Descrição de chapéu genética

Diagnóstico precoce é chave para reduzir mortes por câncer

Nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer propõe garantir acesso ao cuidado integral

A oncologia é uma das áreas da medicina que mais evoluiu nas últimas décadas. As descobertas no mundo da genética e genômica, o desenvolvimento de tecnologias e protocolos de diagnósticos e novos tratamentos, mais eficazes e menos agressivos, aumentam as perspectivas de cura de vários tipos de câncer e de melhora da qualidade de vida dos pacientes.

Hoje o câncer é a segunda doença que mais mata no Brasil e no mundo. Com o envelhecimento da população, as estimativas são que, em menos de dez anos, a doença será a principal causa de mortes no mundo. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta 20 milhões de casos de câncer e 9,7 milhões de mortes no mundo em 2022. Cerca de 1 em cada 5 pessoas desenvolverá câncer durante a vida.

Entidades e pesquisadores do mundo todo trabalham no desenvolvimento de programas para conter o avanço do câncer e reduzir mortes. "Aliado às estratégias de prevenção, o diagnóstico precoce é decisivo para oferecer ao paciente uma chance maior de cura e aumento de sobrevida, uma vez que possibilita a intervenção em suas fases iniciais, quando o tratamento é, na maioria dos casos, mais efetivo", afirma Daniele Assad, doutora e oncologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.

"No caso do câncer de mama, que é o tumor de maior letalidade entre as mulheres, o rastreamento com mamografia é fundamental para descobrir a doença quando ela não é clinicamente manifesta, possibilitando tratamentos menos agressivos, com maiores chances de cura", completa.

RASTREAMENTO

O diagnóstico nos estágios iniciais da doença é particularmente importante também no caso do câncer de pulmão, o tipo de câncer mais letal no Brasil (considerando homens e mulheres) e no mundo. Segundo dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer), 84% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados nos estágios mais avançados ou metastáticos, em que o tratamento é mais difícil e oneroso e quando a sobrevida em 5 anos fica em torno de 18% (veja quadro).

O Brasil ainda não tem um programa de rastreamento para diagnóstico precoce desse tipo de câncer. Segundo a oncologista Clarissa Baldotto, presidente do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica e diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, o exame ideal para o diagnóstico precoce do câncer de pulmão é a tomografia computadorizada de tórax de baixa dosagem de radiação.

O exame já é usado para o rastreamento da doença nos Estados Unidos, Canadá, China e em países da Europa. "Estudos de rastreamento em população de alto risco demonstraram redução de cerca de 20% da mortalidade por câncer de pulmão. O maior benefício é aumentar a taxa de detecção de doença inicial. Um estudo brasileiro que avaliou 790 pacientes mostrou resultados semelhantes. E o rastreamento de câncer de pulmão é custo-efetivo, segundo análises da população canadense, americana e chinesa", afirma.

Com base nos estudos científicos foi criado em 2023 o 1.º Consenso Brasileiro para Rastreamento de Câncer de Pulmão. O documento foi elaborado em conjunto pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT) e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR).

Diante desse cenário, a farmacêutica Roche se uniu à SBPT, à SBCT e ao Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT) em uma parceria para ampliar o rastreamento do câncer de pulmão no país, tendo como uma das entregas um estudo para avaliar o custo-efetividade do rastreamento do câncer de pulmão. "O estudo tem o objetivo de convencer os gestores de que o rastreio do câncer de pulmão deve ser feito, como acontece com câncer de mama e de colo de útero", diz Clarissa Baldotto. O custo-efetividade é uma forma de avaliação econômica na qual são examinados os custos e a eficácia de programas ou tratamentos de saúde.

AVANÇOS

O diagnóstico e tratamento do câncer têm hoje como aliadas técnicas de análise molecular para identificação das alterações genéticas das células cancerígenas. Os avanços no conhecimento dos mecanismos do câncer refletem não só em diagnósticos mais precisos e em estágios precoces como possibilitam estratégias individualizadas de cuidado.

"No caso do câncer de mama, os principais avanços estão relacionados à descoberta dos subtipos moleculares. A doença é tratada de acordo com as características tumorais", afirma a oncologista Daniele Assad. "Temos também novas formulações que tratam o câncer, inovando a forma de aplicação. Grande parte dos tratamentos oncológicos é endovenosa. A chegada da formulação subcutânea, logo embaixo da pele, trouxe maior comodidade às pacientes sem ser necessário puncionar uma veia.

No caso do câncer de pulmão, Clarissa Baldotto destaca a terapia-alvo, novos medicamentos que tratam características e mutações específicas do câncer, e a imunoterapia, com medicamentos que estimulam o próprio organismo a combater a doença. "Mesmo quando não há possibilidade de cura, os tratamentos avançaram muito e o paciente com câncer de pulmão consegue conviver com a doença com mais qualidade de vida."

MAIS ACESSO

O grande desafio, no entanto, é ampliar o acesso a exames e tratamentos mais modernos e eficazes. Por enquanto, apenas os pacientes da saúde suplementar têm acesso a essas terapias, que ainda não estão amplamente disponíveis para os pacientes que podem se beneficiar.

"Os pacientes do SUS sofrem com a demora do acesso às consultas, tomografia e biópsia e, quando conseguem o diagnóstico, o câncer está em fase avançada ou metastática. Embora haja tratamentos eficazes para essas fases, eles não estão disponíveis na saúde pública", diz Luciana Holtz, presidente e fundadora do Oncoguia, ONG de apoio, informação e defesa de direitos dos pacientes com câncer.

A expectativa é que a aprovação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer e do Programa Nacional de Navegação da Pessoa com Diagnóstico de Câncer (veja quadro) ajude a mudar esse cenário.

"A Política Nacional do Câncer é uma conquista, pois propõe garantir o acesso ao cuidado integral. Ela é uma oportunidade de ter documentadas em lei melhorias tão esperadas, amplamente discutidas por especialistas e pela sociedade. O desafio é garantir que o que está no papel vire prática, que essa lei seja implementada e que tenhamos gestores que olhem para a oncologia mostrando que compreendem o tamanho do problema", afirma.

Segundo Luciana, a criação de um programa de rastreamento para câncer colorretal e câncer de pulmão podem fazer muita diferença. "Precisamos ver na prática que os gestores e tomadores de decisão entendem que o câncer é prioridade, e que os pacientes, hoje, estão pagando com suas vidas, sem acesso a um cuidado integral e efetivo", conclui.

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha