"Ninguém sabe quanto paga de imposto no Brasil, estamos exaustos desse sistema tributário", disse o relator da reforma tributária na Câmara Federal, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), no inÃcio do debate sobre o tema, na quarta-feira (21), na CNI, em BrasÃlia.
O atual sistema tributário do Brasil é responsável pelo baixo crescimento econômico, limita a oferta de emprego e de renda, aumenta as diferenças regionais, além de tornar as exportações brasileiras e os investimentos muito mais caros no paÃs.
O sentimento de exaustão é disseminado, e a fala teve o apoio dos demais participantes do debate: o presidente do Grupo de Trabalho da Reforma, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), o secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, e o conselheiro da CNI Armando Monteiro.
Para a reforma avançar, na avaliação dos especialistas, é preciso espÃrito público e compromisso com o paÃs. "A gente chama de reforma, mas estamos construindo um novo modelo tributário de padrão mundial. A transição vai servir para minimizar os efeitos que, em tese, poderiam ter nos preços relativos. Eu ainda escuto: ‘deixa como está’, mas eu acho que isso é egoÃsmo, é negar à s futuras gerações um paÃs mais competitivo", explicou Ribeiro.
Padrão internacional
De acordo com o economista Bernard Appy, a reforma tributária dará ao Brasil um sistema de tributação do consumo com as melhores caracterÃsticas do mundo.
O modelo em debate prevê a criação de dois Impostos sobre Valor Agregado (IVA) divididos entre: um nacional, que vai substituir o PIS e a Cofins; e outro subnacional no lugar do imposto estadual, ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), e do municipal, ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza). Além disso, o sistema terá praticamente uma legislação única, ao contrário das milhares de regras, normas e leis espalhadas pelo paÃs. Somente o ISS tem 5.568 leis municipais.
"O modelo IVA tem base ampla de incidência, sobre bens materiais, imateriais e serviços, pegando toda forma de atividade econômica. Na nova economia, a diferença entre bens e serviços está cada vez menos clara", destacou Appy.
Arrecadação centralizada
Conselheiro da CNI, o ex-senador Armando Monteiro afirmou que há consenso da convergência do Brasil para o modelo IVA, bastante difundido internacionalmente, mas frisou a importância de ficar atento para que o relatório da Reforma Tributária não desfigure o novo sistema, voltado para a competitividade.
Armando Monteiro pede atenção para a necessidade de um mecanismo de arrecadação centralizada, que garanta a restituição dos créditos. Dados de 2013 apontam que, à época, havia pelo menos R$ 88,7 bilhões em créditos devidos às empresas e não pagos. "São valores importantes, que entram como custo para as empresas, sem um mecanismo centralizado para arrecadar e devolver o crédito devido. Vamos frustrar as expectativas de não cumulatividade", explicou o conselheiro da CNI.
IMPOSTO SELETIVO
Para Armando Monteiro, é importante também limitar o imposto seletivo à s hipóteses que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) já contempla. "Se ampliarmos a extensão do Imposto Seletivo, alcançando insumos do próprio setor produtivo (combustÃvel, por exemplo), estamos trazendo a cumulatividade de volta, à medida que esse imposto é monofásico e não gera crédito", afirmou Monteiro.
Outra preocupação do setor produtivo é a multiplicidade de alÃquotas. Armando Monteiro disse entender que o trânsito polÃtico exige concessões, no entanto, é importante limitar as concessões. O deputado Reginaldo Lopes concordou. Ele adiantou que o GT (Grupo de Trabalho sobre o Sistema Tributário Nacional) fará como o restante do mundo, com regimes especiais para segmentos como saúde, educação, transporte e alguns itens da cesta básica.
"Quando a gente adotar o IVA, o consumidor vai saber quanto paga de imposto e exercer a cidadania. Hoje, no Brasil, o consumidor não sabe quanto paga de imposto e eu tenho aprendido que muitos empresários também não sabem. É um sistema tão caótico e tão complexo. Visitei uma empresa que, somente no ano passado, aplicou 3,6 mil novas normas sobre cinco impostos. A empresa precisa ter um departamento só para atualizar as normas, pagar o imposto, pensar que a etapa está concluÃda, mas ainda corre o risco de ser autuada. Tem gente que diz: ‘vai votar assim, de supetão, de repente?’ Não. Esse é um debate de 35 anos."
Deputado Aguinaldo Ribeiro, relator da reforma tributária
"O projeto é do Parlamento, mas o governo apoia. O desafio que foi colocado é que, para a grande maioria das empresas, a única exigência para apurar o tributo seja emitir a nota eletrônica na venda. Pronto e acabou. É uma mudança absolutamente radical para quem conhece a bagunça que é o sistema tributário atual. O efeito é muito mais positivo para a economia do que o sistema atual. Quando se incorpora o crescimento trazido pela Reforma na equação chega-se à conclusão de que todos ganham. Todos os setores da economia e todos os entes da Federação."
Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda
"Ao adotar o conceito de crédito amplo, nós resolvemos o problema do resÃduo tributário, a tributação oculta. Nas exportações, nós carregamos um sobrepeso de 7,4% desse resÃduo que não conseguimos limpar. Com o IVA, não existirá essa tributação oculta nem nas exportações nem nos investimentos. O Brasil tem a mais perversa das tributações que é tributar os investimentos, que é algo burro. Nós temos que estimular investimentos. O produto derivado do investimento que deve ser tributado."
Armando Monteiro, ex-ministro e conselheiro da CNI
"É uma reforma estruturante para o paÃs, para o setor produtivo, para a economia brasileira. É uma reforma do Estado, suprapartidária, não é ideológica. Ninguém está inventando nada, o Brasil já inventou demais no sistema tributário, por isso, estamos propondo uma reforma de padrão internacional, de cobrar o imposto só no valor adicionado. Com certeza dará competitividade à economia brasileira e à s empresas nacionais, porque temos perdido para os importados, mas também dará ao paÃs a possibilidade de voltar a ser um exportador de valor agregado."
Deputado Reginaldo Lopes, presidente do Grupo de Trabalho da Reforma Tributária