Obesidade infantojuvenil cresce e preocupa médicos

Problemas graves podem afetar saúde física e mental de crianças e adolescentes acima do peso

Adultos acima do peso sabem bem os riscos de doenças crônicas e graves, como hipertensão e diabetes, que afetam a qualidade de vida e podem ser um fator de alto risco para o agravamento de outras enfermidades. Pouca gente sabe, porém, que esses mesmos problemas podem afetar crianças e adolescentes, em função da obesidade, e estão se tornando cada vez mais frequentes.

Além de diabetes e hipertensão, a obesidade entre crianças e adolescentes pode causar esteatose hepática, a gordura no fígado; gerar problemas ortopédicos em membros inferiores; despertar a puberdade precocemente, com o aparecimento de pelos, crescimento de mama e do órgão genital, em meninas menores de oito e meninos abaixo dos nove anos; e elevar o risco de trombose.

"A obesidade vem aumentando, mas, entre cinco e oito anos, a prevalência é ainda maior. São crianças com risco de desenvolver comorbidades que antes só aconteciam em adultos", afirma a endocrinologista Louise Cominato, coordenadora do Ambulatório de Obesidade Infantil do Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

A essa preocupante lista de problemas de saúde, cujas consequências a criança ou o adolescente vai carregar por toda a vida, há ainda os fatores psicológicos.

Muitas vezes, jovens com obesidade são alvo de bullying. "São várias questões associadas, entre os problemas psicológicos estão a ansiedade e a depressão", destaca. Os transtornos alimentares também fazem parte desse conjunto. "O transtorno mais comum é a compulsão alimentar periódica [ingestão de quantidade grandes de comida], mas vemos agora também anorexia e bulimia. O paciente vai de um polo a outro."

A obesidade pode ter várias causas (veja quadro) e, quanto mais cedo os pais identificarem o problema, menores serão os impactos na vida adulta. A endocrinologista ressalta a importância de os pais manterem a rotina das consultas médicas. "Entre outras coisas, o pediatra pesa e mede as crianças e pode analisar se há obesidade", diz Louise.

Em casa, a endocrinologista destaca dois fatores que podem servir de alerta. "Se a criança perde as roupas muito rápido ou usa um número muito maior do que deveria. Por exemplo, se tem cinco anos e usa o tamanho oito é bom se perguntar: 'Será que ela é só grande?' Há também a acantose, um escurecimento em parte do corpo em que há dobras, como no pescoço, que pode ser sinal de resistência insulínica."

A resistência insulínica é um problema que costuma anteceder o diabetes, quando a quantidade de glicose no corpo está muito alta e o pâncreas fica sobrecarregado.

O tempo gasto diante de telas também merece atenção: não deve ultrapassar duas horas diárias. Adotado durante a pandemia, o ensino a distância fez com que essa permanência subisse consideravelmente. "Já há artigos sobre o aumento de obesidade por conta disso. Um estudo realizado na Filadélfia com crianças e adolescentes comparou dados de junho a dezembro de 2019 e de 2020. A prevalência de obesidade subiu de 13,7% para 15,4%, em todas as faixas etárias."

A médica afirma que existem várias formas de prevenir a obesidade entre crianças e adolescentes. "Nos maiores, evitar o sedentarismo e não oferecer bebidas açucaradas, especialmente as artificiais", diz. Ela alerta ainda que até os sucos naturais devem ser consumidos com moderação pelos pequenos.

Para enfrentar a obesidade durante a adolescência, foi aprovado no ano passado tratamento medicamentoso seguro, que deve ser acompanhado por mudança de hábitos, como alimentação e exercícios físicos. De qualquer forma, a conversa com um médico é fundamental, sendo o primeiro passo nessa jornada.

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