Cada vez mais a mobilidade tem ido de uma experiência individual para uma compartilhada. No centro dessa transição está a geração Z (nascidos entre 1997-2010). A indústria automobilÃstica até chegou a projetar que a geração anterior, os millennials (nascidos entre 1981- 1996), levaria à queda nas vendas de carros. Mas, com o tempo, o que se viu é que eles apenas adiaram esses planos até começarem a ter suas próprias famÃlias. Com a geração Z, no entanto, é outra história.
Eles nasceram inseridos na tecnologia e foram os primeiros a adotarem o compartilhamento de carona e a micromobilidade. E já tem poder para mudar a cara da mobilidade urbana: representam mais de 32% da população — maior do que a porcentagem de millennials e baby boomers (1940-1960). Nos EUA, são 40% dos consumidores.
32%
da população mundial é composta por integrantes da geração Z
Segundo estudo da consultoria Allison+Partners, essa geração tem mais consciência social e ambiental. Diferentemente das gerações anteriores, quase 56% desses jovens veem o carro apenas como um meio de transporte e não como algo que faz parte da sua identidade. Até as versões mais tecnológicas, como os carros autônomos, aparecem, no seu nÃvel de interesse, atrás de outras inovações como a realidade virtual e as casas inteligentes.
56%
dos integrantes da geração Z veem o carro apenas como um meio de transporte e não como algo que faz parte de sua identidade
Dados do Detran de São Paulo, por exemplo, mostram redução de 10,5% no número de indivÃduos de 18 a 30 anos que tiraram a carteira de habilitação (CNH) nos últimos seis anos. Enquanto o número total de CNHs no estado cresceu quase 17%, o número de CNHs nessa faixa etária caiu de 4,8 milhões em junho de 2015 para 4,3 milhões no mesmo perÃodo deste ano.
10,5%
foi a redução no número de indivÃduos de 18 a 30 anos que tiraram CNH nos últimos seis meses, segundo o Detran-SP
Para especialistas, é essa a geração que vai ditar as inovações na mobilidade e não necessariamente a rapidez com que a tecnologia chega. Em Madri, por exemplo, a frota de patinetes elétricos cresceu mais de cinco vezes em 2019, chegando a mais de cinco mil — a maior do mundo. Esse crescimento ocorreu principalmente por conta do grande interesse dos jovens por esse meio de transporte, que combina um serviço sob demanda, sustentável e sem trânsito.
Algumas cidades estão mais bem preparadas para essa geração do que outras. Pelo 2019 Generation Z City Index da plataforma de pesquisa de apartamentos Nestpick, Londres está em primeiro lugar. O ranking avalia desde conectividade 5G e digitalização do governo até espaço para coworking e pagamentos digitais. Quando o assunto é mobilidade digital e compartilhada, Paris lidera com 100 pontos. A cidade brasileira mais bem colocada é São Paulo, com apenas 37,17 pontos.
100
é a pontuação de Paris no topo do ranking global 2019 Generation Z Cities quando o assunto é mobilidade digital e compartilhada; São Paulo é a cidade brasileira mais bem colocada, com 37,7 pontos​
Essa nova cultura da geração Z é importante porque abre novas frentes para o planejamento urbano. No estudo da consultoria, quase dois terços desses consumidores estariam dispostos a aceitar um trajeto mais longo se fosse feito em um veÃculo autônomo compartilhado. Enquanto a experiência de deslocamento com um único motorista é geralmente percebida como ruim, prejudicial à saúde e estressante. Isso pode resultar, por exemplo, em menos estacionamentos e mais espaço para embarque desembarque em estabelecimentos comerciais. Ou até mais espaços verdes e faixas exclusivas para outros meios de transporte.
*Reportagem publicada originalmente em https://paraondevamos.com/ e adaptada pelo Estúdio Folha.