Seguindo uma tendência global, a procura por veÃculos elétricos vem crescendo de forma consistente no Brasil. São três anos seguidos de alta nas vendas, de acordo com dados da ABVE (Associação Brasileira de VeÃculos Elétricos). Somente no primeiro trimestre de 2022, o aumento foi de 115% em relação ao mesmo perÃodo do ano passado chegando a uma frota atual de 87 mil veÃculos, entre automóveis, utilitários, SUVs e comerciais leves eletrificados, incluindo hÃbridos (HEV), hÃbridos plug-in (PHEV) e totalmente elétricos (BEV). A expectativa é que esse número alcance 100 mil já no final deste semestre, reforçando ainda mais a tendência de alta.
Em sintonia com esse movimento e com o objetivo de estimular ainda mais essa evolução da eletromobilidade no paÃs, oito empresas do setor de mobilidade urbana lideradas pela 99 estão lançando a Aliança pela Mobilidade Sustentável, uma coalizão que pretende ampliar a infraestrutura para elétricos e fomentar o acesso desse tipo de veÃculo no Brasil. Entre as empresas aliadas da 99 estão CAOA Cherry, Ipiranga, Movida, RaÃzen, Tupinambá Energia, Unidas e Zletric.
ConstruÃda por meio do DriverLAB – centro de inovações da 99 que é 100% focado nos motoristas parceiros –, a Aliança pela Mobilidade Sustentável visa beneficiar os motoristas, tornando os veÃculos de matriz energética limpa mais próximos a eles, em termos financeiros e de infraestrutura. "ConstruÃmos a Aliança para deixar esses modelos mais acessÃveis para os motoristas parceiros e para as pessoas que mais precisam deles", afirma Thiago Hipolito, diretor do DriverLAB da 99.
Um dos compromissos da 99 junto a Aliança é justamente lançar 300 automóveis elétricos ainda este ano, com objetivo de chegar a dez mil até 2025 e a 100% da frota até 2030. Outro é zerar a emissão de carbono até 2030. Atualmente, 48% das emissões de CO2 são do setor de transporte no Brasil.
Os benefÃcios justificam a iniciativa. Na comparação direta com veÃculos com motores a diesel e gasolina, os elétricos se mostram mais silenciosos, eficientes, econômicos e, sobretudo, se consolidam como uma alternativa de baixa emissão de poluentes – quase 70% a menos, conforme estudo de 2021 publicado no Conselho Internacional de Transporte Limpo. "Esses automóveis possuem menos impacto ambiental, preservam a saúde das pessoas e ainda reduzem custos com combustÃvel em até 75%", observa Hipolito.
O médico Paulo Saldiva, professor titular de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), demonstra com dados os efeitos dos gases poluentes na saúde da população brasileira. "As estimativas de morte por poluição do ar, cuja maior fonte é veicular, superam a casa de 50 mil pessoas por ano. Os veÃculos elétricos melhoram a qualidade do ar e a eletrificação vai ter um papel importante nesse sentido", afirma.
DESAFIOS NO CAMINHO
Apesar do otimismo com as vendas e das comprovadas vantagens para o meio ambiente, no entanto, não é possÃvel afirmar que o caminho dos elétricos no paÃs seja exatamente suave. Ainda é preciso superar uma série de desafios para que seja possÃvel, de fato, conquistar cada vez mais espaço nas ruas brasileiras.
Um deles se refere à falta de uma rede eficiente de eletropostos. Atualmente, são cerca de 1.250 estações públicas de carregamento no paÃs e a boa notÃcia é que há perspectiva de crescimento. Segundo a ABVE, a previsão é que o número de estações chegue a três mil até o fim deste ano e a dez mil em 2025.
"A infraestrutura de carregamento atual está crescendo e é compatÃvel com a evolução da frota de veÃculos elétricos no Brasil, que ainda é pequena. O problema é que a maioria é de carga lenta, precisamos investir em mais eletropostos de carga rápida e ultrarrápida", afirma Eduardo de Souza, diretor de infraestrutura da ABVE.
"Hoje, há corredores já instalados ou sendo instalados em rodovias do Nordeste (Salvador-Natal), no Sudeste (Rio-São Paulo), Minas Gerais, Paraná (Paranaguá- Foz do Iguaçu), Santa Catarina e interior de São Paulo. Paralelamente, montadoras e empresas de energia estão instalando eletropostos em suas redes de concessionárias nas cidades", diz Souza.
A situação atual, no entanto, ainda limita o pleno uso de quem já possui um veÃculo elétrico, como é o caso do casal Laura Guimarães e Leandro Alves, de Belo Horizonte (MG). Motivados pela redução do impacto ambiental e também pela questão financeira, eles adquiriram dois elétricos – um BEV e um hÃbrido plug-in. Entre a rotina de ir trabalhar e levar os dois filhos à escola, o casal diz ter conseguido uma economia mensal de R$2 mil.
"Estamos encantados com os elétricos, é um novo mundo. Nossos carros anteriores consumiam muito", diz Laura. Segundo ela, o carregamento da bateria dos veÃculos em casa não pesa na conta de luz, mas reconhece a limitação do uso, uma vez que somente as viagens de curtas distâncias são realizadas no BEV, em função da falta de eletropostos.
