Não faltam holofotes sobre a Amazônia. A maior floresta tropical do mundo coleciona superlativos: abriga a maior bacia hidrográfica (apenas o rio Amazonas tem mais de 10 mil afluentes) e a maior biodiversidade do planeta, expressa em um conjunto de espécies ainda não totalmente desvendadas pela ciência. Infelizmente, ela ocupa parte do noticiário por motivos desabonadores: a floresta segue registrando altos Ãndices de desmatamento que respondem por quase a metade das emissões de gases de efeito estufa do Brasil e colocam forte pressão sobre a fauna e a flora.
Desde 2007, a Amazônia ganhou uma efeméride para chamar de sua: 5 de setembro foi escolhido o Dia da Amazônia como uma forma de trazer consciência sobre a importância do bioma, a complexidade de protegê-lo e, ao mesmo tempo, gerar prosperidade para os quase 30 milhões de brasileiros que ali vivem.
A data remonta à criação da ProvÃncia do Amazonas por dom Pedro 2º em 1850, mas ganha atualidade no momento em que a sociedade se mobiliza pela sua preservação. É preciso um novo olhar para as questões amazônicas, com base na geração compartilhada de riquezas e para que os ativos ambientais sejam alavanca para o social. É legÃtima a demanda da sociedade para que a riqueza da Amazônia beneficie seus moradores, e a redução das agudas desigualdades regionais passa por um compromisso de todos os agentes - poder público, sociedade civil e setor privado.
Há um ano, o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) lançou o Movimento Empresarial pela Amazônia, com o objetivo de estimular nossas empresas a inserir a Amazônia nas suas estratégias de negócios e ajudar o paÃs a cumprir os compromissos climáticos assumidos - entre eles, zerar o desmatamento ilegal até 2028 e alcançar a neutralidade de carbono em 2050.
Para o CEBDS, que acaba de chegar ao marco de cem grupos associados, os negócios são parte importante da equação de proteger o nosso maior patrimônio natural e evitar que a temperatura global se eleve acima de 1,5°C até o fim do século.
Dentro desse objetivo, promovemos na última semana de agosto uma imersão de lideranças empresariais no coração da Amazônia. Levamos um grupo de oito CEOs de grandes companhias, de setores como energia, mineração, saneamento, logÃstica e finanças, para conhecer um recorte da realidade local, partindo de Alter do Chão, no Pará.
É preciso um novo olhar para as questões amazônicas, com base na geração compartilhada de riquezas e para que os ativos ambientais sejam alavanca para o social
Ao criar o Movimento Empresarial pela Amazônia, o CEBDS partiu do pressuposto de que são vastas as oportunidades nas áreas de infraestrutura, conectividade, créditos de carbono e soluções baseadas na natureza. Hoje, a Amazônia gera um PIB de R$ 660 bilhões, que representa 9% do PIB nacional, mas é possÃvel ir além. Ao pisar em seu solo, porém, foi inescapável pensar que não é qualquer negócio que combina com a Amazônia.
A região pode abrigar setores tradicionais, tais como infraestrutura e mineração, desde que mitiguem os impactos sociais e ambientais gerados por essas atividades econômicas. Ao mesmo tempo, é preciso ampliar o olhar para as novas frentes de negócios que fazem sentido na região, como cosméticos, fármacos e alimentos.
A bioeconomia baseada em produtos da sociobiodiversidade local tem sido apontada como um dos segmentos com maior potencial. Segundo estudo do hub Amazônia 2030, entre 2017 e 2019, 64 produtos foram classificados como "compatÃveis com a floresta" e geraram uma receita anual de US$ 298 milhões. Esse valor representa apenas 0,17% dos mercados globais de cadeias agroflorestais.
Além de estruturar esses sistemas produtivos e dar condições para que novas empresas floresçam, é preciso reconhecer e valorizar o "terroir" dos produtos amazônicos, tal qual fazemos com um vinho ou queijo francês. É preciso respeitar o ritmo da Amazônia e de seus povos, um tempo que não condiz, necessariamente, com a lógica apressada do fazer negócios no centro-sul do Brasil. Basta pensar na logÃstica da região, que faz pessoas e mercadorias dormirem nos barcos.
Também é preciso romper com o paradigma de ganhar escala a qualquer custo, porque na Amazônia nem sempre é possÃvel ter escala - mas pode-se agregar valor ao que brota dali, com todas as suas singularidades.
Na Amazônia, o tradicional e o disruptivo podem conviver, desde que se compreenda a lógica da floresta, das chuvas, dos rios, de suas populações e da profunda conexão com o belo que sua exuberância proporciona. Esse é o ponto de partida para a construção de um novo modelo de desenvolvimento para a região, no qual a Amazônia tenha papel central no combate à emergência climática e se torne próspera, inclusiva e orgulhosa de suas vocações.