Dos alunos que terminam o ensino médio no Brasil, apenas 20% seguem para o curso superior, de acordo com os dados do Censo da Educação Básica. Os outros 80% vão direto para o mercado de trabalho e, atualmente, a maioria deles faz essa transição sem ter recebido formação profissionalizante: apenas 9% das matrículas na rede pública são em cursos técnicos.
Com o novo ensino médio, esse cenário deve mudar. Como a formação profissional é uma das cinco áreas disponíveis na parte flexível do currículo, a oferta de vagas deve aumentar e o formato da educação técnica também ficará mais simples.
Hoje, se o jovem quiser uma formação técnica de nível médio, ele precisa cursar 2.400 horas do ensino médio regular e mais 1.200 do técnico. Com a reforma, o aluno terá um diploma do ensino médio e um certificado do ensino técnico dentro da carga horária regular.
"É um avanço, porque os dados mostram que, na vida real, o estudante acaba o ensino médio e precisa trabalhar. Como hoje a formação é muito abstrata, a inserção inicial desse jovem no mercado de trabalho é muito problemática. Há quem saia da escola sem saber escrever uma carta, calcular uma porcentagem", afirma o economista Haroldo Torres, do Centro Brasileiro de Análise de Planejamento (Cebrap).
Tendência mundial
Capacitar o aluno do ensino médio para o mercado de trabalho - mesmo que ele opte por continuar os estudos em um curso superior_ é a política educacional dos países desenvolvidos e até daqueles em situação econômica similar ao Brasil, como é o caso do México. Lá, 40% dos estudantes fazem ensino técnico. Nos países europeus, o índice passa dos 50% e chega a mais de 70% em alguns deles, como Áustria e Finlândia.
"Vê-se que, quanto mais desenvolvido o país, maior a oferta de ensino técnico", compara Simon Schwartzman, sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. "Quem quiser pode fazer o superior depois, mas o importante é que a escola prepare o jovem para esse mercado que tem carência de bons profissionais."
Adriana Komura/Estúdio Folha | ||
Mercado promissor
O mercado está mesmo aquecido para esse público com formação técnica. Uma pesquisa de egressos do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) aponta que, a cada dez estudantes formados pela instituição, sete conseguem vaga no mercado de trabalho no primeiro ano de formado. O estudo Mapa do Trabalho Industrial 2017-2020, também produzido pelo Senai, mostra que o Brasil terá de qualificar 13 milhões de trabalhadores até 2020 para atender a demanda da indústria.
"Além de assegurar um ingresso mais cedo no mercado, a educação técnica pode ser o primeiro passo de uma profissionalização com potencial para progredir, inclusive sem que o jovem precise parar seus estudos", afirma Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai. "Isso sem contar o quanto a educação profissional é importante para que as empresas brasileiras se tornem mais competitivas."
Na implementação do modelo, só é preciso atenção para não deixar que a "agenda da indústria esteja acima da agenda do jovem", ressalta Torres, do Cebrap. "É natural que uma indústria de açúcar e álcool queira gente capacitada. Mas e se ela fechar? Temos de pensar em uma formação que conecta com o setor produtivo, mas que seja um aprendizado para a vida inteira. O mais importante é aprender temas como raciocínio lógico, trabalho em equipe e práticas de negociação. Essas são habilidades inerentes a qualquer profissão."