"Ainda fico com receio de lidar com essa logÃstica de ter de recarregar o carro no meio do caminho. Esse é o motivo de não termos dois carros completamente elétricos. Temos um hÃbrido justamente para viagens de longa distância. O desafio é ter mais postos de abastecimento que possam viabilizar esses trajetos", diz.
MENOS IMPOSTO, MELHOR PREÇO
A ausência de uma polÃtica nacional de eletromobilidade e as distorções tributárias em todos os nÃveis são outras questões que emperram o desenvolvimento do setor. A ABVE defende a isonomia tributária entre os veÃculos eletrificados e os veÃculos convencionais. "Defendemos que todos os eletrificados paguem no máximo 6% ou 7% de IPI, como os veÃculos flex 1.0 a combustão", afirma Souza.
Em relação ao IPVA (Imposto sobre Propriedades de VeÃculos Automotores), atualmente oito estados e o Distrito Federal oferecem algum tipo de benefÃcio para veÃculos eletrificados. O preço é outro fator que, por enquanto, inibe o potencial comprador de um veÃculo elétrico. Os valores começam em R$ 150 mil (podendo superar R$ 1 milhão em certos modelos), principalmente por conta do alto preço da bateria, que responde por cerca de 40% do custo total.
Segundo estudo da Bloomberg NEF, o elétrico só custará o equivalente a um similar a combustão quando o custo médio das baterias ficar abaixo de US$ 100 por kWh. No final do ano passado, esse custo estava em US$ 132. A previsão é que o ponto de virada ocorra entre 2025 e 2026.
ALIANÇA PARA UM FUTURO MELHOR
As metas da 99 para a Aliança pela Mobilidade Sustentável se inspiram em dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: garantir o acesso a fontes de energia limpas e acessÃveis e tornar as cidades e comunidades mais inclusivas e sustentáveis. "Vemos a eletrificação da frota urbana como a única maneira de direcionar nosso futuro para longe das emissões nocivas e do custo cada vez maior dos combustÃveis", afirma Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Energia.
Entre as metas do pacto propostas pela 99, está o aumento da participação dos veÃculos elétricos entre carros novos para 10% das vendas até 2025 – contra o Ãndice atual que é de 2%. "Acreditamos que o Brasil tem todas as condições para atingir números de veÃculos elétricos tão altos quanto vimos em alguns paÃses europeus", afirma Rafael Rebello, diretor de Soluções de Energia & Renováveis da RaÃzen.
A criação de dez mil estações públicas de carregamento em todo o Brasil até 2025 também compõe a lista de principais objetivos da 99 com a coalizão. "São iniciativas como essa que vão fortalecer a mudança de paradigma no cenário brasileiro e estimular o paÃs a desenvolver uma infraestrutura compatÃvel com essa nova forma de dirigir", afirma Ethan Zhang, CEO da marca CAOA Chery no Brasil.
Diretor comercial e franquias Rent a Car da Unidas, Paulo Chequetti ressalta que o acordo pelo avanço da eletromobilidade é também uma forma de valorizar as demandas da sociedade e do mercado consumidor. "A participação na aliança reforça nosso compromisso em ouvir nossos clientes, atender suas necessidades e fornecer uma frota moderna e flexÃvel, atuando como vetor de mobilidade no setor."
A coalizão pretende ainda unir a indústria, estimular o desenvolvimento do ecossistema e envolver cada vez mais parceiros ao longo do tempo, incluindo a iniciativa privada, o poder público e o terceiro setor. "A aliança vem para somar forças. Demonstramos, assim, que os veÃculos elétricos são uma realidade e não mais uma ideia futurista", afirma Pedro Schaan, CEO da Zletric, empresa especializada em soluções para abastecimento de veÃculos elétricos.
"A pauta da sustentabilidade é uma das prioridades da Movida. Temos como meta eletrificar nossa frota em 20% e reduzir em 30% nossa intensidade de emissões de Gases Efeito Estufa até 2030 e essa aliança comercial nos ajudará a unir forças para democratizar, estimular e implementar a cultura do carro elétrico no paÃs, oferecendo soluções de mobilidade que estejam alinhadas à preservação do meio ambiente", ressalta Jamyl Jarrus, diretor executivo de Vendas e Marketing da Movida.
A coordenadora de Energia da Ipiranga Produtos de Petróleo, Gisele Saveriano de Benedetto, destaca a importância do grupo para o futuro da mobilidade urbana, que, segundo ela, precisa ser discutido e construÃdo conjuntamente. "Alianças são necessárias e bem-vindas porque permitem aprendizado rápido e otimização de investimentos."
Para o diretor do DriverLAB da 99, o fato de o aplicativo ter 750 mil motoristas parceiros cadastrados fornece grande escala para incentivar a demanda por carros elétricos e negociar melhores margens de custos de produção. "A gente é capaz de girar toda a indústria e favorecer o consumidor, seja ele condutor de aplicativo ou não", acredita Thiago Hipolito.