Países se adaptam à nova realidade da economia global

Nações desenvolvidas lançam políticas industriais para lidar com mundo em transformação: tecnologias, emissões e redução de dependência são prioridades; sem política para o setor, Brasil perde competitividade

Países se adaptam à nova realidade da economia global

Países se adaptam à nova realidade da economia global CNI/Divulgação

A economia mundial passou por rápidas transformações nos últimos anos. Se países e empresas já corriam atrás das tecnologias disruptivas que caracterizam a chamada Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, e de iniciativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a pandemia de Covid-19 fez a digitalização dos negócios avançar anos em meses e expôs enormes gargalos nas cadeias globais de abastecimento. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, em 2022, exacerbou ainda mais as fragilidades nos fluxos internacionais.

O fechamento de portos e fábricas na China por causa da política de Covid zero, congestionamentos de navios, falta de contêineres, interrupção do transporte de cargas na Ucrânia e sanções contra a Rússia tiveram forte impacto na economia mundial. Escassez de semicondutores, fertilizantes, commodities metálicas, combustíveis e até trigo levou ao aumento generalizado dos preços internacionais e à interrupção da produção em diferentes setores.

Só para dar uma ideia, Rússia e Ucrânia respondem apenas por 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global, mas 40% do gás consumido na Europa era de origem russa. Resultado: o preço do combustível aumentou dez vezes em um ano e teve impacto avassalador nas economias europeias.

Nesse sentido, países e blocos mais industrializados redobraram os esforços de fortalecimento de suas indústrias para dar conta das transformações. Entre as iniciativas estão a diversificação de fornecedores, regionalização de cadeias produtivas e investimentos maciços em tecnologia.

Mais do que fortalecer as indústrias, tais ações têm por objetivos reduzir os riscos geopolíticos das cadeias e garantir segurança em áreas como alimentação, saúde, defesa e outras. Os governos atuam como indutores e articuladores, pois são setores de interesse nacional e que contribuem para o crescimento sustentável.

PACOTES

Alguns exemplos são as políticas adotadas pelo governo do presidente Joe Biden, nos EUA. A "Infrastructure Investment and Jobs Act" (Lei de Investimento em Infraestrutura e Emprego) já garantiu US$ 1,2 trilhão em investimentos e prevê mais US$ 547 bilhões em aportes nos próximos anos para projetos de infraestrutura e mobilidade.

A "Chip and Science Act" (Lei de Ciência e Semicondutores) destina US$ 280 bilhões em incentivos para formação, pesquisa, desenvolvimento e produção tecnológica. Além de evitar a escassez de semicondutores, como ocorreu recentemente, os EUA estão em franca competição com a China nesse setor.

Na União Europeia, o projeto "Next Generation EU" destina US$ 917 bilhões para iniciativas de recuperação econômica do bloco no pós-pandemia. Suas prioridades são transição energética, digitalização, crescimento sustentável e inclusivo, saúde, insumos estratégicos, coesão territorial e social e educação.

Na China, o programa "Made in China 2025" prevê a distribuição de US$ 632,2 bilhões em fundos para diferentes áreas como TI, robótica, aviação, engenharia marítima, equipamentos ferroviários, veículos movidos a energia limpa, equipamentos elétricos, novos materiais, biomedicina e máquinas agrícolas.

A Coreia do Sul, por sua vez, lançou o "Korean New Deal 2.0", com um orçamento de US$ 140 bilhões para desenvolvimento de uma economia digital, mais verde e com maiores impactos sociais. Já o Japão orienta suas políticas industriais em "missões" com objetivos de interesse nacional, como o investimento anual de US$ 120 bilhões para atingir a neutralidade de carbono.

Diante desse cenário global, a falta de uma política industrial no Brasil deixa a indústria do país em desvantagem competitiva com as dessas outras economias.