A mobilidade urbana deve ser pautada por sustentabilidade e coletividade em 2022. É isso o que revelam as seis principais tendências apontadas pelo instituto de pesquisa WRI Brasil e os associados da Cidadeapé, Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo. Nesse contexto, destacam-se a preocupação com emissões de CO², a redução dos deslocamentos e a ampliação das possibilidades de mobilidade para além dos centros urbanos. Confira:
1) Carros, bikes e patinetes elétricos
As vendas de carros elétricos aumentaram 257% em 2021 no Brasil, quando 2.860 veÃculos foram emplacados, resultado quase quatro vezes maior que os 801 vendidos em 2020. Os dados são da Anfavea e – ainda que os números absolutos não sejam tão representativos – já indicam a tendência de busca pela mobilidade com zero emissão de carbono. "VeÃculos elétricos são importantes para alcançarmos essa meta porque, nas grandes cidades, os transportes são responsáveis por 40% a 60% das emissões", afirma Cristina Albuquerque, gerente de Mobilidade Urbana do WRI Brasil.
Para distâncias curtas e congestionadas, o uso de bicicletas e patinetes elétricos também deve seguir em alta. "O ideal, porém, seria que os serviços de compartilhamento não se limitassem apenas à s áreas centrais e estivessem disponÃveis também nas regiões periféricas para complementar a última milha de viagem, responsável pela conexão entre a casa das pessoas e o transporte público", alerta Cristina.
2) MaaS - Mobility as a Service
Esse conceito de mobilidade indica uma grande transformação na nossa relação com os carros. E o que inicialmente pode parecer estranho já é comum em outros segmentos. Para muita gente, por exemplo, o hábito de comprar e acumular CDs e vinis perdeu o sentido na era do streaming. É esse mesmo tipo de mudança que o MaaS deve gerar, fazendo com que carros deixem de ser vistos como "bens". E o entendimento de veÃculo como serviço inclui desde carros por assinatura até plataformas mais complexas que integram transportes públicos e privados – ônibus, metrô e carro compartilhado, por exemplo – e permitem que os usuários paguem pelo total das viagens em uma única conta.
3) VeÃculos por aplicativo
Segundo a lógica do MaaS, os veÃculos por aplicativo, tanto carros como motocicletas, também permanecem em destaque. "A tendência nessa linha é que o transporte por aplicativo seja mais um modal para facilitar o acesso à cidade e possa, junto com a mobilidade ativa, apoiar os diversos percursos dos transeuntes urbanos, assim fomentando a multimodalidade e last-mile", comenta Carolina Guimarães, gerente sênior de PolÃticas Públicas e Pesquisa da 99.
Além disso, há também mais duas tendências para o segmento: melhorar a relação entre veÃculos e quantidade de pessoas transportadas e auxiliar no transporte de pessoas com deficiência. "Todas as iniciativas relativas aos aplicativos precisam ser pautadas pela inclusão", afirma Wans Spiess, diretora de relacionamento da Cidadeapé, representando os associados da associação. "Quanto maior a inclusão, maior será a eficiência do aplicativo", completa
4) Pequenas distâncias e transporte ativo
Encurtar distâncias também é uma tendência de mobilidade no mundo todo. A ideia de "cidade de 15 minutos", cunhada em 2016 por Carlos Moreno, urbanista colombiano e professor na Sorbonne que há mais de 20 anos vive em Paris, propõe um novo estilo de vida urbano em que todas as funções sociais essenciais – ou seja, morar, trabalhar, comprar, estudar e se divertir – possam ser cumpridas percorrendo distâncias curtas, de preferência a pé ou de bicicleta. "A não mobilidade já era uma tendência, e a pandemia comprovou que ela é possÃvel e viável", afirma Cristina, da WRI.
O resultado é mais qualidade de vida para as pessoas e menos emissão de CO² no ambiente. O grande desafio aqui é garantir infraestrutura e equipamentos nas mais diversas áreas da cidade, descentralizando investimentos para além de áreas determinadas, como o centro expandido, em São Paulo.
5) Mais ciclovias e bicicletas compartilhadas
Segundo a Cidadeapé, desde o inÃcio da pandemia o número de viagens feitas com bicicletas compartilhadas aumentou 30%, e o número de novos usuários desses serviços cresceu 41% em São Paulo. No entanto, para que a utilização atinja seu potencial é preciso investir no aumento da malha, principalmente nas periferias, que são desprovidas de vias seguras para pedalar. "Em cidades com as dimensões de São Paulo, onde a enorme maioria das pessoas mora longe dos locais de trabalho, ciclovias estruturadas precisam ser integradas ao transporte coletivo", afirma Wans.
6) Investimento em BRTs
Depois da crise do transporte coletivo gerada durante a pandemia, a tendência é que os investimentos sejam retomados, possivelmente com a proliferação de BRTs (ônibus de trânsito rápido) como tendência. De acordo com Cristina, da WRI, o modelo deve se destacar por ser mais fácil de implementar do que o metrô, utilizar novas tecnologias como veÃculos elétricos e se mostrar mais confortável para os passageiros.