A revolução da informação não se limitou à internet: a mobilidade e o transporte nas cidades estão sendo modificados por uma combinação de alta tecnologia e grande circulação de dados. Essa é a base das "Smart Cities", conceito no qual são usadas ferramentas como Inteligência Artificial e a Internet das Coisas (IoT) –sensores que captam e enviam dados de objetos ao nosso redor – para melhorar a eficiência na vida urbana.
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Essa ideia deve pautar as discussões sobre o futuro das cidades nos próximos anos. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) testará ainda em 2021 uma certificação nacional de cidade inteligente. Dentro das quatro normas que definem uma "Smart City", serão avaliados não apenas o uso de tecnologia pelos municÃpios brasileiros, mas também a eficácia dos serviços oferecidos e a qualidade de vida da população. O modelo para os testes nos próximos meses será a cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo.
Uma das inovações que serão analisadas no municÃpio será o MaaS, sigla em inglês para "mobilidade como um serviço" – uma nova forma de pagar e utilizar o transporte. A ideia é integrar os diferentes modais (bicicleta, metrô, motorista de aplicativo, ônibus etc.) em uma só plataforma, oferecida por assinatura como um plano de celular – com opções pré-pago ou pós-pago, entre outras.
Apesar de o selo de "inteligente" ainda ser uma meta para cidades brasileiras, no nosso dia a dia já convivemos com elementos "smart". Em capitais como São Paulo e Curitiba, novos semáforos e sensores de tráfego leem as condições das vias e contribuem para otimizar o fluxo de veÃculos e pedestres. Outro exemplo são os aplicativos e displays nos pontos de ônibus que não deixam mais o passageiro no escuro sobre qual será o tempo de espera.
"Um painel de informação em tempo real já melhora muito a percepção de quem usa o sistema. Se você sabe que a linha chegará em cinco minutos é uma sensação de espera. Se você não sabe a que horas ela vai chegar, parece maior", diz Cristina Albuquerque, gerente de Mobilidade Urbana do instituto de pesquisa WRI Brasil.
Em Belo Horizonte, o app da prefeitura para o serviço de ônibus tem ainda uma funcionalidade voltada à s pessoas com deficiência visual ou baixa visão. Elas podem comunicar com antecedência o motorista de sua linha que irão pegar um ônibus. Uma mensagem aparece no painel do veÃculo informando o motorista sobre o ponto e o nome do passageiro.
A prefeitura de São Paulo criou também um núcleo voltado para criar soluções dentro do conceito de "Smart City". O Mobilab+ (Laboratório de Inovação Aberta), em funcionamento desde 2014, tem como objetivo estimular a inovação nas polÃticas de trânsito e transporte. O programa seleciona startups, oferece espaços de coworking, promove encontros e disponibiliza dados relacionados à mobilidade na capital paulista para buscar novas saÃdas para novos problemas.
E não só do transporte. Em uma crise de saúde como a pandemia de Covid-19, por exemplo, os dados do bilhete único poderiam ser usados para ajudar a Secretaria da Saúde a rastrear um surto de coronavÃrus. O trajeto registrado na passagem de ônibus de uma pessoa infectada ajudaria a localizar possÃveis contágios, combatendo, assim, a propagação de novos casos.
Apesar de esse mundo de grandes possibilidades abrir caminho para melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades, Paulo Zawislak, professor e coordenador do Núcleo de Estudos em Inovação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembra que a tecnologia não é uma panaceia.
"A gente tem que entender o contexto das cidades, onde a tecnologia está inserida. Você tem uma série de questões urbanas anteriores ao conceito de ‘Smart City’ que precisam ser resolvidas no Brasil", diz Zawislak. "O impacto do digital e do sistema inteligente no trânsito precisa se relacionar com problemas de longa data. Temos realmente que criar soluções mais integradas."