Modalidade EAD amplia acesso ao ensino superior

Expansão veio acompanhada de novos desafios, principalmente relacionados à qualidade dos cursos ofertados

Ao analisar o momento atual da educação básica brasileira, percebe-se que há importantes desafios estruturais que exigem respostas urgentes e articuladas. No ensino superior, a paisagem é um pouco diferente.

Quem procura uma faculdade, encontra diversas opções, tanto na esfera pública quanto na privada. O acesso foi ampliado nas últimas décadas, impulsionado por políticas públicas como o Fies e o Prouni, que democratizaram o ingresso nas universidades.

"De fato, houve ampliação do acesso ao ensino superior. A modalidade EAD ajudou a levar o ensino superior a uma grande parte da população, seja por causa dos custos, porque a EAD é mais barata, seja porque permitia conciliar a educação com o trabalho", diz Cesar Callegari, sociólogo e presidente do Conselho Nacional de Educação.

Uma mulher de pele escura e cabelo grisalho, preso em um coque, está em uma biblioteca segurando um livro aberto. Ela usa uma blusa amarela com bolinhas pretas e um casaco laranja. Ao fundo, há prateleiras repletas de livros de várias cores e tamanhos.
A linguista e escritora Maria da Conceição Evaristo - Focus Pix/Shutterstock / Focus Pix

No entanto, a expansão veio acompanhada de novos desafios, principalmente relacionados à qualidade dos cursos ofertados.

"Infelizmente, diversos cursos oferecidos por instituições particulares não têm a qualidade necessária. Os alunos percebem isso, o que gera a evasão escolar, porque eles acham que o curso não proporciona instrumentos para que o estudante possa participar efetivamente do mercado de trabalho", alerta Callegari.

Outro problema, para ele, é a formação de professores para a educação básica. A situação, diz, é a de um verdadeiro "apagão do magistério".

"Temos uma escassez brava em licenciaturas de matemática, química, física, geografia… Não temos professores suficientes. Tudo isso degrada a qualidade da educação oferecida", afirma.

Para Callegari, a valorização docente teria de ser encarada como um objetivo estratégico para o futuro do país. "O Brasil precisa fazer dois movimentos fundamentais na área da educação: o primeiro é valorizar os milhões de professores que militam na educação básica. Precisam ser valorizados do ponto de vista do salário e da estrutura para que possam trabalhar. Além disso, temos de formar uma nova geração de professores no Brasil. Com cursos em período integral, bolsas de permanência, para que possam se dedicar exclusivamente à sua formação, e, depois, ingressar em uma carreira atrativa."

Já no ensino básico, uma vitória do país foi a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2017, segundo Beatriz Alquéres, gerente-executiva de advocacy do Instituto Ayrton Senna.

"Temos o dever de garantir o mínimo comum de aprendizado entre todas as regiões. É um direito de todas as crianças do país aprender um mínimo de matemática, de língua portuguesa ou de ciências", afirma.

Apesar dos avanços, persistem desigualdades regionais e sociais. Segundo Alquéres, essas desigualdade podem ser observadas em diferentes aspectos, tanto no resultado de aprendizagem (ao final do ensino médio), como na questão da trajetória escolar (nas taxas de reprovação e de abandono escolar).

Além de olhar para a desigualdade entre os estados, é necessário apontar a vista para a desigualdade entre escolas de uma mesma cidade. "Há desigualdade até mesmo dentro de uma mesma escola", alerta Alquéres.

O Todos Pela Educação, por meio de seu departamento de comunicação, avalia que a desigualdade que historicamente persiste no país se reflete diretamente na educação.

Segundo o instituto, estudantes negros, indígenas e de baixa renda enfrentam contextos escolares mais desafiadores, em escolas que ainda carecem de investimentos estruturais e pedagógicos consistentes. As desigualdades étnico-raciais, em especial, têm impacto direto nos índices de permanência e conclusão escolar: jovens negros têm, em média, uma década de atraso no acesso ao ensino médio em comparação aos brancos. Essa desigualdade não é fruto de menor capacidade, mas da ausência histórica de políticas educacionais comprometidas com a equidade racial.

A instituição destaca uma lista de desafios para que a qualidade da educação no Brasil continue avançando.

Entre esses desafios estão: enfrentar essas desigualdades de forma sistêmica e assegurar que a equidade étnico-racial esteja no centro das políticas públicas; investir na primeira infância; implementar uma política de alfabetização efetiva, garantindo que todas as crianças aprendam a ler e a escrever na idade certa; qualificar a formação inicial e continuada de professores; fortalecer a governança educacional, com melhor articulação entre União, estados e municípios; e expandir a escola em tempo integral, uma das formas mais eficazes de reduzir desigualdades e melhorar os resultados de aprendizagem.

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha