Indústria quer Brasil líder global da nova economia e da descarbonização

Em documento que pode servir de base para as iniciativas do novo governo, CNI propõe medidas para a reindustrialização do país

CNI elabora Plano de Retomada da Indústria para contribuir com o novo governo federal

CNI elabora Plano de Retomada da Indústria para contribuir com o novo governo federal CNI/Divulgação

A indústria brasileira elaborou um plano estratégico de longo prazo para a retomada do setor industrial com o objetivo de fazer do Brasil um líder global da descarbonização, transição energética, economia digital e provedor de segurança alimentar.

Elaborado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) com base em estudos de diversos segmentos de negócios, o Plano de Retomada da Indústria é uma contribuição para subsidiar iniciativas do novo governo em formação, particularmente já nos cem primeiros dias, e da sociedade como um todo, diz Lytha Spindola, diretora de desenvolvimento industrial e economia da CNI, responsável pelo plano.

Na visão da CNI, a reindustrialização do Brasil, após anos de estagnação, é essencial para o país alcançar uma trilha de desenvolvimento sustentável com justiça social e ainda se inserir de forma competitiva nas cadeias globais que ditarão os rumos do planeta nas próximas décadas.

"O Brasil tem imenso potencial para ser protagonista no processo de descarbonização da economia global", afirma Robson Braga de Andrade, presidente da CNI. "Podemos ser parte da solução das questões climáticas e, ao mesmo tempo, nos integrarmos de maneira competitiva e sustentável nas cadeias globais de valor", completa.

No estudo, a CNI lembra que o país tem 58% do território coberto por florestas, possui a maior disponibilidade hídrica do planeta, com 12% das reservas mundiais. A matriz energética conta com 84% de fontes renováveis. O Brasil é ainda um dos maiores produtores de alimentos do mundo e o segundo maior em biocombustíveis.

Apesar da retração nos últimos anos, a indústria brasileira ainda responde por quase um quarto do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas por um país em um determinado tempo) e mais de dois terços das exportações.

A indústria ainda arcou em 2020 com 38% dos impostos federais, sem contar a contribuição à Previdência Social e o ICMS dos Estados. Para cada R$ 1 que o setor industrial produz, a estimativa é que a economia brasileira como um todo gera R$ 2,43.

Para retomar a trajetória de crescimento, o plano propõe a implementação de uma política industrial moderna que contemple investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento, além de qualificação da mão de obra, com ênfase em tecnologias socioambientais sustentáveis, eficiência energética, geração de energias renováveis e digitalização de processos governamentais.

Tudo isso dentro de uma estrutura robusta de governança para assegurar o bom andamento das políticas e a eficácia das iniciativas. A CNI defende a volta do Ministério da Indústria e Comércio, ponto que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva concordou ainda durante a campanha e que faz parte das áreas de formulação de propostas no governo de transição.

"É preciso que o país transforme suas vantagens comparativas em vantagens competitivas, aproveitando o nosso potencial verde para desenhar políticas públicas que permitam às empresas nacionais consolidar posições de domínio tecnológico em cadeias estratégicas", diz o estudo.

O plano de reindustrialização enumera políticas industriais das maiores economias do mundo e faz diversos diagnósticos de gargalos brasileiros há muito tempo conhecidos, propondo medidas pontuais para resolvê-los.

Entre os pontos destacados está o chamado Custo Brasil: a logística precária, a deficiência na formação dos trabalhadores, a carga tributária que penaliza cadeias mais longas como a da indústria, além do excesso de burocracia e da falta de segurança jurídica, entre outros.

"É importante ressaltar que as propostas da indústria não se baseiam na simples criação de incentivos ou na redução de tributos. Buscam, ao contrário, soluções urgentes para a retomada da produção, sem os gravames que hoje oneram, indevidamente, o investimento, o ciclo produtivo e as exportações", diz o estudo. Leia nas páginas 6 e 7 as propostas para diferentes tópicos.