Exame detecta alto risco de insuficiência cardíaca

Especialmente importante para diabéticos, biomarcador identifica risco de desenvolver insuficiência cardíaca 6 meses antes da internação e permite tratamento preventivo

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Entre elas, a insuficiência cardíaca (IC) é motivo prevalente de internações no Brasil. A IC acontece quando o coração tem dificuldade para bombear o sangue para o organismo. Hipertensão, diabetes, sedentarismo e má alimentação maltratam o coração, que, aos poucos, perde a capacidade de funcionar corretamente e aumenta de tamanho para compensar a necessidade de maior esforço.

O problema não se resume ao crescimento do tamanho do coração ou à falta de fôlego para subir escadas: está relacionado a um alto volume de mortes e debilitações. "É tão grave que um em cada quatro pacientes acaba retornando ao hospital em até um mês depois da alta e mais da metade dos pacientes morrem dentro de cinco anos. A taxa de mortalidade supera a de cânceres como bexiga, mama e próstata", afirma Humberto Villacorta Júnior, professor associado de cardiologia na Universidade Federal Fluminense.

Ameaça para a população em geral, a IC representa um risco ainda maior para os mais de 16 milhões de brasileiros com diabetes. "A insuficiência cardíaca afeta até 30% dos pacientes com diabetes e está relacionada com um aumento no risco de morte de 4 a 8 vezes em comparação com pacientes não diabéticos. Daí a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado", diz Adriana Vassalli, diretora médica da Roche Diagnóstica.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente uma nova indicação do exame NT-proBNP, da Roche, capaz de identificar, de forma antecipada, o risco de pessoas com diabetes tipo 2 desenvolverem a IC. "Estudos comprovam que um aumento acentuado nos níveis do NT-proBNP pode ser detectado em pacientes com diabetes tipo 2 seis meses antes da hospitalização por insuficiência cardíaca. Isso é muito impactante porque nos dá uma janela de atuação. E trata-se de um exame simples, feito por coleta de sangue", explica Villacorta.

Segundo o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, a IC é uma das principais complicações dos pacientes com diabetes tipo 2. "Estudos mostram que o diabetes tipo 1 aumenta em cinco vezes o risco de insuficiência cardíaca em mulheres e 3,4 vezes em homens. Para o diabetes tipo 2, o risco é extremamente elevado: 95% para as mulheres e 74% para homens", completa.

Um paciente com IC pode apresentar cansaço, falta de ar quando faz algum esforço, dificuldade ao andar, edema de membros inferiores ou sensação de falta de ar quando deita. Mas esses sintomas podem ser inexistentes nos quadros mais leves, daí a importância do exame NT-proBNP para a detecção do problema antes de maiores complicações.

O teste NT-proBNP é considerado padrão ouro para diagnóstico de insuficiência cardíaca. Para os especialistas entrevistados, ele possibilita iniciar precocemente o tratamento da insuficiência cardíaca com medicamentos, o que reduz o risco de internações e morte.

"A identificação precoce é importantíssima para que se possa mudar a história da doença, e hoje nós temos como fazer isso. Entre os pacientes com diabetes tipo 2 sem histórico de problemas cardiovasculares, o atraso de um ano no tratamento de prevenção aumenta em 64% o risco de IC", diz Salles.

Villacorta afirma que, no caso de pacientes diabéticos classificados como de alto risco para desenvolver IC e sem história conhecida da doença, foi comprovado que, ao longo de dois anos de acompanhamento intensificado, a taxa de hospitalização ou morte devido a doença cardíaca pode ser reduzida em 65% em comparação com os pacientes que não receberam a mesma atenção médica.