Investir agora na infância é economizar lá na frente. Premiada por conta do programa Família que Acolhe, a prefeita Teresa Surita (PMDB) afirma que priorizar o atendimento às crianças faz parte do seu projeto de transformar Boa Vista na capital número um em qualidade de vida do país. Para isso, o município deve seguir sua vocação natural para a geração de renda e de empregos: o agronegócio. Reeleita com mais de 80% dos votos, Teresa diz que seu projeto é ter o "pé no chão". "A gente jamais vai competir no que é maior, mas a gente pode competir no que é melhor", afirma.
De onde surgiu a ideia do programa Família que Acolhe?
Quando deputada [2011], fui relatora da Lei da Palmada [que prevê o direito de crianças e adolescentes serem educados sem castigos físicos] e fomos a Harvard conhecer alguns projetos de educação. Lá, vi estudos demonstrando que todo desenvolvimento cerebral se dá entre a gestação e os 3 anos de idade. Entendi que o foco para mudar uma geração não é a adolescência e sim a prevenção, desde a gestação. Investir na primeira infância é economizar lá na frente.
O programa está inspirando um projeto do governo federal, o Criança Feliz. Mas é possível realizar esse trabalho nas grandes cidades?
Sim. Basta trabalhar por regiões, como fizemos aqui, usar os equipamentos e a estrutura já existentes voltados para o olhar da criança. Postos de saúde, creches e equipamentos sociais já existem, mas você não pode ter um olhar fechado nessas três áreas. Elas precisam ser integradas. Nós somos a capital com o menor orçamento do país e conseguimos avançar muito. Mas tem de ter vontade política. Numa cidade maior, isso tem de ser prioridade. Olhar para a primeira infância, para os políticos, é perder tempo. Eles vão querer discutir sobre economia, estradas e obras. A criança vira uma coisa só da área social, quando, na verdade, é uma estrutura de vida para sempre.
Qual a abrangência do programa?
A gente não tem como atender a 100% da população, mas focamos na adolescente grávida, que é um problema muito sério na cidade e que já está diminuindo, nas mães do Bolsa Família, nas detentas e na família que está em situação vulnerável. Fazemos muitas parcerias para que possamos melhorar sempre.
A cidade ainda tem muita terra disponível, mas a energia ainda depende da Venezuela.
Sim, mas eu vejo como saída a questão da energia solar, da energia limpa. Como a prefeitura não tem essa capacidade financeira, minha intenção é buscar parcerias e atrair investidores, porque o Estado tem todo esse potencial: uma posição estratégica impressionante, a terra ainda é barata, temos sol 12 horas por dia, e investimos muito em tecnologia. Isso tudo vai compensar o investimento de quem vier para cá. Temos de focar na nossa vocação natural.
A sra. é formada em turismo. Qual o potencial nessa área?
Boa Vista tem inúmeras opções, mas estamos focando muito no turismo de aventura, com o paraquedismo e o kitesurf. Poucas cidades têm isso com essa qualidade daqui. Além disso, cresce muito o turismo de observação de pássaros [são mais de 700 espécies]. Tem a pesca, as cachoeiras. Sem falar no monte Roraima, que é conhecido no mundo todo. E Boa Vista é o ponto de partida para tudo isso.
Como a sra. vê Boa Vista daqui a alguns anos?
Quando eu voltei à prefeitura, em 2013, a cidade estava com muitos problemas. Tívemos de fazer obras de drenagem, arrumar praças, fazer ciclovias... Agora quero focar em outras prioridades e aposto que, em quatro anos, os nossos índices vão melhorar muito. Temos pouco dinheiro -meu orçamento anual é de R$ 670 milhões. Mas o que me inspira é saber do nosso potencial. Boa Vista hoje tem uma situação peculiar nesse cenário de crise. Temos uma cidade com ótima qualidade de vida, que é o que as pessoas buscam. Aqui não há o medo de ser assaltado, nossas escolas são de muita qualidade. A gente jamais vai competir no que é maior, mas a gente pode competir no que é melhor. É esse o meu objetivo: melhorar a qualidade do que a gente pode oferecer.