Apesar de considerada vantajosa por usuários, a integração de diferentes meios de transporte ainda tem muitos desafios a enfrentar nas grandes cidades brasileiras.
"Quando se fala em integração, ela deve ser não apenas modal (entre os diferentes meios de transporte), mas de informação e tarifária, para que mais pessoas se sintam atraÃdas pelo transporte sustentável", afirma Guillermo Petzhold, coordenador de Mobilidade Urbana do Programa Cidades do Instituto WRI Brasil.
Segundo pesquisa do Datafolha, realizada em parceria com a 99, 79% dos moradores de seis grandes capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador) acreditam que a integração de um ou mais meios de transporte é vantajosa.
O uso de carros por aplicativo é visto pelos moradores dessas grandes capitais como algo que contribui para a mobilidade urbana, segundo 73% dos entrevistados na pesquisa. Os carros compartilhados diminuem os congestionamentos, avaliam 83% dos entrevistados pelo Datafolha. E 86% defendem que o uso de transporte público ou compartilhado deve ser incentivado.
A fisioterapeuta Samara Rosilene dos Santos, 29, usa ônibus, Metrô e carros de aplicativo para se deslocar entre sua casa, no Jardim Imperador, na zona leste, e o trabalho, no centro de São Paulo.
De segunda à sexta, ela pega ônibus de seu bairro até a estação Belém e de lá segue de metrô até o Anhangabaú. Aos sábados, quando a oferta de ônibus é reduzida, ela pega carro de aplicativo até a estação Carrão e de lá o metrô para o centro.
"Também uso aplicativo para sair ou para levar minha mãe ao médico", conta Samara, que não considera ter um carro, no momento, não apenas pelo custo com gasolina e estacionamento, mas por estar economizando para mudar para uma casa nova.
Não gastar com estacionamento está entre um dos motivos que levam à opção por carros de aplicativo e cada um desses carros substitui de 4 a 13 carros particulares.
Pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com a 99, apontou que o uso de carros de aplicativo fez diminuir a demanda por 78 mil vagas de estacionamento somente na Região Metropolitana de São Paulo.
Para Petzhold, uma das soluções para a mobilidade nas grandes cidades pode estar justamente nas vagas ociosas de estacionamento e sua utilização como "mobility hubs" -- espaços em que é facilitada a integração entre um transporte e outro – como, por exemplo, vagas para estacionamento de bicicletas ou baias exclusivas para embarque e desembarque para usuários de carros de aplicativo em shoppings e supermercados.
Segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 48% dos usuários de transporte público levam mais de duas horas apenas para realizar uma integração entre duas linhas de ônibus – um dado que ajuda a entender outro resultado da pesquisa Datafolha: 47% dos usuários reprovam a mobilidade das cidades onde vivem.
Para atrapalhar, faltam informações sobre horários, rotas e tarifas dos diferentes meios de transporte e estÃmulos à integração por meio de descontos no uso de um segundo meio de transporte no deslocamento, como acontece há anos em São Paulo com o bilhete único.
Petzhold acredita que a questão da falta de informação e as dificuldades podem ser vencidas no futuro pelo MaaS (Mobility Access Services), plataformas que reúnem informações sobre os diferentes meios de transporte, mas que também permitem facilidade no pagamento.
"É a mobilidade sem emendas, poder integrar sem ter que sair de um local para outro e sem ter que pagar várias vezes", afirma o especialista em mobilidade.
Justamente por conta da possibilidade de mudança de casa, Samara está cogitando comprar um carro, pois no bairro para onde deve se mudar, ela não observa a mesma oferta de ônibus que no bairro em que vive atualmente. "Se eu gastar mais tempo esperando que atualmente vou ter que pensar em comprar um carro", diz.
"O carro ainda é desejado, pois queira ou não ele é de porta a porta, sem que sejam necessários transbordos e consultas a diferentes meios de informação. Quanto melhor a integração, mais a experiência das pessoas com o transporte melhora ", afirma Petzhold.
Algumas grandes cidades já começam a enxergar essa integração entre bicicleta e carros por aplicativo e os meios de transporte coletivo. Em São Paulo, segundo a plataforma Mobilidados, em 2019, 60% das estações de ônibus, metrôs e trens contam com infraestrutura cicloviária próxima, mas este número cai para 20% nas demais cidades do paÃs.