Artigo: Educação e sustentabilidade como vetores para o progresso

JOSUÉ GOMES DA SILVA
JOSUÉ GOMES DA SILVA - CNI/Divulgação

JOSUÉ GOMES DA SILVA

Empresário e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)

Nas últimas quatro décadas, a indústria de transformação nacional tem encolhido. Esse segmento da indústria chegou a ter 27% de participação no PIB e, atualmente, representa apenas 11%. Essa desindustrialização precoce e acelerada é grave para o país devido à capacidade do setor de dinamizar a economia. Alguns dados comprovam essa importância. A indústria possui efeito multiplicador: a cada R$ 1 produzido são gerados R$ 2,43 na economia. Além disso, possui efeitos positivos sobre o mercado de trabalho, dado que, além de pagar, em média, maiores salários, possui um grau de formalização maior.

A indústria de transformação representa, ainda, 65,1% dos gastos privados em pesquisa e desenvolvimento, com efeitos que transbordam para outros setores da economia e fortalecem o progresso tecnológico. Uma das razões pelas quais o setor está perdendo participação no PIB é o fato de arcar com a maior parcela na arrecadação tributária total, ao redor de 30%, a despeito de representar 11% do PIB.

Para a economia, é fundamental recuperar o tamanho da indústria de transformação. Ela é a portadora do futuro, dada a sua capacidade de inovar. Cabe destacar que, tradicionalmente, esse segmento industrial apresenta uma produtividade potencialmente maior quando comparada com outros setores. Essa relação se deve, principalmente, à intensidade de capital e à presença de economias de escala, que viabilizam a absorção de tecnologia por meio de máquinas e equipamentos, bem como via transbordamentos tecnológicos para outros setores. Contudo, a produtividade do trabalho vem se reduzindo e a indústria está sendo penalizada nesse processo. Ela já chegou a representar quase 50% da norte-americana, mas representa, atualmente, menos de 26%. É menor do que a do México e cerca de um terço da dos países europeus.

Reverter esse processo não é uma tarefa fácil, embora os diagnósticos sejam plenamente conhecidos. As federações das indústrias e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) têm feito um trabalho importante no campo da educação, condição necessária para promover a recuperação do setor. O investimento na área é uma emergência nacional, uma vez que, sobretudo no período pós-pandemia, houve forte regressão educacional. Os impactos desse retrocesso não serão resolvidos de imediato. Logo, é preciso avançar na melhoria dos indicadores do ensino médio e uma das melhores alternativas é valorizar, sobretudo, o itinerário profissional tecnológico.

Precisamos reforçar, também, a importância da educação profissional e tecnológica na sociedade, modalidade de ensino que possui a grande vantagem de associar dois direitos fundamentais: o direito à educação e o direito ao trabalho. Em países como Alemanha, Suíça, Áustria e Holanda, cerca de 50% dos alunos do ensino médio também recebem formação profissional tecnológica. Não é por acaso que tais países apresentam os menores índices de desemprego entre os jovens e as maiores taxas de industrialização dos países europeus que fazem parte da OCDE. No caso brasileiro, no entanto, apenas cerca de 10% dos estudantes matriculados no ensino médio têm acesso ao ensino profissional.

Para o incremento da produtividade é imperativo, ainda, o fortalecimento do acesso ao crédito. Isso porque máquinas e equipamentos modernos são fatores essenciais para o aumento da produtividade. A partir de uma educação de qualidade e capital da fronteira tecnológica, será possível retomar a expansão do setor e da economia como um todo. Caso contrário, continuaremos a ver a produtividade sendo reduzida. No mesmo processo, é fundamental implementar mudanças no modelo atual de tributação visando instituir um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), amplamente adotado pelas principais economias ao redor do mundo. Esse princípio favorece a isonomia, a transparência e a simplicidade, com efeitos diretos sobre a competitividade das empresas e a segurança jurídica.

Temos também amplas possibilidades de sermos líderes em economia verde. A maneira de reindustrializar o Brasil é descarbonizando a economia, o que vem sendo feito por outras nações. O país deve abraçar essa alternativa, pois trata-se de uma oportunidade de desenvolvimento e de sermos líderes mundiais nessas tecnologias, como já ocorre com o etanol e outros biocombustíveis. Podemos exportar diversos produtos de valor agregado para crescer e promover a reindustrialização. Esse processo deve ser conduzido com o desenho políticas industriais modernas, priorizando o progresso tecnológico e a transição para uma economia de baixo carbono.