Cada vez mais, os aplicativos de transporte individual de passageiros vêm sendo utilizados em determinadas etapas dos trajetos diários dos usuários nas grandes cidades, funcionando de forma integrada a outros meios de deslocamento, como ônibus, trens e metrô.
As razões que levam esses moradores, sobretudo da classe C, a tomarem a decisão de usar o carro de aplicativo no primeiro ou no último trecho de suas jornadas diárias envolvem não apenas a economia, mas também outras razões como o tempo do deslocamento, a logÃstica para fazer a transição de um tipo de transporte para outro, segurança e o conhecimento do usuário sobre a região para onde está indo.
Com o objetivo de identificar quais terminais se consolidam como principais pontos de origem e de destino das corridas solicitadas por aplicativo na Grande São Paulo, a 99 fez um levantamento de mês a mês de todas as suas chamadas.
O terminal Santana, local que reúne um terminal de ônibus e uma estação de metrô na zona norte da capital, ficou em primeiro lugar. Em 8 dos 12 meses de 2020, foi o que mais registrou chegadas e partidas de carros da 99 na comparação com os demais terminais da Grande São Paulo. Este ano, vem se mantendo no topo do ranking desde janeiro.
Uma das explicações para a alta demanda por carros de aplicativo na região é o fato de a zona norte ser a única da capital servida por apenas uma linha de metrô. Tanto que os terminais Armênia, Tietê, Tucuruvi e Carandiru também aparecem nos postos mais altos da lista da 99.
Isso não significa, no entanto, que não exista demanda por carros de app em terminais localizados em outras regiões da metrópole. Os terminais Guarapiranga, na zona sul, e Guilhermina e São Matheus, na zona leste, também surgem como muito demandados como origem ou destino no ranking da 99.
INTEGRAÇÃO MODAL
Moradora do Jardim Hebron, na zona norte, a estudante Manuela Cordeiro de Queiroz, 18, é uma usuária de carro de aplicativo integrado ao transporte coletivo. Quando tem pressa ou nos finais de semana, quando a oferta de ônibus é menor, ela usa o app para ir do metrô Santana até sua casa ou vice e versa, num trajeto de cerca de 30 minutos.
Outro fator importante para a estudante usar o app é a segurança. "Eu também uso o aplicativo quando vou para um local desconhecido, que frequento pouco e não sei bem as linhas de ônibus", afirma. "Nesses casos, vou até o terminal mais próximo do local e de lá peço um carro para me levar até o meu destino", explica.
Assim como Manuela, 79% dos moradores de seis grandes capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador) acreditam que a integração de um ou mais meios de transporte é vantajosa, segundo pesquisa do Datafolha, realizada em parceria com a 99.
"Quando estou a trabalho, só uso carro de aplicativo e metrô. Com a pandemia, aumentou o atendimento na casa das pessoas e, com a alta no preço dos combustÃveis, sai muito mais barato integrar do que usar o carro", diz.
O técnico de informática autônomo Bruno Souza, 33, é outro usuário que tem certeza disso. Ele pesquisava os preços nos apps antes de seguir do metrô Santana para visitar um cliente em outro bairro da região naquele dia. A questão econômica é a que mais pesa na hora de tomar decisão. "Quando estou a trabalho, só uso carro de aplicativo e metrô. Com a pandemia, aumentou o atendimento na casa das pessoas e, com a alta no preço dos combustÃveis, sai muito mais barato integrar do que usar o carro", diz.
Souza fez as contas e afirma que a economia chega a R$ 700 por mês com a opção carro de app + metrô. "Eu até vendi meu carro. Menos estresse e menos custo", garante.
Para Guillermo Petzhold, coordenador de Mobilidade Urbana do Programa Cidades do Instituto WRI Brasil, a opção pelos aplicativos no primeiro ou no último trecho do trajeto não significa necessariamente a substituição do ônibus, mas é fruto de uma análise prática feita pelo usuário a cada deslocamento.
"O metrô, nesses casos, atua como eixo estruturante e o carro por aplicativo faz o papel do serviço alimentador, que leva a pessoa para casa ou de casa para o terminal", diz.
Segundo o especialista, essa integração entre o metrô e carros por aplicativo é uma realidade cada vez mais comum nas grandes cidades. No mundo todo ele observa uma preocupação em integrar as inovações trazidas pelos apps de transporte com o sistema público. "Aos poucos vão surgindo polÃticas públicas em que um modal fortalece o outro, gerando uma mobilidade mais sustentada", explica.
Uma forma de facilitar ainda mais essa integração, de acordo com Petzhold, seria a criação de espaços dedicados nos grandes terminais para os usuários embarcarem e desembarcarem dos carros de aplicativo de forma exclusiva, assim como já acontece em alguns aeroportos.