Após anos de estudos e pesquisas em todo o mundo, cientistas chegaram à conclusão de que a nicotina, presente no tabaco, não é a causa dos principais males relacionados ao tabagismo, como câncer de pulmão e doenças cardiovasculares.
Seu uso, porém, não está livre de riscos. De acordo com a Royal College of Physicians, do Reino Unido, a substância causa dependência dentro de um ano após a experimentação com cigarros. "É a nicotina do tabaco que mantém uma em cada quatro pessoas fumando", relata o grupo consultivo sobre tabaco da organização britânica.
Composto orgânico encontrado na folha do tabaco e, em pequenas quantidades, em outros vegetais, a nicotina é uma substância psicoativa que, ao ser absorvida pelo organismo, atua no sistema nervoso produzindo sensação de prazer e relaxamento.
É essa sensação de bem-estar que provoca a dependência, _classificada como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A ciência aponta, no entanto, que a nicotina não é a maior vilã da saúde dos adultos fumantes e, sim, a combustão do tabaco. Quando o cigarro é aceso/tragado, o alcatrão –mistura de milhares de compostos químicos tóxicos – e o monóxido de carbono são inalados e liberados na fumaça.
No relatório US Surgeon General's 2014, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, está descrito como "amplo consenso científico" de que os compostos químicos emitidos na combustão do tabaco queimado são tóxicos e cancerígenos.
Em decorrência dessas novas descobertas científicas, a indústria do cigarro de tabaco decidiu investir em produtos destinado a adultos fumantes que eliminassem a fumaça, caso dos dispositivos eletrônicos para fumar.
Um deles é o tabaco aquecido, que entrega a nicotina ao usuário sem produzir fumaça. O método não queima o tabaco, apenas o aquece.
Alice da Matta Chasin, coordenadora da área de saúde da pós-graduação das faculdades Oswaldo Cruz, avalia que produtos alternativos podem ser úteis na redução de danos para fumantes.
Ela explica que políticas de redução de danos não concorrem com políticas de cessação. "Para aquelas pessoas que irão continuar a fumar, trata-se de uma abordagem complementar."
Após vários países da Ásia e da Europa, os Estados Unidos autorizaram a comercialização do tabaco aquecido.
No Brasil, dispositivos eletrônicos para fumar (a exemplo de vaporizadores e do tabaco aquecido) são proibidos desde 2009. A liberação desses produtos voltou à pauta em audiências públicas coordenadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A professora Chasin entende que o órgão tem uma série de etapas necessárias a cumprir, mas afirma já haver pesquisas que sustentem o tabaco para aquecer como alternativa menos danosa.
Ela também lembra que, embora proibidos, muitos produtos alternativos como os vaporizadores continuam sendo utilizados e podem ser comprados de maneira ilícita, e isso representa risco.
"São produtos que não têm controle sanitário. [No caso dos vaporizadores], pode haver introdução de aditivos". No tabaco aquecido, esse risco inexiste.
Ela concorda com a proibição desses aditivos, como saborizadores e aromatizadores, que podem representar maior risco e tendem a ser mais atraentes a jovens e a quem ainda não fuma.
DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS PARA FUMAR NÃO SERVEM PARA CESSAÇÃO
O primeiro cigarro eletrônico foi comercializado em 2003. No começo, era indicado a quem quisesse iniciar um processo de redução e até cessação do tabagismo. Atualmente, sabe-se que eles não servem para tal finalidade. Contudo, aqueles que entendem ser desejável a sua regulamentação veem os dispositivos eletrônicos para fumar como uma alternativa para o adulto que continua a fumar cigarros, em um contexto de política de redução de danos.
Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil oferece tratamento gratuito para o tabagismo. Eles ocorrem por meio de acompanhamento médico e, entre outras práticas, terapias que usam justamente a nicotina para diminuir os efeitos da abstinência durante o processo.