquilha III, na mina Fábrica, em Itabirito. As estruturas de contenção têm capacidade para reter os rejeitos, caso haja necessidade. Nos três casos, os habitantes de zonas de risco foram evacuados preventivamente.

"As obras de descaracterização são complexas, com soluções customizadas para cada estrutura e estão sendo realizadas de forma cautelosa", afirma o gerente executivo da Vale. "Reafirmamos nosso compromisso de transparência e atuação focada na segurança das pessoas, cuidando também do meio ambiente", reforça.

Segundo Frank Pereira, entre os modelos possíveis para descaracterizar uma barragem estão o reforço da estrutura, que elimina os alteamentos a montante, e a retirada total ou parcial dos rejeitos, finalizando com o reflorestamento da área. O trabalho também garante estabilidade de longo prazo ao local. Os projetos são acompanhados pelo Ministério Público e órgãos competentes.

As barragens a montante da empresa estão desativadas e estão sob vigilância permanente de três Centros de Monitoramento Geotécnico (CMGs), além de passarem por inspeções regulares de equipes internas e externas.

TECNOLOGIA DE PONTA

Para aumentar a segurança, a Vale vem desenvolvendo novas tecnologias em parceria com fornecedores. Entre elas, a operação remota de tratores, escavadeiras, caminhões e outros equipamentos para executar os trabalhos nas áreas de risco das estruturas. As máquinas são controladas a partir do Centro de Operações Remotas, em Belo Horizonte, em local seguro. As operações de retirada dos rejeitos da barragem B3/B4, em Nova Lima, já ocorrem 100% dessa maneira.

"A equipe de operação de remoção dos rejeitos do reservatório da barragem B3/B4 opera os equipamentos a cerca de 15 quilômetros de distância da estrutura. Com foco e tecnologia, nós colocamos as pessoas em segurança", esclarece Frank Pereira.

A Vale também vem investindo em tecnologias de ponta para reduzir impactos durante a construção de suas obras. Para a estrutura de contenção Coqueirinho, em Itabira, foi usada tecnologia japonesa de tubos metálicos cravados no solo para reduzir vibrações e ruídos. A contenção de 317 metros de comprimento e altura máxima de 13 metros dará mais segurança para as obras de eliminação de mais duas estruturas a montante da companhia.

Outro exemplo, segundo o gerente da Vale, é fruto de parceria com uma empresa holandesa. A mineradora customizou um equipamento de sondagem offshore para realizar sondagens dentro dos reservatórios das barragens e ampliar o conhecimento sobre as estruturas e o material disposto nelas sem riscos para trabalhadores.

"Seguimos determinados a eliminar todas as nossas barragens a montante no Brasil no menor prazo possível, mas reiteramos que a segurança das pessoas vem em primeiro lugar", reforça Frank Pereira.​​