Vacilo no descarte de dados facilita ação de golpistas

Ter atenção na hora de jogar no lixo etiquetas de postagens e notas fiscais, acessar redes em locais públicos e antes de fornecer informações a sites e promoções suspeitas ajudam a evitar fraudes

Relatório da consultoria Statista Research Department mostra que, apenas no segundo trimestre de 2022, ocorreram cerca de 52 milhões de violações de dados de usuários da internet no mundo todo. No combate a essas fraudes e golpes, empresas de tecnologia vêm investindo em prevenção e no desenvolvimento de soluções capazes de garantir que cada pessoa é de fato quem diz ser. O uso da biometria facial, por exemplo, eleva em muito o grau de proteção, mas o cidadão também precisa redobrar seus cuidados, principalmente nas situações mais corriqueiras do dia a dia, como o uso do cartão de crédito ou do celular em lugares públicos.

Segundo Sofia Marshallowitz, especialista em privacidade de dados da Unico, a intenção não é criar pânico, mas levantar a bandeira da necessidade de cuidarmos com mais atenção das nossas informações. "As pessoas em geral precisam entender que pequenos cuidados podem evitar grandes problemas", afirma.

Como exemplo, ela cita o fato de não descartar embalagens de compras feitas pela internet sem retirar as etiquetas e a nota fiscal que as acompanham. "Quantas vezes você prestou atenção nisso?", pergunta, lembrando que ali está um pacote completo de informações pessoais, como nome completo, endereço e CPF, além dos produtos adquiridos. "Existem pessoas especializadas em ‘dumpster diving’, que é a prática de vasculhar lixo de empresas e pessoas para descobrir informações que possam ser utilizadas para golpes e fraudes", explica.

Outra situação comum é abrir documentos pelo celular em locais públicos ou deixar documentos em balcões de hotéis ou hospitais, por exemplo. O risco? Alguém pode estar ali literalmente olhando por cima do seu ombro para registrar essas informações. "O nome técnico desta prática é ‘shoulder surfing‘ e existem especialistas em fazer isso em qualquer lugar público", diz Sofia.

Há ainda algumas brincadeiras de redes sociais que estimulam os usuários a postar fotos de documentos como título de eleitor, carteira de identidade, registro profissional, assinatura, entre outros. "É um perigo e tanto porque, enquanto a pessoa entra na brincadeira pensando que está em um ambiente seguro, um golpista pode estar pronto para registrar essas informações e utilizá-las de forma indevida."

Outros exemplos de descuido com dados pessoais ocorrem quando preenchemos formulários on-line em troca de uma grande promoção ou da promessa de uma vaga de emprego incrível. "O ‘phishing’, que é essa obtenção de dados pessoais por meio de iscas, pode ocorrer tanto pelas redes sociais quanto pelo telefone ou pessoalmente."

A pessoa, por exemplo, pode se deparar com um anúncio de vaga de emprego para trabalhar quatro horas por dia e ganhar R$ 5 mil. Maravilhoso, não é? Aquele dizer popular "quando a esmola é muita, o santo desconfia" faz diferença aqui, mas sem pensar muito, ela preenche o cadastro e entrega todas as suas informações pessoais. Por trás do anúncio, porém, não há emprego algum. O que existe é apenas a intenção de obter esses dados para venda e utilização de forma inadequada.

"O grande perigo é que, normalmente, as pessoas se incomodam quando alguém pede a elas o número do cartão de crédito, porque o processo e o impacto do mau uso são claros, mas não percebem o risco quando fornecem nome, CPF e endereço, por exemplo", ressalta a especialista. "Devemos sempre questionar a necessidade de fornecer qualquer dado pessoal."

O perigo de deixar dados pessoais cair nas mãos de golpistas são muitos e bem variados. O mais conhecido é o estrago financeiro. Alguém que tenha seu nome completo, CPF e endereço, por exemplo, pode conseguir um empréstimo ou solicitar um cartão de crédito em seu nome. "Quando você descobrir, é possível que o estrago financeiro já seja gigantesco e irreversível", afirma a especialista.

Outro risco é o de ser vítima de engenharia social, quando um criminoso coleta informações para se fazer passar por outra pessoa e assim obter informações, favores e acessos privados de forma fraudulenta. Nesse golpe, o golpista pode até se fazer passar pelo seu gerente do banco e induzi-lo a fazer uma transferência bancária indevida, por exemplo.

"Existe ainda o perigo de um criminoso, de posse dos dados pessoais de alguém, perseguir a vítima uma vez que sabe quem ela é, o que faz e onde está", afirma Sofia. "A criatividade de uma mente maldosa abastecida de informações não tem limite", ressalta a especialista. O melhor remédio, nesse caso, é realmente a prevenção. Portanto, a dica é adotar hoje uma atitude mais consciente em relação ao uso e ao fornecimento das suas informações pessoais para evitar dores de cabeça e prejuízos amanhã.