A Base Nacional Comum Curricular prevê a ênfase na alfabetização nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Segundo o documento, ao fim desse período, a criança já deve ser capaz de "ler, com autonomia e fluência, textos curtos, com nível de textualidade adequado." É um ano a menos do que prevê o PNE (Plano Nacional de Educação), que traça a meta de alfabetizar crianças até o final do 3º ano dessa etapa de ensino, quando elas têm oito anos de idade.
Especialistas no tema aprovam a mudança. Eles defendem a capacidade neurolinguística da criança e argumentam que adiantar a alfabetização para os sete anos faz diferença no direito desse pequeno estudante se apropriar das coisas à sua volta. "A gente tem de ter altas expectativas para todos. A educação tem o papel de gerar oportunidades iguais. Se começo a retardar o prazo limite porque acho que a criança só está em condições ao fim do terceiro ano, já estou fazendo com que ela saia perdendo", afirma Claudia Costin, professora visitante de Harvard e ex-diretora de Educação do Banco Mundial.
No Brasil atual, em que a escolarização se tornou obrigatória a partir dos 4 anos de idade, antecipar o processo de leitura e escrita é ainda mais premente, defende a educadora. "A própria Base propõe a educação infantil centrada no brincar, mas com uma intencionalidade pedagógica que vai ajudar no desenvolvimento escolar futuro. Por que não usar essa premissa para acreditar que o aluno de sete anos tem capacidade de ler e escrever?"
Adriana Komura/Estúdio Folha | ||
Ensinar na hora certa
A leitura das competências de letramento e alfabetização que aparecem na BNCC exigem, no entanto, uma interpretação minuciosa e que dê conta da complexidade do tema, ponderam os linguistas.
"Se considerarmos que uma criança alfabetizada é aquela que não só sabe ler e escrever, mas também sabe fazer uso da leitura e da escrita, lendo e interpretando textos, escrevendo textos com razoável qualidade, serão necessários mais anos para que isso ocorra. Na verdade, todos os demais anos do ensino fundamental e médio", afirma Magda Soares, pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG.
A coordenadora da versão 3 da BNCC, professora Ghisleine Trigo Silveira, explica que concentrar os fundamentos do letramento nos dois primeiros anos do ensino fundamental sinaliza que a BNCC enxerga o aluno como a figura principal no processo de aprendizado voltado à reflexão social.
"Nosso objetivo é, antes de tudo, favorecer e estimular o protagonismo dos alunos. E a apropriação das convenções da escrita é requisito para a participação nas mais diversas práticas sociais."
Bruno Nogueira/Estúdio Folha | ||
Fonte: MEC |